Coronavírus

Colapso no sistema de saúde é a maior preocupação dos brasileiros, diz pesquisa

De acordo com um estudo realizado pela Demanda Pesquisa e Desenvolvimento de Marketing, brasileiros também estão preocupados com o aumento do desemprego e a recessão econômica

Dom, 05/04/20 - 03h00
Emergência. Nos últimos cindo anos, o Estado perdeu mais de 2.000 leitos, ficando atrás somente do Rio no ranking de perda de vagas | Foto: HC-UNICAMP/DIVULGACAO

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Em meio aos debates sobre os impactos do coronavírus na saúde pública e à economia do Brasil, a maioria dos brasileiros têm colocado como principal preocupação a possibilidade de colapso no sistema de saúde. É o que aponta uma pesquisa de opinião realizada pela Demanda Pesquisa e Desenvolvimento de Marketing. De acordo com o levantamento, 52% das pessoas apontaram o possível colapso como o maior medo. Em seguida, vêm a preocupação com o aumento no desemprego, com 50%, e a recessão econômica, com 43%.

O total supera 100% porque as perguntas foram de múltipla escolha. Na prática, cada entrevistado poderia citar mais de um motivo de preocupação, mas sempre apontando aquele que, na sua avaliação, era o maior motivo para o receio. Os percentuais entre a preocupação com o sistema de saúde e o aumento do desemprego estão tecnicamente empatados se for levada em consideração a margem de erro da pesquisa, que é de três pontos percentuais para mais ou para menos.

“A maior preocupação é o colapso da saúde, acima do desemprego e da recessão. É a preocupação de a pessoa não ser tratada. De chegar no hospital e não ter leito para ela, não ter respiradouro, nem alguém que possa entubar seu parente”, explicou Gabriela Prado, diretora-executiva da Demanda.

A pesquisa aponta que a polarização que vem sendo protagonizada nas últimas semanas no Brasil, entre aqueles que afirmam que a preocupação com a saúde e com a economia são excludentes entre si (quem está preocupado com um ponto, não estaria com o outro, e vice-versa), não encontra eco na população. “As pessoas estão preocupadas de forma igual. Elas têm medo de ficarem desempregadas, e quando você pensa na recessão econômica, são 43%. Quando se pensa na recessão, é algo gigante. Não é só o desemprego, mas problemas mais profundos que vão gerando outros, como a quebra de empresas, o aumento da pobreza, a estagnação da economia”, pontuou.

Nesse cenário, o levantamento mostra que as mulheres estão mais preocupadas com as questões sanitárias, enquanto os homens focam suas apreensões na questão estrutural do Brasil. A executiva ressalta que isso não significa que eles se preocupem menos que elas, mas que o foco é diferente. “A mulher vai continuar tendo a preocupação com a saúde e o homem com a parte financeira, mas não faz com que ele não esteja preocupado (com a saúde) ou que ela não esteja preocupada (com a economia)”.

O principal fator nessa questão, segundo Gabriela, é o fato de os homens serem, em sua maioria, os provedores dos lares brasileiros. “Como tudo mudou muito rápido e a gente não sabe o que vai acontecer, ninguém tem bola de cristal. Sabemos que a previsão de uma recessão está acontecendo. O consumo não é mais o mesmo, nem a circulação de bens. As pessoas não têm mais garantias de seus salários”.

No recorte por faixa etária, os jovens são os mais preocupados com um possível colapso na saúde e uma eventual falta de leitos em UTIs, enquanto o medo do desemprego atinge mais pessoas entre 40 e 59 anos. “Quando a pessoa já está com idade mais avançada, é difícil arrumar emprego. Ela (antes da pandemia) estava estabelecida numa empresa e vai perder o emprego porque talvez a empresa quebre, ou não tenha como sustentar o quadro de funcionários”, ressalta Gabriela, ponderando que a recolocação no mercado de trabalho após a pandemia, para essa faixa etária, será mais difícil do que para os jovens.

 

Altruísmo

A pesquisa apontou ainda um comportamento altruísta da população brasileira, de acordo com Gabriela Prado. Isso porque 3 em cada 4 pessoas têm mais medo em contaminar alguém do que ser contaminado pelo coronavírus. Além disso, 60% da população diz que se preocupa de alguém próximo contrair a covid-19. “As pessoas estão mais preocupadas com as outras, tem esse fator do altruísmo, sim”, disse.

A pesquisa apontou ainda que houve uma conscientização das pessoas em relação à importância das medidas de higiene e restritivas. Tanto que quase a totalidade (99%) mudaram os hábitos de higiene, enquanto para 98% das pessoas houve mudança na rotina. “Isso está relacionado ao cuidado, também estão sendo internalizadas ações para que você não transmita e não seja o transmissor da doença”, pontuou.

Embora tenham aderido às medidas restritivas em larga escala, os jovens são os mais reticentes em se privar de eventos sociais e de aderir ao distanciamento mínimo de 1 metro. “Isso é em função do que é comunicado, de que o jovem não é grupo de risco. Ele pode não ser, mas é vetor de transmissão. Hoje, o jovem não se vê como alguém que vai morrer de coronavírus”, explica Gabriela.

 

Perfil de compra

A maioria das pessoas ouvidas (64%) não mudou o perfil de compra. No entanto, três em cada dez pessoas mudaram os hábitos e passaram a consumir mais. Na avaliação de Gabriela, a tendência é que a quantidade de pessoas vai estocar comida em casa tende a ser maior com a continuidade do isolamento social. “Por um lado, as pessoas já se abasteceram, já compraram os itens básicos. E vão continuar comprando enquanto houver quarentena”.

“As pessoas vão continuar guardando, porque o que escutamos lá fora é que há desabastecimento, e tem situações (no Brasil) em que as pessoas vão ao supermercado e não tem mais álcool comum, nem feijão ou papel higiênico”, diz, ponderando que, mesmo que os itens estejam sendo repostos, há algumas restrições. “Há supermercados com senha para entrar ou que limitam o número de mercadorias”.

Nesse cenário, entre aqueles que compraram mercadorias em maior quantidade, os produtos mais procurados foram os alimentos não perecíveis (76%), produtos de higiene pessoal (60%) e de limpeza doméstica (56%).

 

Metodologia

A pesquisa foi realizada pela internet entre os dias 18 e 21 de março, com um total de 1065 participantes. A maior parte (51%) foi composta por mulheres, e a média de idade dos entrevistados é de 41 anos. A grande parte do público entrevistado é morador da região Sudeste e ao menos 81% possuem ensino superior (somados os índices de quem apenas graduação com os que são pós-graduados). A maior parte pertence à classe social AB.

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