Desaparecidos

Cadastro nacional defasado não traz crianças mineiras

Nenhum jovem sumido neste ano no Estado foi incluído no sistema; credibilidade é questionada

Por Bernardo Miranda
Publicado em 29 de maio de 2013 | 03:00
 
 

O Cadastro Nacional de Crianças e Adolescentes Desaparecidas não tem registro de nenhum mineiro que tenha sumido neste ano. Além da desatualização, o site, de responsabilidade do Ministério da Justiça e da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, é criticado pela falta de confiabilidade de seus dados, pela demora em sua criação e por não permitir a inclusão de adultos. Os responsáveis não quiseram se pronunciar.


A garota Emilly Ferrari, 8, sumiu em 4 de maio, na cidade de Rio Pardo de Minas, na região Norte. Mesmo com a hipótese de a menina ter sido levada para outro Estado, 25 dias depois do sumiço, seus dados ainda não podem ser encontrados no cadastro nacional. Ela é vista apenas no Cadastro Estadual de Desaparecidos, mantido pelo governo de Minas.


“Essa divulgação nacional é de extrema importância. Já tivemos casos de pessoas de São Paulo que foram encontradas em Pernambuco. Por isso, a imagem tem que circular por todo o país”, argumenta a presidente da Associação Brasileira de Busca e Defesa das Crianças Desaparecidas (ABCD), Ivanise Esperidião.


O site nacional tem o registro de 194 crianças e adolescentes, sendo que 64 são de Minas, todas sumidas até 2012. Já no estadual, há pelo menos 242 crianças e adolescentes mineiros, entre eles Emilly Ferrari. Segundo a Polícia Civil, apenas entre janeiro e fevereiro deste ano, 291 pessoas sumiram em Minas – eles não informou quantas são crianças e adolescentes.


Sem critério. O delegado Dagoberto Batista, da Divisão de Referência da Pessoa Desaparecida, afirma que os casos de Minas deste ano foram, sim, enviados para o cadastro nacional. “Algum problema deve ter ocorrido, vamos enviar novamente. O problema é que qualquer pessoa pode cadastrar um desaparecido sem precisar de um boletim de ocorrência. Assim, o sistema perde credibilidade”, reclama.


Para o diretor da Organização Não Governamental (ONG) Gente Buscando Gente, Carlos Rodrigues, da maneira como é feito hoje, a ferramenta perde seu propósito. “Daqui a pouco, teremos fotos de pessoas atrás de um namorado do passado que não encontram há muito tempo”, prevê. Para ele, o Brasil deveria seguir o exemplo de outros países, onde o governo é responsável pela inclusão dos dados. “Quem tem que incluir a pessoa desaparecida aqui é a própria família, que muitas vezes nem conhece o cadastro. Isso é um absurdo”.


A reportagem de O TEMPO fez um teste. Entrou no site nacional e seguiu todos os passos para cadastrar um desaparecido. Mesmo inventando um nome e carregando a foto da presidente Dilma Rousseff, enviou os dados para avaliação do administrador. Em nenhum momento, foi pedido número de boletim policial ou de identidade do desaparecido. Até o fechamento desta edição, o administrador não havia respondido o pedido