Na região do Rio Doce

Caratinga investiga cinco mortes por suspeita de febre amarela

Ao todo, 16 pessoas podem ter contraído a doença, todas moradoras da zona rural de municípios da região do Rio Doce; além disso, quatro macacos foram encontrados mortos em matas

Por JOSÉ VÍTOR CAMILO
Publicado em 09 de janeiro de 2017 | 12:25
 
 
O secretário de saúde de Caratinga, Giovanni Corrêa da Silva, concedeu entrevista coletiva sexta-feira (6) PREFEITURA DE CARATINGA / DIVULGAÇÃO

O Departamento de Epidemiologia da Prefeitura de Caratinga, na região do Rio Doce, investiga a morte de cinco pessoas que foram internadas no Pronto-Atendimento Microrregional (PAM) sob suspeita de febre amarela silvestre. Os óbitos aconteceram entre os dias 19 de dezembro e a última quinta-feira (5). Além disso, outras 11 pessoas foram internadas com sintomas da doença e transferidas para hospitais de Ipatinga, Governador Valadares e Belo Horizonte.

De acordo com um comunicado divulgado na última sexta-feira (6) pela Secretaria Municipal de Saúde de Caratinga, os casos foram registrados em uma mesma região, que fica na divisa entre os municípios de Caratinga, Ubaporanga e Imbé de Minas (Córrego dos Manducas, Volta Grande e São José do Batatal). As vítimas são moradoras da zona rural de Imbé de Minas, Ubaporanga e Piedade de Caratinga.

Segundo comunicado emitido pela pasta, os sintomas são febre, dores pelo corpo (dor lombar, na panturrilha, dor de cabeça), náuseas e vômitos, hemorragias e o quadro evolui para insuficiência hepática e renal.  "Em comum, as vítimas (entre óbitos e pessoas internadas) são homens, lavradores e a maioria em idade ativa. Apenas uma mulher está entre os casos suspeitos de febre amarela", explica o texto.

Foram feitas análises em dois dos pacientes que vieram a óbito, sendo que em ambos os casos ficou descartada a morte por leptospirose. Técnicos da Gerência Regional de Saúde de Coronel Fabriciano auxiliam nas investigações. Eles localizaram quatro macacos mortos na região onde as vítimas fatais contraíram a doença, misteriosa até então. Material biológico destes animais foi colhido para passar por análise.

Ainda de acordo com a Prefeitura de Caratinga, técnicos da Secretaria de Estado da Saúde irão à região para fazer novos estudos. A diferença entre a febre amarela silvestre e urbana é apenas o mosquito transmissor da doença, sendo que na cidade o vetor é o Aedes aegypti, mesmo transmissor da dengue, zika e outras doenças, enquanto na mata a febre geralmente é transmitida pelos mosquitos Haemagogus e Sabethes. 

Coletiva

Na sexta-feira o secretário de saúde de Caratinga, Giovanni Corrêa da Silva, concedeu a primeira entrevista coletiva sobre o caso. Ele explicou que na região existe uma vasta mata nativa e que, na copa das árvores, habita um mosquito do gênero Haemagogus. O inseto provavelmente picou o macaco portador da doença e, em seguida, picou os moradores da região que trabalhavam como lavradores.

Durante a coletiva o secretário explicou ainda que as vítimas internadas foram transferidas para outros hospitais pelo fato de a Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) do Hospital Nossa Senhora Auxiliadora não estar em funcionamento. Silva ressaltou ainda que os casos ainda não foram confirmados como febre amarela silvestre, e os resultados devem sair nos próximos dias.

O Secretário de Saúde de Caratinga lembrou ainda que as vacinas contra febre amarela estão disponíveis nos postos de saúde, mas que a população não deve entrar em pânico, uma vez que que quem já tomou as duas doses da vacina não precisa ser novamente vacinado. Ainda segundo o secretário, quem tomou apenas uma dose nos últimos dez anos também não tem motivos para se preocupar. "A primeira vacina tem validade pelo período de 10 anos e a segunda dose da imunização garante a proteção contra a febre amarela por toda a vida. Gestantes ou quem estiver amamentando não podem ser vacinadas", concluiu.

Uma coletiva de imprensa para repassar mais detalhes sobre os casos será realizada na tarde desta segunda-feira (9). 

OMS

Na última sexta-feira, o Ministério da Saúde comunicou a Organização Mundial de Saúde (OMS) sobre a suspeita de um surto de febre amarela no país. Conforme o comunicado, os registros foram feitos nas cidades mineiras de Ladainha, Malacacheta, Frei Gaspar, Caratinga, Piedade de Caratinga e Imbé de Minas, município em região considerada de risco. O Ministério da Saúde destacou uma equipe para fazer a investigação dos casos.

O órgão federal foi comunicado sobre as mortes na noite de quinta-feira (5). Elas se somam a outro óbito, ocorrido no interior de São Paulo, no dia 26 de dezembro. No caso de São Paulo, o paciente era morador de uma região também considerada de risco para febre amarela. Ele não estava vacinado. Assim como em Minas, na região de São Paulo também houve um aumento da morte de primatas, o que seria um indicativo de recrudescimento da circulação do vírus da febre amarela.

Diante dos casos, o Ministério da Saúde reforçou a recomendação para que todas as pessoas residentes de áreas consideradas de risco para febre amarela se certifiquem de que estão devidamente imunizados. Autoridades mineiras devem organizar uma vacinação da população que ainda não está protegida contra a doença. Na região que concentra os casos em investigação, os estoques da vacina, de acordo com Ministério da Saúde, são suficientes: 250 mil doses. A pasta garante haver vacinas suficientes para a demanda em todo o País.

Em 2016, foram registrados seis casos de febre amarela no país, com cinco mortes. Os óbitos ocorreram nas cidades goianas de Senador Canedo, São Luiz de Montes Belos e Goiânia; nas cidades paulistas Bady Bassit e Ribeirão Preto e em Manacapuru, no Amazonas.