Santa Luzia

De professora ambiciosa a prefeita afastada e presa

Roseli Pimentel foi detida no início do mês por suspeita de envolvimento em homicídio

Dom, 17/09/17 - 03h16
Rivalidade. Até ser presa, Roseli comentava em postagens que sofria perseguição política por ser mulher | Foto: fotos reprodução Facebook

Uma das primeiras falas de Roseli Pimentel (PSB) como prefeita de Santa Luzia, na região metropolitana de Belo Horizonte, está registrada em um vídeo com milhares de visualizações: “Tem uma coisa que está aqui (ela mostra a garganta enquanto diz). Pode ser sem ética, mas vou falar. Posso falar?”. O povo responde que pode. “Chupaaaa, delegadooooooo”, disse aos gritos, revelando o nível da campanha eleitoral. Foi assim que ela comemorou de cima do carro de som o resultado das últimas eleições municipais, em que teve 36 mil votos, após disputa acirrada com o delegado Christiano Xavier (que angariou 30 mil eleitores).

Em outubro do ano passado, aos 43 anos, Roseli tornou-se a primeira mulher eleita chefe do Executivo de Santa Luzia. Menos de um ano depois, conseguiu a proeza de ser a prefeita mais cassada de Minas entre os eleitos de 2016. De acordo com o Tribunal Regional Eleitoral (TRE–MG), são seis ações de cassação contra ela, cinco sentenças confirmadas em segunda instância e um processo tramitando no município. Todos eles por abuso de poder e uso irregular dos meios de comunicação social durante a campanha.

Mas Roseli não deixou o poder por causa disso, pois a cada cassação, recorria da decisão, solicitando a permanência no cargo até o término do processo. Entretanto, a prefeita teve que deixar sua cadeira tão almejada de maneira antecipada, tornado-se a primeira gestora de Santa Luzia presa em mandato por suspeita de envolvimento no homicídio de um jornalista da cidade.

Além disso, a prefeita afastada e secretários do primeiro escalão na cidade são investigados em um esquema de desvio milionário de verbas da saúde, conforme revelou o delegado Alex Machado em coletiva na sexta-feira. Ao menos R$ 21 milhões teriam sido desviados, mas o montante pode chegar a R$ 80 milhões, de acordo com a Polícia Civil.

Entre os opositores de Roseli, ela e tida como “vaidosa, temperamental, agressiva e vingativa”, além de não gostar que a imprensa fale mal dela. Já os apoiadores destacam a “caridade e pulso firme” da prefeita afastada. “A administração dela foi meteórica e catastrófica. Voltou-se para a realização de obras de asfaltamento de ruas e de shows gratuitos”, relata um ex-servidor da prefeitura, nascido e criado em Santa Luzia.

Início. Um funcionário que trabalhou na Escola Municipal Professora Síria Thebit, onde Roseli foi professora e, depois, promovida a diretora, conta que desde lá a fama dela era a de arrogante. Nessa época, surgiu a suspeita de que o diploma de curso superior teria sido falsificado. Em 2012, Roseli foi chamada para ser vice-prefeita de Carlos Alberto Calixto (PSD), que a teria indicado para a direção escolar. Em 2016, com a morte do prefeito, ela assumiu o posto. “Ela indicou familiares e amigos para as direções escolares e usou o poder para receber votos”, afirma a fonte, que pediu anonimato.
A defesa de Roseli não foi encontrada pela reportagem. 

Lista de “pendências” com a Justiça é extensa

A lista de “pendências” de Roseli Pimentel com a Justiça é extensa. Ela está sendo investigada em pelo menos duas ações na Procuradoria Especializada no Combate aos Crimes Praticados por Agentes Políticos Municipais, no Ministério Público de Minas Gerais (MPMG).

“Se ela tiver errado, pagará, mas não acredito nisso. Comigo sempre foi lícita. Fazia tudo dentro da lei”, afirma o suplente Adriano Figueiredo, que foi vereador e líder de governo na Câmara quando Roseli estava no cargo. Ele foi o único das dez pessoas procuradas pela reportagem que comentou o caso (e quis se identificar, pois os demais falaram sob anonimato com medo de represálias).

Corrupção

No ano passado, dez vereadores de Santa Luzia foram presos por fraudes em licitações de coleta de lixo. A corrupção estaria ocorrendo há alguns anos, mesmo antes do mandato de Roseli, que responde a processos por improbidade administrativa e outros em segredo de Justiça. “Ela tinha certeza da impunidade. Espero que a população entenda que o papel de cidadão vai além do voto”, afirmou uma fonte que pediu para não ser identificada.

Imagem

Em uma das ações no Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) em que consta o nome de Roseli Pimentel, ela processa um jornal da cidade por danos morais. Outra fama da prefeita afastada é a de ela não gostar que os jornalistas locais falem mal dela. O dono do jornal “O Grito”, Maurício Campos Rosa, 64, morto em agosto de 2016, estaria extorquindo Roseli, segundo a polícia, fazendo ameaças de divulgar coisas negativas da prefeita, e, por isso, ela teria contratado alguém para matá-lo usando dinheiro público, cerca de R$ 20 mil, conforme apontam as investigações. Ela nega a participação no homicídio.

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