Alerta

Busca da magreza: fármaco falso é vendido, mas pode até matar

Uso de Ozempic ou de outro fármaco do tipo pode causar vômito, alterações de humor e até efeitos mais graves, como pancreatite aguda

Por Anderson Rocha | @andersonro.cha
Publicado em 19 de abril de 2024 | 06:00
 
 
Na internet, anúncios de semaglutida manipulada e bem mais baratas do que a original têm atraído pessoas Foto: Reprodução/ Google

A semaglutida – princípio ativo do Ozempic – provoca a perda de até 13% do peso em 12 meses, segundo a bula. “Mas, a depender do caso, conseguimos potencializar isso para dois ou três meses, desde que o paciente melhore a alimentação e faça atividade física”, afirmou a nutróloga Laíza Alvarenga, especialista em emagrecimento em BH.

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O uso é seguro, contanto que o paciente seja acompanhado por um médico e passe por exames, como bioimpedância – que afere o percentual de gordura em cada parte do corpo –, além de urina e sangue – hemograma completo, colesterol, glicemia, prolactina, vitamina B12, ferro, entre outros.

Um risco inerente à perda intensa de peso, independentemente se ela é provocada por remédio ou outro método radical, é a pancreatite aguda, ou seja, a inflamação súbita do pâncreas, que pode ser fatal. Por isso a importância de a dose ser individualizada e estudada por médico que trata o paciente.

O acompanhamento ajuda também a evitar efeitos colaterais. “Como o Ozempic amplia a saciedade, a pessoa pode sentir náusea, vômito, digestão mais lenta, além de fadiga, alteração de humor e constipação intestinal. Todos eles, porém, são bem manejados pelo médico, que ajusta a dose e consegue evitá-los”, disse a médica nutróloga e psiquiatra Angela Vianello.

Em alguns casos, mesmo com o auxílio de um especialista, o organismo pode não se adaptar ao remédio e o seu uso poderá ser interrompido pelo médico. Foi o caso do youtuber de BH Leônidas (nome modificado a pedido), de 31 anos. Após um princípio de obesidade – quase 110 kg, para 1,74 m de altura –, ele buscou uma nutróloga e começou a usar o Ozempic. “Procurei o que foi mais fácil e rápido, mas me arrependi”, conta.

O medicamento gerou resultados: ele perdeu 9,5 kg em quase 70 dias, sem exercícios físicos. Mas, em contrapartida, os efeitos colaterais no humor e na digestão o fizeram interromper o tratamento. “Não recomendo o Ozempic para ninguém. Depois dele, entendi que a perda de peso não é tão fácil. Ingressei em treinos aeróbicos e musculação, acompanhado de personal, além de nutricionista”, relata.

Fármaco falso é vendido, mas pode até matar

A Organização Mundial da Saúde (OMS) emitiu um alerta em janeiro deste ano sobre o aumento da falsificação dos remédios Ozempic e Wegovy. No Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) já reconheceu três lotes falsificados. Na internet, anúncios de semaglutida manipulada e bem mais baratas do que a original têm atraído pessoas na ânsia pelo emagrecimento.

Médicos reforçam que o uso de versões diferentes da original, que é patenteada – de venda exclusiva – pela empresa Novo Nordisk até 2026, pode trazer sérios danos à saúde.

“Farmácias estão disponibilizando semaglutida manipulada para ser administrada via nasal, oral, em adesivo. Tudo isso não tem aprovação nem estudo clínico. Toda semaglutida manipulada é fora da lei, falsificada”, disse Fernando Valente, diretor da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD). Segundo ele, o uso indiscriminado pode até matar.

“A semaglutida pode estar contaminada com outras substâncias ou a dose pode estar errada. Como resultado, tivemos relatos de pessoas que tiveram hipoglicemia grave (baixo açúcar no sangue) e convulsões. As pessoas podem até morrer por causa disso”, explica.

O que diz a Novo Nordisk

A Novo Nordisk informou que não registrou efeitos adversos críticos relacionados ao Ozempic e que o uso para emagrecimento não é promovido pela empresa, já que o remédio é autorizado para o tratamento de diabetes tipo 2. Por fim, a farmacêutica declarou que não autoriza nenhuma farmácia de manipulação ou fabricante a usar semaglutida.

Efeito rebote existe, seja com remédio ou dieta restritiva

A perda de peso pode ser em vão? “O rebote existe. Se você voltar a comer igual antes, vai voltar a engordar, independentemente se a perda foi com medicação ou dieta restritiva”, explicou a nutróloga Laíza Alvarenga, especialista em emagrecimento. Segundo a médica, o “segredo” é a mudança de hábitos alimentares, de modo a diminuir o consumo calórico e priorizar a comida de verdade.

Para apoiar no processo de perda de peso, Laíza recomenda o Ozempic para pacientes que se encaixam na necessidade do remédio. Tudo apenas mediante realização de exames. “O paciente vê os resultados mais rápido (com Ozempic) e isso ajuda a mudar o estilo de vida. Quando não obtemos o resultado rápido, desanimamos”, afirmou a especialista, que já chegou a pesar 140 kg e passou por uma bariátrica há uma década.