Violência

Conflitos entre traficantes fazem assassinatos crescerem em 2020

Entre janeiro e junho deste ano, sete pessoas por dia perderam a vida em Minas Gerais

Ter, 20/10/20 - 03h00
As apreensões de armas de fogo subiram 17,3% em Minas Gerais durante a pandemia | Foto: Alex de Jesus - 30.9.2019

A cada dia, pelo menos sete pessoas foram assassinadas em Minas Gerais, somando 1.421 vítimas no primeiro semestre de 2020. Depois de três anos seguidos de queda nas mortes violentas no Estado, houve um aumento de 2,1% frente aos seis primeiros meses de 2019.  Para especialistas, isso indica, entre outras coisas, um acirramento na disputa por rotas de escoamento de drogas e um reposicionamento do tráfico durante a pandemia. 

O Brasil seguiu a mesma tendência, segundo os dados divulgados ontem pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Na soma dos Estados, 25.712 pessoas foram mortas – o equivalente a uma pessoa a cada dez minutos. Esse total é 7% maior do que o registrado no mesmo período do ano passado, quando 24.012 pessoas foram mortas. Os dados de morte violenta incluem homicídios dolosos, latrocínios, lesões corporais seguidas de morte e homicídios de policiais civis e militares.

Para a diretora executiva do fórum, Samira Bueno, o aumento nas mortes está diretamente associado ao tráfico de drogas. “Existia uma expectativa de que talvez com a pandemia tivesse um estancamento dessas mortes, mas vimos o contrário. Temos o fim da trégua de grupos de tráfico de drogas e um aumento nos conflitos entre eles”, afirma. Para ela, o fechamento de portos, aeroportos e a maior vigilância de rodovias em função da pandemia trouxeram uma necessidade por busca e conquista de novas rotas, gerando tensão entre gangues rivais do tráfico. 

E, segundo o pesquisador do Centro de Estudos de Criminalidade e Segurança Pública (Crisp) da UFMG Frederico Marinho, a demanda por drogas cresceu neste ano. “Os usuários de drogas continuam comprando. No isolamento, o que vemos é um aumento na busca por drogas, já que eles reduziram o lazer e restringiram a vida social”, diz. 

De fato, em Minas Gerais, os registros de tráfico de entorpecentes subiu 5,4%, passando de 17.848 no primeiro semestre do ano passado para 18.811 no mesmo período de 2020. Os flagrantes relacionados ao uso e posse cresceram 5,1%, passando de 13.158 para 13.825, no mesmo intervalo de tempo. As apreensões de armas subiram 17,3% no Estado. 

Contramão

Em contrapartida, houve queda de roubos. “Com a pandemia, nós percebemos redução nos crimes contra o patrimônio, o que se explica pela menor mobilidade urbana. Famílias estão em casa, o que diminui as chances de furto. Quando você não sai de carro, a chance dele ser roubado também é menor. É um movimento esperado. Também percebemos roubo de carga, a comércios e a residências”, explicou em entrevista coletiva o diretor-presidente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Renato Sérgio de Lima.

A Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp) não se posicionou sobre os dados de assassinatos, tráfico, apreensão de armas e roubos. 

Violência doméstica

 Enquanto o número de ocorrências policiais relacionadas à violência doméstica subiu 3,8% no Brasil, passando de 142.005 no primeiro semestre de 2019 para 147.379 no mesmo período, em Minas Gerais houve uma queda de 3,4%. As denúncias caíram de 49.108 para 47.423, segundo dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. 

Segundo a delegada Juliana Califf, da Delegacia de  Atendimento à Mulher, os dados ainda não refletem a realidade. “No início da pandemia, tivemos uma redução das denúncias espontâneas porque o acesso das vítimas às delegacias era mais restrito. Mas, desde que criamos a delegacia virtual, em julho, os indicadores aumentaram”, explica. 

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