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“Já sofri muito com essa decisão. É algo muito triste”. O desabafo de um pai ao ver a escola onde seus dois filhos estudam fechar as portas em definitivo reflete o momento crítico pelo qual passam algumas instituições de ensino particular que não estão conseguindo outra alternativa senão trancar as portas de vez.
O depoimento é do advogado Júlio César Sasdelli, presidente da Associação de Pais do Colégio Imaculada Conceição de Belo Horizonte. Há cerca de um mês ele e os demais pais e mães dos alunos receberam a notícia que temiam: a tradicional escola do bairro de Lourdes, região Centro-Sul da capital, iria encerrar as atividades da educação infantil. A crise financeira em decorrência da pandemia seria um dos motivos - a falta de irmãs para dar sequência ao trabalho seria outro. Fundado há 104 anos pela Congregação das Filhas de Jesus, o colégio não respondeu as perguntas da reportagem.
Um abaixo-assinado com mais de 2.200 assinaturas recolhidas na internet e relatos emocionados de pais e mães tenta demover a instituição, mas a decisão é definitiva, segundo o comunicado feito aos familiares. “Acho que não existe escola em BH com esses valores, como respeito às diferenças e contrários à segregação”, lamenta Júlio César, pai de um menino de 4 e uma menina de 9 anos.
Escolas indo aos trancos
A prefeitura de Belo Horizonte informou que onze instituições de ensino comunicaram o fechamento durante a pandemia. No entanto, é provável que esse número seja bem maior, já que leva um certo tempo até que o encerramento de uma escola passe por todas as regras burocráticas, especialmente se for uma instituição de pequeno porte. Segundo pesquisa divulgada pelo Sindicato das Escolas Particulares de Minas Gerais (Sinep/MG), ¼ das escolas pequenas deve fechar a partir de 2021.
Entre essas onze consta o Instituto Descoberta Infantil - Idea. Situado no Prado, região Oeste da capital, a escola teve o encerramento das atividades de educação infantil oficializado no Diário Oficial do dia 10 de julho. No mesmo bairro, a dona de uma escola, que não quer revelar seu nome, afirma que somente nas redondezas outras quatro instituições de ensino teriam fechado as portas para sempre. A queda de 85 para os 16 alunos atuais em sua escola, com 26 anos de atividades, a obrigou a pegar R$ 40 mil em empréstimos. “Estamos indo aos trancos”, reclama.
No Alphaville, condomínio de classe alta em Nova Lima, na região metropolitana de Belo Horizonte, o aviso chegou na semana passada. O Colégio Nortear, que já vinha perdendo alunos em anos anteriores, não resistiu ao solavanco da crise e nem ao acúmulo de mais 20% de perda de estudantes. Encerrar as atividades foi a única saída. Os cerca de 160 alunos da educação infantil e ensino fundamental 1 e 2 poderão concluir o ano letivo atual, mas em 2021 terão que estudar em outro local. “Foi um grande sonho que buscamos construir. As projeções iniciais eram boas, mas infelizmente não se concretizaram”, afirmou, por meio de nota, Renata Coelho, sócia-fundadora do Grupo Need, que administra a escola.
Educação infantil é base da vida escolar, afirma entidade
O possível fechamento de 25% das escolas pequenas, conforme identificado na pesquisa do Sinep-MG, é considerado assustador pelo Grupo União pelas Escolas. “Mas é o reflexo do que está acontecendo em todo o Brasil”, avalia Pedro Laranjeira, que se apresenta como embaixador da entidade. “Estamos em um país que infelizmente não dá valor à educação”, completa.
O gestor escolar lembra que quando uma escola infantil fecha, a rede pública acaba não tendo capacidade de receber esses estudantes, pois geralmente já se encontra inchada.
O dano maior que está sendo percebido na educação infantil é outro complicador educacional, conforme explica Laranjeira. “Ainda tem quem pense que educação infantil só serve para a socialização da criança, mas é uma fase que você constrói a base da vida escolar. A família precisa valorizar esse momento”, finaliza.
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