A colisão entre um trem da empresa de logística VLI e um ônibus da linha 3270 (Homero Gil/Estação Eldorado), que deixou 12 feridos em uma passagem de nível no bairro Jardim das Alterosas, em Betim, na região metropolitana de Belo Horizonte, nesta terça-feira (19), evidencia um problema que há anos ameaça a segurança de motoristas e pedestres. Diante da série de negativas da controladora da ferrovia de executar obras de transposição em oito trechos da estrada de ferro, a Prefeitura de Betim busca mecanismos para restringir a circulação de locomotivas na cidade a partir do mês que vem.
O secretário de Governo de Betim, Edson Leonardo Monteiro, explica que a proposta inicial é proibir o tráfego das composições nos horários em que o trânsito de Betim é mais intenso. “Queremos que os trens circulem somente entre 22h e 6h. Nosso objetivo é que essa medida entre em vigor em até 30 dias”, afirmou.
De acordo com Monteiro, somente entre janeiro de 2017 e setembro deste ano, Betim acumulou ao menos seis acidentes graves em cruzamentos de ruas com a ferrovia. Em um deles, em outubro de 2018, um idoso morreu atropelado por um trem no mesmo trecho em que o coletivo foi atingido nesta terça-feira. “Em algumas passagens de nível da região central, não há sequer cancelas para orientar os pedestres ou motoristas”, comentou o secretário.
O prefeito de Betim, Vittorio Medioli, explicou que há anos o município tenta negociar com a VLI a construção de cinco trincheiras e três viadutos nas passagens de nível mais perigosas da cidade. Segundo ele, o recurso necessário para as obras, estimado em R$ 240 milhões, viria de um acordo firmado entre a empresa e a União em 2013, que previa obras mitigadoras de riscos decorrentes da concessão das linhas. No entanto, no mês passado, o ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, sinalizou que o dinheiro obtido com as indenizações pela concessão antecipada de ferrovias mineiras deve ser direcionado para a construção da linha 2 do metrô de BH.
“Já tivemos reuniões exaustivas para chegarmos a um acordo, mas a VLI sempre foge de sua responsabilidade, apelando a mudanças constantes de representantes, de propostas. Quando parecia tudo resolvido, a VLI colocou novos obstáculos e pretextos injustificáveis”, criticou Medioli.
A VLI afirmou, por meio de nota, que, investiu, em 2019, R$ 5 milhões na melhoria de sete passagens de nível e seis travessias exclusivas de pedestres. Ainda segundo a empresa, a União é que define como serão usados os recursos provenientes de compromissos firmados com o governo.
Procuradoria vai denunciar empresa
A Procuradoria Geral de Betim prepara uma denúncia contra a VLI para pedir ao Ministério Público Federal (MPF) que diretores da empresa sejam responsabilizados pelas mortes que já ocorreram na ferrovia, além de exigir a execução das obras de transposição nas passagens de nível. “Muitas travessias não são sinalizadas e não atendem à legislação. Por isso, vamos pedir que os diretores pela empresa sejam responsabilizados pelas vidas perdidas”, justificou o procurador Bruno Cypriano.
Questionada sobre as mortes, a VLI informou, em nota, que “promove campanhas para orientar condutores e pedestres sobre a importância de manter um comportamento seguro nos trilhos”.
Sem resposta
ANTT. A reportagem procurou a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), mas o órgão não havia se posicionado até o fechamento desta edição.