A Polícia Civil resgatou três cães vítimas de maus-tratos em Contagem, na região metropolitana de Belo Horizonte, nesta quarta-feira (17). A corporação recebeu um vídeo com denúncias e enviou uma equipe ao lote onde os animais viviam, no bairro Inconfidentes, e encontrou os bichos em ambiente insalubre, sem alimento e com a saúde comprometida.
A situação mais grave é de uma cadela da raça Akita, que está com miíase, conhecida como bicheira, no dorso. Se o crime de maus-tratos for comprovado, os bichos serão encaminhados para a adoção.
De acordo com a delegada Carolina Bechelany, da Delegacia Especializada na Investigação de Crimes contra a Fauna, uma mulher seria a proprietária dos animais. O companheiro e o filho dela também vivem na residência onde os cães foram encontrados. "O ambiente era insalubre, com muitos entulhos, visivelmente não existia nenhum alimento, a vasilha de água estava vazia. Uma vizinha, parente da proprietária, que estava jogando alimento, mas não era ração, porque ela falou que não tinha condições de comprar", conta a delegada. Segundo ela, os animais estavam magros.
A cadela da raça Akita estava com o dorso "praticamente em carne viva", de acordo com a delegada. "A gente não sabe se a ferida começou com algum machucado, com alguma corrente, e moscas posaram. Estava cheio de larva, muita bicheira, uma situação bem grave", detalha. O animal foi encaminhado para uma clínica veterinária de Contagem.
Os outros cães, um macho e uma fêmea sem raça definida, não estavam machucados e foram levados para o Centro de Zoonoses do município, mas, segundo Carolina, têm sinais de leishmaniose, o que será verificado por meio de exame de sangue.
A Polícia Civil ainda não conversou com a proprietária dos cachorros. Ela será ouvida em cartório. "O destino dos animais vai ser definido ao final do procedimento. Se for concluído que, de fato, o crime de maus-tratos aconteceu, esses animais possivelmente vão estar disponíveis para adoção", explica a delegada. O crime tem pena de três meses a um ano de detenção.
A delegada ressalta a importância da Lista de Adotantes, lançada no mês passado com o objetivo de criar um banco de dados de pessoas interessadas em adotar animais domésticos vítimas de maus-tratos resgatados em operações policiais. "A pessoa fornece os dados pessoais e informações do animal que ela desejaria adotar, como porte e sexo. A partir do momento que animais com aquele perfil forem apreendidos, a gente entra em contato com as pessoas", diz a delegada. "São animais que normalmente os adotantes dizem que são anjos", completa.
Desde o lançamento da lista, 16 pessoas se cadastraram, e 11 cães foram adotados. Atualmente, quatro cachorros aguardam um adotante. Os interessados na lista podem entrar em contato com a corporação por telefone, nos números (31) 3207-2500 e (31) 3207-2501, ou pessoalmente, na rua Bernardo Guimarães, 1571, no Lourdes.
Akita evolui bem
A cadela da raça Akita, que estava em situação mais grave, está reagindo bem à primeira fase do tratamento, que consiste na remoção das larvas, de acordo com o médico veterinário responsável, Thiago Heleno Papelini.
"É um caso bem grave, a miíase, que é bicheira, comeu bastante tecido dela, da nuca até a região torácica. Isso ocorre quando há uma pequena lesão, a mosca pousa, deposita ovos, e as larvas se alimentam do tecido do animal", explica.
Segundo ele, a cadela tem no máximo 2 anos de idade. "Apesar da situação em que ela se encontrava, ela voltou a comer, está reagindo bem. Ela é muito dócil", diz o veterinário.
A advogada Regiane Antunes, da Comissão de Defesa do Animal da OAB Contagem, se tornou a tutora da cadela até que ela se recupere e seja encaminhada para a adoção. "A criação de um hospital público ou a realização de parcerias com clínicas privadas são reivindicações nossas. Os protetores acabam fazendo a parte do poder público, retirando esses animais da rua com o próprio bolso", pontua a advogada.
Segundo ela, quem quiser ajudar no tratamento da Akita pode procurar a clínica veterinária Bom Amigos, em Contagem, onde ela está internada. O telefone é (31) 3364-4631.
Saiba como denunciar
Para denunciar, é preciso ter atenção a sinais de maus tratos. A Polícia Civil destaca que é importante ter cuidado antes de acusar um proprietário de praticar esse crime. Um latido, por exemplo, não é sinal, mas animais visivelmente sem alimentação, agressões e abandono, sim.
A denúncia pode ser feita, em sigilo, pelo telefone 181.