Baleia Azul

Aumento do número de casos de Baleia Azul cria pânico e onda de boatos

Mensagem que anunciava morte de crianças mobilizou PM e fechou escolas no interior de Minas

Qui, 20/04/17 - 03h00
Mensagens. Internet é o principal vetor do desafio da Baleia Azul, inclusive na propagação de boatos | Foto: MOISES SILVA – 17.4.2017

A suposta série de ações suicidas do desafio da Baleia Azul tem criado pânico generalizado e uma onda de boatos. Além de duas mortes suspeitas, ao menos quatro casos de jovens que se mutilaram são investigados pela Polícia Civil de Minas por sua relação com o jogo do suicídio. A escalada nos números fez aumentar a atenção dos pais e também o número de chamados na Polícia Militar. Na cidade de Ipanema, na região do Rio Doce, por exemplo, um boato de que uma das tarefas seria envenenar crianças levou pânico aos moradores e motivou os militares a reforçarem o policiamento nas escolas e a comunidade acadêmica a aumentar os cuidados.

Desde que a participação de jovens no jogo ficou conhecida, os boatos têm tomado conta das redes sociais. São listas com tarefas falsas, fotos de jovens mutilados e teorias de que crimes cometidos há meses seriam relacionados ao desafio.

O boato em Ipanema começou na tarde dessa quarta-feira (19), por meio de uma mensagem de WhatsApp. Nela, um participante do jogo afirma que mataria crianças como uma das tarefas. A PM na cidade começou então a receber centenas de ligações e reforçou o policiamento nas escolas. “Foram muitos os pais ligando. A gente está tratando como uma brincadeira de mau gosto, já que a mesma mensagem circulou em outras cidades, mas o autor do boato pegou o nome das escolas da cidade”, afirmou o comandante do município, tenente Bruno Fernandes.

A reportagem de O TEMPO conversou com o diretor de uma das escolas citadas, a Nilo Morais Pinheiro, que tem cerca de 800 alunos. “Assim que recebemos a mensagem, tomamos providências. Fechamos a escola e reforçamos a nossa entrada. Também orientamos professores e alunos para não receber nenhum doce na rua, bem como notificamos a PM”, disse Robson Nogueira

Ataques em massa. Com ou sem a comprovação da ligação com o desafio, pesquisadores defendem que o jogo pode não ter pessoas reais como incentivadores e que ele pode ser, na verdade, uma lenda urbana, que se popularizou e, por consequência, serviu de inspiração para ações reais, como a criação de grupos, mortes e mutilações.

Independentemente da veracidade do esquema, especialistas dizem que é preciso avaliar o alto poder de dano revelado pelo modelo. Thiago Zaninotti, analista da Aker N-Stalker, especialista em segurança digital, afirma que é preciso cogitar inclusive que não haja um humano por trás do desafio, mas sim um robô, o chatbot: “Eles dispõem de recursos poderosos de autoaprendizado e são movidos por algoritmos de engenharia social que estão tornando-se cada vez mais corriqueiros no cibercrime”.

O especialista alega que o Baleia Azul pode estar inaugurando uma nova era dos incidentes de segurança, com ataques de engenharia social em massa que afetam de forma direta e altamente impactante o comportamento do usuário. (Com José Vitor Camilo)

Belo Horizonte

Descartado. O delegado Rodolfo Rabelo Alves acredita que o suicídio de Alexandre Assis Ramos dos Reis, no domingo, tem relação com o término de um namoro, e não com o desafio da Baleia Azul.


Saiba mais

Lei. Diante da repercussão do desafio da Baleia Azul, o deputado federal Áureo Ribeiro (SD) apresentou nessa quarta-feira (19) um Projeto de Lei (PL) que aumenta a pena a quem induzir outro ao suicídio por meios digitais e torna crime o incentivo, pela internet, à automutilação ou à exposição ao perigo.

Mudanças. O PL 7430/2017 altera os artigos 122 e 132 do Código Penal e dobra a pena de indução ou prestação de auxílio ao suicídio, que hoje é de reclusão de dois a seis anos, caso o crime seja cometido via internet.

Repressão. Os responsáveis pelas redes sociais e pelos programas usados pelos grupos do desafio da Baleia Azul afirmaram que estão cientes do jogo, mas, de modo geral, se eximiram sobre os casos.

WhatsApp. Por meio de sua assessoria de imprensa no Brasil, o WhatsApp afirmou que não consegue mediar o conteúdo compartilhado pelos usuários. “Todas as mensagens trocadas via WhatsApp possuem criptografia de ponta a ponta. Isso significa que o aplicativo não armazena ou tem acesso às mensagens, apenas quem manda e/ou recebe é quem consegue ler o conteúdo”, afirmou.

Twitter. O serviço de microblog Twitter explicou que o usuário é responsável pelo conteúdo que publica, inclusive legalmente. “Se alguém encontrar uma pessoa em risco de autolesão ou suicídio, deve buscar assistência de autoridades locais o quanto antes”, disse.

Facebook. A maior rede social do mundo afirmou que não permite a promoção das práticas: “Proibimos conteúdos que promovem ou encorajam o suicídio ou qualquer outro tipo de autoflagelação e também removemos conteúdo que identifique ou ataque sobreviventes ou vítimas de autoflagelação ou suicídio”.


Flagrantes

Pais vão em busca de ajuda para filhos

A família de uma adolescente de 13 anos, de Manhuaçu, na Zona da Mata, desconfia que a tentativa de suicídio da garota na madrugada da última segunda-feira tenha relação com o desafio da Baleia Azul. Uma amiga da menina contou aos parentes que ela “estava no desafio, mas não estava jogando”. A adolescente tomou comprimidos e foi encontrada desacordada pela mãe, em seu quarto. Ela passa bem e está sendo acompanhada por psicólogos.

Conforme relatos de uma tia da vítima que falou sob anonimato, por volta de 2h a mãe ouviu o barulho da filha caindo da cama. Há algum tempo, a família havia percebido que a garota passava grande parcela de seu tempo assistindo a séries e ouvindo músicas. Ela chegou a postar nas redes sociais no domingo à noite que “o suicídio é a melhor opção”. A Polícia Civil vai investigar o caso.

Leopoldina. Na quinta-feira, uma mãe procurou a polícia porque o filho de 18 anos estaria participando do desafio. Ela relatou à corporação que encontrou cortes no braço do jovem.

Ele e a pessoa que o teria induzido a participar do jogo serão ouvidas pela Polícia Civil. (AD)

Atenção, pais

Orientações. A Polícia Civil orienta os pais a manterem proximidade com os filhos, conhecerem a rotina deles e o que eles fazem nas redes sociais e verificarem o tipo de assunto que abordam ou compartilham entre amigos. 

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