Saúde

Busca da magreza: artistas e anônimos adotam Ozempic pra emagrecer

Criado para tratar a diabetes tipo 2, remédio acelera perda de peso, mas tem riscos

Por Anderson Rocha | @andersonro.cha
Publicado em 19 de abril de 2024 | 06:00
 
 
Francisca perdeu 11 kg em três meses: ‘Parei porque não quis emagrecer mais’ Foto: Rodney Costa/ O TEMPO

As “canetas emagrecedoras” têm viralizado nas redes sociais como um método efetivo e rápido para a perda de peso. Elas contêm o Ozempic – nome comercial do medicamento fabricado pela Novo Nordisk, que tem como princípio ativo a semaglutida –, usado para tratar diabetes tipo 2 e que provoca a perda de peso como efeito secundário. Famosos e influenciadores digitais no Brasil e no mundo já admitiram tomar o remédio, como o bilionário Elon Musk, dono do X (antigo Twitter) e Jojo Todynho.

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A procura é tamanha que há escassez global dos produtos injetáveis para diabetes tipo 2, o que tem gerado versões falsificadas de semaglutida, conforme alerta feito neste mês pela Organização Mundial da Saúde (OMS). A alta demanda levanta ainda outras questões de saúde tão preocupantes quanto: a busca pelo emagrecimento à base de remédios em casos não recomendados e o uso indiscriminado do medicamento.

Indicação. O diretor da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), Fernando Valente, explica que o Ozempic, embora não tenha sido criado com a finalidade de emagrecimento, acerta porque aumenta a sensação de saciedade e, por isso, controla a obesidade, que deve ser tratada como uma doença que leva a outras condições graves, como a hipertensão e o diabetes.

O problema da propagação do remédio como “dieta milagrosa” está no uso indiscriminado. “Ele pode ser usado por uma pessoa que tenha acompanhamento médico e faça a progressão de dose conforme a bula. Infelizmente, o que acontece é que muitos compram sem receita, atraídos por preços chamativos, adquirem medicamentos sem procedência conhecida e usam sem precisar”, alertou Valente.

Segundo ele, é preciso diferenciar o tratamento de obesidade do desejo social de emagrecer. “O Ozempic é o remédio mais prescrito atualmente no mundo. Uma pessoa sem indicação, por exemplo, que está com um IMC (Índice de Massa Corporal) ‘normal’, mas que não faz exercício físico, não tem uma alimentação saudável, usa o Ozempic para perder dois ou três quilos porque vai viajar. Esse uso indiscriminado é ruim e pode trazer consequências graves”, ressalta o especialista.

A recomendação da médica Consolação Oliveira, especialista em nutrologia, fisiologia hormonal e medicina ortomolecular, é que o remédio seja usado somente por quem realmente precisa. “O Ozempic deve ser mais usado por quem está com obesidade, aquela pessoa que tem dificuldade para andar, fazer a própria higiene, entrar em um carro. É um medicamento e, como tal, deve ser administrado em pacientes selecionados”, concluiu a médica.

Aposentada fez 80 exames antes de tomar o remédio

A professora aposentada Francisca Maria Cardoso Silva Pinto, de 75 anos, estava com sobrepeso no início deste ano. Com 1,62 m de altura, ela pesava 85 kg. Por isso, procurou uma nutróloga. A médica pediu cerca de 80 exames, que foram feitos pela idosa. Só então veio a recomendação do Ozempic.

“Já tinha ouvido falar desse remédio. Usei por três meses e perdi 11 kg. Parei de usar porque não queria perder mais, senão ficaria muito magrinha”, contou a professora, que afirma não ter tido efeitos colaterais porque começou a usar a “caneta” injetável com uma dose bem baixa e com aumento gradativo. 

Francisca completou que o remédio tirou o apetite e, com isso, ela acabou reaprendendo a comer. “Fiquei mais disposta, então é vantagem. Perdi aquela vontade de ficar comendo toda hora”, disse. A idosa também relatou que faz cerca de 20 minutos de esteira em casa por dia para evitar a volta dos quilos perdidos.

No topo. As buscas por Ozempic aumentaram 91% no primeiro semestre do ano passado, segundo a plataforma especializada em fármacos Consulta Remédios.

Novo remédio. O Ozempic fez tanto sucesso que a dona da patente (Novo Nordisk) criou o Wegovy, com a mesma substância, mas em dosagem diferente, voltada para a perda de peso. O Wegovy foi aprovado pela Anvisa em 2023, mas não tem data para chegar ao Brasil, segundo a farmacêutica.