Injúria racial

Cabeleireira é agredida e chamada de 'macaca' por advogado em BH

Homem de 70 anos foi liberado pela Polícia Civil depois de pagar fiança no valor de R$ 1.000,00

Por Ailton do Vale
Publicado em 20 de março de 2017 | 19:25
 
 
Taciane trabalha no Instituto Todo Black é Power Reprodução/Facebook

A cabeleireira Taciane Cristina Souza Pires, de 28 anos, do Instituto Todo Black é Power (ITBP) – um espaço em Belo Horizonte dedicado à valorização da estética negra –, foi agredida com um tapa no rosto e chamada de "macaca" por um advogado, de 70, na tarde desta segunda-feira (20), quando ela entrava em um ônibus da linha 3503, na rua dos Caetés, no centro da capital.

“Eu estava subindo os degraus do ônibus no momento em que fui surpreendida por esse homem. Ele puxou meu cabelo, bateu na minha cara, me chamou de 'macaca' e de 'horrorosa'. Simples assim. Olhei para trás assustada e ele ainda disse que não gostava do meu cabelo afro e que se me pegasse na rua, [a agressão] seria pior”, relembra Taciane.

Revoltadas com o ataque do advogado, pessoas que passavam pelo local e passageiros do ônibus seguraram o agressor, que tentou fugir ao pedir um táxi. “O povo queria linchá-lo ali mesmo. Tentaram agredi-lo, mas eu não deixei. Estamos falando de um senhor de 70 anos”, ressalta a vítima.

Após ser solto pelos homens que o seguravam, o advogado seguiu em direção à praça Sete onde tentou pegar um outro táxi, mas foi seguido por Taciane e seu irmão, que apareceu durante a confusão para protegê-la. Os dois acionaram a Polícia Militar (PM), que abordou o advogado. “Na frente dos policiais, ele negou que me agrediu. Disse aos militares apenas que não gostava do meu cabelo. Me senti desamparada, sem ajuda. Os policiais ainda vieram me perguntar se eu queria mesmo registrar um boletim de ocorrência. Um absurdo”, lamenta.

O advogado e Taciane foram encaminhados para a Central de Flagrantes II (Ceflan) da Polícia Civil, no bairro Floresta, na região Leste da capital, onde foram ouvidos. Segundo a assessoria da corporação, o delegado responsável pelo caso considerou que o homem, por ter 70 anos e não possuir antecedentes criminais, seria liberado mediante o pagamento de uma fiança no valor de R$ 1.000,00, correspondente ao crime de injúria racial.

“Ele foi liberado e eu fiquei aqui, na delegacia. Mas isso não vai ficar assim. Vou procurar a Justiça. Vou processá-lo. O racismo não pode ficar impune. As meninas do instituto e representantes de diversos movimentos sociais e coletivos negros estão aqui para me apoiar”, disse Taciane.

De acordo com a Polícia Civil, Taciane será levada para o Instituto Médico Legal (IML) para fazer o exame de corpo de delito. O caso será investigado e encaminhado para a Justiça. Ainda conforme a corporação, a pena para injúria racial varia de um a três anos.