SAÚDE

Contra redução de quase 30% do salário, motoristas do Samu ameaçam greve em BH

Corte de benefícios também foi anunciado; Ministério do Trabalho e Emprego irá mediar as negociações com a empresa contratante

Por Isabela Abalen
Publicado em 19 de abril de 2024 | 13:54
 
 
Imagem ilustrativa de viatura do Samu Foto: PBH/Divulgação

Os motoristas do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) de Belo Horizonte podem paralisar a partir de segunda-feira (22 de abril). A ameaça é uma resposta à mudança da empresa parceira da prefeitura responsável pela gestão do serviço. A categoria denuncia uma redução do salário de cerca de 27%, com corte total dos benefícios, como plano de saúde e odontológico. Uma reunião mediada pelo Ministério do Trabalho e Emprego tenta evitar a greve nesta sexta-feira (19). 

De acordo com o representante do Sindicato dos Trabalhadores Rodoviários de Belo Horizonte e Região (STTRBH), Roberto Rangel, a previsão é que a nova empresa assuma o serviço do SAMU na próxima sexta-feira (26 de abril). A proposta da gestão é uma redução do salário de cerca de R$2.400 para R$1.800, com corte do plano de saúde e plano odontológico, todos os benefícios dos motoristas até então.

“O que estão fazendo é uma atrocidade muito grande, uma redução do salário de R$ 600, sem nem ticket de alimentação. Tem motorista que tem família utilizando o plano de saúde, que será cancelado de um dia para o outro”, reclama Rangel. 

'Exaustão'

São 120 motoristas do SAMU-BH que assumem uma jornada de trabalho de 12h de serviço para 36h de descanso. O sindicalista denuncia que a proposta de cortes pela nova empresa não inclui redução de jornada de trabalho. “Querem pagar menos por um mesmo trabalho, mesma jornada. Os condutores estão exaustos, mais essa preocupação, a cabeça vai a milhão”, continua. 

Samu-BH faz 11 socorros com ambulância por hora 

Rangel reforça que o serviço é essencial para o salvamento de vidas em Belo Horizonte, mas não é reconhecido como tal. Para se ter ideia, o SAMU-BH faz cerca de 8 mil atendimentos com ambulância por mês, ou seja, 11 por hora. "Os motoristas não têm tempo suficiente para comer, se sacrificam pelo trabalho. Na pandemia, trabalharam dobrado, mas não são reconhecidos. Isso cansa. Se quiserem cruzar os braços, vão cruzar", afirma. 

A categoria reivindica que a gestão da nova empresa seja cancelada, e a prefeitura assuma um contrato emergencial até a nova licitação. Mas, em uma reunião com o Secretário de Saúde de BH, Danilo Borges Matias, na manhã desta sexta (19), o sindicato recebeu a notícia que isso não é possível, já que a contratação já está homologada. 

Serviço essencial pode parar? 

Roberto Rangel, do STTRBH, diz que a paralisação proposta pelos motoristas do SAMU não é provocada pelo sindicato, mas por vontade própria dos trabalhadores. Como se trata de um serviço essencial, a lei obriga um mínimo de 30% do efetivo em atividade para manutenção do atendimento, mas isso não está sendo considerado. “Eles têm essa noção, mas estão dispostos a cruzarem os braços, e aí, pode vir a Justiça, trabalhador pode ser penalizado, mas a intenção é verdadeira”, diz. 

Reunião irá mediar problema

A Superintendência Regional do Trabalho de Minas Gerais (SRTE/MG) irá mediar, na tarde desta sexta (19), uma reunião com representantes dos motoristas do SAMU, através do sindicato, dirigentes da empresa e representantes da prefeitura de BH e da Secretaria de Saúde. A intenção é tentar um acordo e evitar que a greve seja iniciada. 

Na avalição do superintendente regional do trabalho, Carlos Calazans, não é justa a redução do salário quando as condições de trabalho continuam as mesmas. “Esse valor proposto não é aceito pelos motoristas. Seria uma redução do pagamento com o mesmo serviço. Isso não pode ser permitido, a expectativa é que mantenha o atual salário. Vamos fazer de tudo para conseguir um acordo ainda hoje”, afirmou. 

A reportagem entrou em contato com a empresa responsável e aguarda retorno.

O que diz a PBH?

A Prefeitura de Belo Horizonte informou que recebeu representantes dos trabalhadores do SAMU e sindicatos da categoria na manhã desta sexta-feira (19). Estavam presentes os secretários de Saúde e de Assuntos Institucionais.

O Executivo se comprometeu em mediar as demandas dos trabalhadores com a empresa contratante. "Na ocasião, foi informado aos participantes que já está agendada uma reunião com a empresa vencedora da nova licitação para a próxima terça-feira (23), com objetivo de mediar as solicitações dos condutores", disse. 

"Cabe destacar que o contrato com a empresa envolve a contratação de profissionais motoristas, higienização e guarda dos veículos, além de manutenção preventiva e corretiva", continuou, por meio de nota. Atualmente, o SAMU conta com 28 ambulâncias.