VOTAÇÃO

Bento Rodrigues já tem novo endereço em Mariana

Moradores atingidos pela barragem de rejeitos escolheram terreno para reconstrução do distritos

Sáb, 07/05/16 - 19h48
Votação começou na manhã deste sábado | Foto: ALEXANDRE MOTA / NITRO

As ruas Raimundo Munis, Ouro Fino, Dona Olinda, Conego Veloso e São Bento que ainda são vistas no mapa virtual de Bento Rodrigues terão novo endereço físico. O lugar que vai abrigar essas vias novamente, num vilarejo a ser reconstruído, foi escolhido neste sábado (7), seis meses depois da tragédia que destruiu o distrito de Mariana, na região Central de Minas. A comunidade atingida pode eleger entre três terrenos aquele onde suas casas serão erguidas outra vez. E votaram pelo maior lote, conhecido como Lavoura – de 350 hectares, que está a quase nove quilômetros de Mariana. O local é de fácil acesso e solo de qualidade para plantio e criação animal.

Após um dia inteiro de votação, os moradores de Bento Rodrigues já começavam a imaginar os nomes de suas antigas ruas estampados em placas de novo. Não serão as mesmas vias, mas só de remeterem ao passado que eles perderam já é um presente para acreditar no futuro. O excesso do termo “mesmo” mostrava esse desejo em Antônio Pereira, 46, conhecido como Da Lua. “Queremos o distrito o mais próximo possível do jeito que ele era, com as ruas com o mesmo nome, mesmos tipos de casas, mesmos vizinhos”, disse.

Mas isso só será realidade quando a tragédia do rompimento da barragem da mineradora Samarco tiver completado três anos e poucos meses, em março de 2019. É o prazo previsto para que o distrito, com todas as suas casas, praças e igrejas, seja entregue aos proprietários. Com a definição do terreno, será feito agora um aprofundamento dos estudos – sondagem do solo, qualidade da água – para viabilizar a reconstrução do distrito. Não há, porém, uma data para início das obras.

“Há uma série de etapas ainda, como o projeto urbanístico, os projetos individuais de cada casa. Mas foi acordado com a Advocacia Geral da União o prazo máximo para o fim da reconstrução de três anos, a partir da assinatura do acordo, que ocorreu no dia 2 de março”, explicou o líder da frente de reconstrução pela Samarco, Alexandre Pimenta.

O promotor de Mariana, Guilherme Meneghim, acredita que a escolha do terreno foi o primeiro passo. “Temos um processo de licenciamento ambiental para implementar o empreendimento que pode demorar até um ano, depende da burocracia estatal”.

O terreno Lavoura é de propriedade de uma siderúrgica e a Samarco já está negociando para comprar. Pimenta não informou quanto será investido na reconstrução, mas não tem um limite. “Precisamos definir o projeto com a comunidade, quais serão os equipamentos, como igrejas, escolas, postos de saúde, a serem construídos, e quantas casa”.

O lote escolhido já era a preferência da comunidade por estar mais afastado da cidade, na estrada que dava acesso a Bento. Os moradores tinham a preocupação de ficarem em locais mais próximos e não serem vistos novamente como distritos, mas como um bairro de Mariana. “Acostumamos com essa região. A qualidade da água e do solo desse terreno são melhores. Quem quiser, pode fazer sua plantação no fundo de casa”, disse José do Nascimento de Jesus, presidente da Associação de Moradores de Bento Rodrigues. (Com Lisley Alvarenga)

Lote Lavoura recebeu 92% dos votos

Das 236 pessoas esperadas para escolher o terreno para reconstrução do Bento, 223 compareceram. Dessas, 206 votaram no Lavoura, 92% dos presentes. O terreno conhecido como Carabina – de 140 hectares, a dois quilômetros de Mariana – teve 15 votos. E o lote Bicas – de 280 hectares, a vinte quilômetros da cidade – recebeu dois.

O processo de votação foi realizado pela comissão de moradores, acompanhado por uma consultoria. Antes da seleção dos terrenos, foram realizadas 37 reuniões, quatro assembleias gerais e visitas dos moradores aos lotes.

Auxílio

Até o fim das obras, a Samarco continuará pagando o auxílio moradia de um salário mínimo mais 20% por dependente a todos os moradores atingidos, e o aluguel das casas onde eles estão morando será pago pela empresa até 30 dias após eles receberem os novos imóveis.

Fiscalização

A obra será acompanhada por um Comitê Interfederativo, formado por representantes da União, dos governos de Minas Gerais e do Espírito Santo, de duas prefeituras de cidades mineiras e de um Estado vizinho.

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