Pandemia

Covid-19: Minas tem cidades com taxas de mortalidade maiores que a do país

Alguns dos municípios mais populosos do Vale do Aço e da macrorregião Leste têm taxa mais elevada; número considera registro de mortes dividido por população de determinado local

Por Gabriel Rodrigues
Publicado em 13 de novembro de 2020 | 03:00
 
 
Governador Valadares Foto: Fábio Monteiro/Web Repórter

Apenas as macrorregiões Leste e Vale do Aço permanecem na faixa da onda amarela do programa Minas Consciente. Embora a taxa de mortalidade por Covid-19 a cada 100 mil habitantes em Minas Gerais seja menor do que a nacional, algumas das cidades mais populosas dessas regiões apresentam uma taxa maior que o dobro da mineira e superior à do Brasil. 

A taxa de mortalidade em Governador Valadares, na região Leste, é a mais alta entre os municípios mineiros com mais de 50 mil habitantes: são 105,6 mortes a cada 100 mil pessoas. A média móvel da última semana mostra que o aumento de óbitos no município de cerca de 281 mil pessoas está em declínio, mas a quantidade de casos da doença tem tendência de alta, diferentemente da média do Estado, que está em um nível estável. 

A Secretaria Municipal de Saúde da cidade admite o número elevado, mas afirma que ele não se deve à falta de atendimento ou de leitos, que informa ter sido ampliados. Ela pontua que a taxa de recuperação de paciente no município é de 94,5%, superior à do Estado e do Brasil. 

Em Ipatinga, cidade mais populosa do Vale do Aço, a cada 100 mil habitantes, houve 84,4 mortes por Covid-19. O número supera em quase duas vezes a taxa calculada para todo o Estado, em que foram 43,4 óbitos confirmados a cada 100 mil habitantes, e também passa a brasileira, que é 77,1. 

Com menos habitantes que Ipatinga, Timóteo é a cidade com mais de 50 mil habitantes da região que tem, proporcionalmente, mais mortes: a taxa de mortalidade no município é de 92,7 por 100 mil habitantes. Na cidade de cerca de 90,6 mil moradores, a Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG) registrou 84 óbitos. 

Na cidade de Santana do Paraíso, também no Vale do Aço, a justificativa da prefeitura para a taxa de mortalidade mais elevada que a do Estado é uma suposta desatualização dos dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O instituto estima que haja 35,4 mil pessoas na cidade, mas, segundo a diretora do departamento de Vigilância em Saúde da cidade, Marcilene Alves, a cidade foi uma das que mais cresceu na região nos últimos 10 anos e teria cerca de 50 mil habitantes. Com isso, a taxa de 81,9 mortes por 100 mil pessoas cairia para aproximadamente 58 — número ainda mais alto que o do Estado.  

Entenda diferença entre taxa de mortalidade e taxa de letalidade

A taxa de mortalidade divide o número de pessoas que morreram por Covid-19 pela população em geral de cada lugar. Já a taxa de letalidade é a razão entre os óbitos e os casos confirmados da doença nas cidades. 

“A taxa de mortalidade indica o risco de morrer por Covid-19 em determinado local, enquanto a taxa de letalidade é uma medida da gravidade da doença”, detalha a epidemiologista Aline Dayrell, professora da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Ela explica que comparar a taxa de mortalidade entre diferentes municípios é mais preciso do que comparar a taxa de letalidade em diferentes locais, já que a subnotificação de casos em cada região é diferente, enquanto as mortes tenderiam a ser registradas com mais precisão.

Entre as cidades mais populosas das macrorregiões Leste e Vale do Aço, apenas Governador Valadares e Timóteo têm uma taxa de letalidade da doença superior à da média do Estado. Em geral, 2,45% dos pacientes com confirmação de Covid-19 em Minas morrem, percentual que aumenta para 3,27% em Governador Valadares e 3,35% em Timóteo. São taxas ainda mais altas que a nacional, que chega a 2,84% e ultrapassa a estimativa mundial de letalidade inferior a 1%. 

Respostas dos municípios

Os municípios citados na matéria foram procurados pela reportagem e apenas as prefeituras de Santana do Paraíso e de Governador Valadares responderam a tempo da finalização do material. A Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG) foi procurada na manhã do dia 12 de novembro e respondeu que não conseguiria apresentar um posicionamento ou mais informações em menos de 24h. 

Diferenças populacionais e comportamento são analisados pela SES

Em resposta às questões encaminhadas à Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG) na quinta-feira (12), o órgão esclareceu que a avaliação de cada região de Minas Gerais é feita por meio de indicadores aos quais são atribuídos pesos. “A análise pressupõe uma combinação de fatores a serem balizados para compreensão do cenário epidemiológico das macrorregiões do estado, incluindo, também, diferenças populacionais dos municípios com faixas etárias distintas, comportamento da população com maior ou menor adesão aos protocolos sanitários”, detalhou em relação às taxas de mortalidade nos quatro maiores municípios do Vale do Aço.

Quanto os surtos ocorridos nessas localidades, a pasta pontuou que Timóteo responde por três surtos com 53 infectados, Coronel Fabriciano por outros três com 43 infectados, Ipatinga com mais quatro e 52 moradores adoecidos – contabiliza-se, segundo a estatística da SES, a existência de 18 surtos na região do Vale do Aço. “A SES-MG não divulga óbitos referentes a surtos porque são dados localizados, que podem colocar a privacidade das pessoas em risco. Vale ressaltar que o número desses óbitos não impacta diretamente no aumento da taxa de mortalidade da macrorregião, uma vez que são eventos pontuais”, detalhou.

Veja na íntegra a resposta da SES-MG:

Todas as macrorregionais de saúde do estado tiveram crescimento em seus números de leitos, sendo que o Vale do Aço está entre as que mais houve incremento. Em fevereiro a macrorregional contava com 73 leitos de UTI  e em novembro são 228, o que significa um aumento de mais de 200% na capacidade assistencial da região. Foram enviados ao Vale do Aço 160 respiradores, entre ventiladores invasivos, bipap, monitores, cardioversores e ventiladores de transporte.

Desde o começo da pandemia, a SES/MG tem tomado todas as medidas necessárias para que os impactos fossem os menores possíveis na macrorregião.  Entre as ações realizadas, em todas as macrorregiões de Minas Gerais, estão a distribuição de equipamentos hospitalares para leitos covid-19, equipamentos de proteção individual para profissionais de saúde por meio do programa Minas Protege, entrega de testes rápidos e de kits para coleta e realização do teste RT-PCR. A SES-MG também realiza, periodicamente, reuniões virtuais com gestores locais para orientação sobre ações preventivas e corretivas de combate ao covid-19.

A ampliação de leitos de UTI no Vale do Aço trouxe um incremento de 212,33% na capacidade assistencial da macrorregião, assim como em todas as macrorregionais de saúde do estado.  Por meio do Centro de Operações de Emergência em Saúde (Coes) foram emitidas mais de 90 notas técnicas para apoio aos profissionais e gestores de saúde com intuito de capacitar equipes profissionais. Foram enviados ao Vale do Aço 160 respiradores, entre ventilador invasivo, bipap, monitores, cardioversores e ventiladores de transporte.

Por meio da atuação da SES-MG os municípios puderam também criar seus próprios Planos de Contingenciamento Municipais para atuação e monitoramento da situação local, uma vez que a pandemia é dinâmica e exige acompanhamento diário e previsão de ações de curto, médio e  longo prazo.

Por meio do Plano Estadual de Contingência Macrorregional para o enfrentamento à pandemia da covid-19 a SES-MG desenvolveu estratégias para monitorar, diariamente, a situação epidemiológica em todo estado. Além disso, o Governo de Minas lançou o plano “Minas Consciente – Retomando a economia do jeito certo” que orienta a retomada segura das atividades econômicas nos municípios do estado. Esta proposta, criada pelo Governo por meio das secretarias de Desenvolvimento Econômico (Sede) e de Saúde (SES-MG), adotou desde o princípio um sistema de critérios e protocolos sanitários, que garantam a segurança da população.

Medidas de contenção

Como medida de contenção da pandemia no estado, Minas Gerais foi ágil ao suspender as aulas na rede pública estadual, ainda em março. E também se antecipou ao publicar a Deliberação do Comitê Extraordinário Covid-19 nº 2, permitindo a adoção do regime especial de teletrabalho. Minas Gerais foi o primeiro estado do Brasil a orientar quanto à necessidade de adoção do isolamento social como forma de prevenção ao crescimento do contágio.

Foram criados os comitês macrorregionais, por meio dos quais a SES-MG se reúne, semanalmente, com gestores de saúde municipais para análise da situação local e orientações técnicas. Esta estratégia foi fundamental para monitorar, em tempo real, a evolução da pandemia em Minas e orientar os gestores em suas tomadas de decisões. O plano Minas Consciente foi desenvolvido como mais uma ferramenta para gestores locais terem à mão protocolos sanitários que garantam a segurança das atividades da população e a contenção da pandemia, ao mesmo tempo.

Insumos e Equipamentos

Minas Gerais praticamente dobrou a capacidade assistencial da rede pública no que diz respeito aos leitos de UTI: foi de 2.072 leitos para os atuais 3.988. Distribuiu 1.062 respiradores – equipamentos essenciais para o funcionamento de leitos de alta complexidade. Também fez parceria com a Fiemg, que entregou outros 1.600 mil respiradores para serem encaminhados aos hospitais de Minas Gerais. A implementação do programa Protege Minas direcionou R$ 51 milhões para aquisição de máscaras descartáveis, luvas de procedimento, toucas e aventais; equipamentos de proteção individual fornecidos aos municípios a preço de custo para utilização das equipes de saúde.

Atualizada em 14 de novembro, às 11h30.