Rompimento da Barragem

Culto ecumênico em Brumadinho é marcado por dor e revolta das famílias

Aproximadamente 50 pessoas, entre familiares e amigos das vítimas da tragédia da Vale assistiram à celebração que teve duração de 40 minutos

Qui, 31/01/19 - 11h03
Culto teve a participação de cerca de 50 pessoas | Foto: Michelyne Kubitschek / webrepórter

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Lágrimas, emoção e críticas à mineradora Vale marcaram o culto ecumênico realizado na manhã desta quinta-feira (31), no Espaço Conhecimento, em Brumadinho, região metropolitana da capital. 

Aproximadamente 50 pessoas, entre familiares e amigos das vítimas da tragédia envolvendo a Barragem I da mina de Córrego do Feijao, da mineradora Vale, assistiram à celebração que teve duração de 40 minutos.

Três padres e um pastor celebraram o culto em menção às 99 vítimas mortas e 259 desaparecidas até o momento

Nos primeiros minutos da cerimônia, uma mulher passou mal e foi amparada por voluntários que prestam assistência no local. 

Um dos celebrantes, Dom Vicente Ferreira, bispo auxiliar da arquidiocese de Belo Horizonte, metaforizou os danos ambientais deixados pelo rompimento da barragem da Vale. "O mar de lama transformou Brumadinho em um mar de lágrimas. Precisamos reforçar nossas orações e cobrar dos responsáveis", disse.

Sentado na última fileira do espaço em que ocorria a cerimônia, o analista de engenharia Leonardo Geraldo, 46, misturava lágrimas e palavras de revolta. O irmão dele, Giovani Paulo de Costa, 40, mecânico da Vale, está desaparecido desde o dia da tragédia. "Ninguém quer dinheiro. Do que adianta R$100 mil, R$200 mil se ninguém da satisfação pra gente? E se eu nunca conseguir enterrar meu irmão? Como que a mulher dele, desesperada e com dois meninos dentro de casa, um deles com quatro anos, vai fazer?", lamentou.

Em outro ponto, a comerciante Marta Boaventura, 66, relembrou amigos ainda não localizados. "Todo mundo conhece todo mundo aqui. Meninos bons como o Walisson Paixão e o Alex César, os dois com uns 35 anos, sumiram debaixo daquilo lá. Eles estavam trabalhando, gente. A sirene não tocou. Por que, meu Deus? A dor é enorme e silenciosa, igual a sirene, né?", disse com os olhos marejados.

Padre critica a imprensa

Durante o culto, Dom Vicente Ferreira, bispo auxiliar da arquidiocese de Belo Horizonte, destacou a importância da imprensa enquanto espaço para tornar públicas as ações de reparação da Vale, mas criticou a forma de trabalho de veículos de comunicação. "Tem que ter limite. Não podemos explorar a dor do próximo visando o interesse de grupos empresariais...subir em muro para tirar foto de sepultura. Não podemos compactuar", disparou o pároco.

Uma missa de sétimo dia, também em memória dos mortos pelo rompimento da barragem da Vale será realizada hoje, às 19h30, na igreja matriz de Sao Sebastiao, no centro de Brumadinho.

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