Contagem

Bandidos queimam ônibus e deixam carta: 'vai cair um agente por dia'

Bilhete foi entregue ao motorista do veículo e faz referências a supostos maus tratos a presos na penitenciária Nelson Hungria

Sáb, 03/02/18 - 08h15
Segundo a Polícia Militar, os criminosos são conhecidos do bairro e não possuem relação com a Nelson Hungria | Foto: Divulgação / PM

Um ônibus da linha 1280 foi incendiado na madrugada deste sábado (3) no bairro Jardim Riacho, em Contagem, na região metropolitana de Belo Horizonte. De acordo com a Polícia Militar (PM), o motorista do veículo foi rendido por volta de meia-noite em frente a garagem da empresa enquanto aguardava para estacionar o ônibus. Os criminosos teriam deixado um bilhete com o motorista se referindo a supostos maus tratos a presos na penitenciária Nelson Hungria.

Aos militares, o homem, de 32 anos, teria contado que, ao estacionar o ônibus, dois rapazes em uma motocicleta se aproximaram. O condutor teria sido obrigado a pegar o bilhete que prometia promessas de novos ataques a coletivos e postos de gasolina. O texto pede para “parar com a palhaçada” no presídio. "O papo está sendo dado. Se não parar com a palhaçada na Nelson Hungria, a 'oprimissão' (sic), vai cair um agente por dia, vai ser queimado um posto de gasolina por dia e um ônibus por dia", dizia a carta entregue ao motorista do ônibus, que não ficou ferido.

Após o condutor descer e correr, os suspeitos jogaram gasolina dentro do veículo, na parte da frente, e do lado de fora, na traseira. Funcionários ajudaram a apagar as chamas, que danificaram bancos, cortina e a parte externa do ônibus. Segundo a Polícia Militar, os criminosos são conhecidos do bairro e não possuem relação com a Nelson Hungria.

Funcionários da empresa que não quiseram se identificar informaram que o incidente ocorreu a cerca de 150 metros da empresa. O motorista estaria indo estacionar o veículo enquanto fazia o acerto das passagens. Ainda segundo os funcionários, os criminosos jogaram gasolina no motorista.

A carta com as ameaças foi encaminhada para a Polícia Civil, que irá investigar o caso. Até o momento, ninguém foi preso. A Secretaria de Estado de Administração Prisional informou que vai aguardar as investigações da Polícia Civil para se manifestar. Caso se comprove alguma relação com sistema prisional, a secretaria afirmou que fará uma apuração interna para tomar as medidas cabíveis.

Em nota, o Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros Metropolitano (Sintram) informou que o motorista do veículo incendiado passa bem. De acordo com o sindicato, o prejuízo das queimas de ônibus é integralmente arcado pelas empresas e representa cerca de R$ 400 mil por veículo incendiado – podendo variar conforme o modelo do carro.

Ainda segundo o Sintram, para além do ônus às empresas, os atos de vandalismo prejudicam os usuários das linhas afetadas, graças à redução forçada do quadro de horários e até que o ônibus incendiado seja reposto por um novo.

"O Sintram repudia quaisquer ações que coloquem em risco os colaboradores e os usuários do transporte coletivo e reitera que as empresas sempre prestam todo o apoio necessário às vítimas de crimes como esse", declarou o sindicato em nota.

Para o vice-presidente da Associação Mineira dos Agentes e Servidores Prisionais (AMASP), Luiz Gelada, a ação dos bandidos é reflexo do clima violento que tem ocorrido na unidade. "Tem sido tirado diversas regalias. Estava bom demais para eles, tinham celulares e drogas nas celas, eles tinham acostumado com essas regalias e agora se vêem contrariados. Por isso, é importante que tenhamos um aumento do nosso efetivo, para que não seja uma ação isolada e depois tudo volte ao normal", destacou.

FUGAS, ATAQUE A ÔNIBUS E VÍDEOS DOS PRESOS

 O Complexo Penitenciário vem passando por várias ações, entre elas uma operação pente-fino, desde quarta-feira (31). A medida foi tomada após um início de ano bastante conturbado na unidade, que foi palco de uma fuga, motim, ataque a ônibus atribuído aos presos e que teve diversos vídeos divulgados por detentos em 2018.

Na sexta-feira (2), a Polícia Militar de Ibirité, na região metropolitana de Belo Horizonte, prendeu um dos oito detentos de alta periculosidade que fugiram da penitenciária Nelson Hungria, também na região metropolitana, no dia 27 de janeiro. De acordo com a assessoria de imprensa da polícia, Bruno Gustavo Gomes da Paixão, 25, foi preso no bairro Jardim das Flores. Segundo os agentes penitenciários, foi descoberto um buraco na parede em uma das celas na época, durante vistoria, antes do horário de visita.

Dentre os fugitivos estava o traficante Felipe Souza da Cruz, conhecido por Jiraya por usar uma espada para torturar os seus algozes e que adquiria drogas diretamente com a organização criminosa paulista Primeiro Comando da Capital (PCC). Em dezembro, outros três detentos conseguiram fugir da unidade prisional.

No dia seguinte da fuga, um vídeo em que presos denunciavam a suposta opressão praticada pelas autoridades carcerárias passou a circular nas redes sociais. Nas imagens, dois presos encapuzados reclamam sobre falta de água, sujeira nas celas, violência dos agentes e ainda fazem ameaças. Já em outro vídeo, que também viralizou na web, é possível ver o momento em que eles colocam fogo em cobertores dentro de uma das celas.

Na noite do domingo (28), um ônibus foi completamente incendiado por bandidos na avenida João César de Oliveira, em Contagem, na região metropolitana de Belo Horizonte. Antes de fugir, os suspeitos entregaram um bilhete para o motorista exigindo o "fim da opressão" na Nelson Hungria.

Já na segunda-feira (29), um novo vídeo passou a circular nas redes sociais. Desta vez, os presos faziam ameaças até mesmo contra o juiz Wagner Cavalieri, de Execuções Penais na cidade de Contagem.

Além disso, no início do ano, um outro vídeo atribuído a um preso da Nelson Hungria também circulou na web. Nas imagens, um detento avisava para sua 'crush' que em breve sairia e que pretendia encontrá-la.

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