Aedes aegypti

Denúncias de focos de dengue crescem quase 2.000% em BH

No primeiro bimestre do ano, 10.336 solicitações de vistorias foram feitas pela população

Por Joana Suarez
Publicado em 04 de março de 2016 | 03:00
 
 
Mutirões. Nos últimos meses, prefeitura da capital intensificou número de mutirões para recolher material que pode virar foco do mosquito Uarlen Valério - 30.12.2015

Uma prova de que a dengue está provocando temor em muita gente é o aumento de 1.828% nas denúncias de focos do Aedes aegypti no primeiro bimestre em Belo Horizonte. Com o alarme sobre a doença no país, os moradores se transformaram em soldados no combate ao mosquito que tem deixado tantos doentes. A prefeitura da capital recebeu 10.336 solicitações de vistorias em janeiro e fevereiro deste ano – uma média de sete denúncias a cada hora. Em 2015, foram 536 pedidos nesses dois meses.

Segundo o Executivo, o índice de resposta aos chamados foi de 90% em janeiro e de 37,8% em fevereiro – mas esse último percentual ainda deve mudar, conforme a prefeitura, uma vez que algumas reclamações podem estar dentro do prazo para atendimento, que é de dez dias, a contar do dia seguinte ao recebimento do pedido, excluindo fins de semana. Denúncias feitas a partir de 17 de fevereiro ainda estariam, portanto, dentro do período de espera.

Mesmo assim há moradores insatisfeitos. O administrador de empresas Cleber de Andrade, 38, precisou esperar dois meses para ver sua denúncia surtir efeito. Ele ligou para a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) solicitando a vistoria em lotes abandonados, com o mato alto, próximo à casa de sua mãe, no bairro São Luiz, na Pampulha.

“Eles demoraram demais a notificar os donos (dos terrenos), que só depois de dois meses capinaram o mato. Ainda bem que ninguém da família pegou dengue, mas poderia ter dado algum problema se dependesse da prefeitura”, disse Andrade.

Na terça-feira, O TEMPO mostrou outros relatos de moradores de diferentes regiões da cidade preocupados com locais que podem ter focos do mosquito e não têm o problema resolvido a tempo de evitar a doença. Um exemplo é o bairro Calafate, na região Oeste, onde havia cerca de 30 pessoas doentes, e os vizinhos denunciaram um lote abandonado onde se formam piscinas de água quando chove – a demanda estava em andamento. A regional é justamente a que teve o menor índice de resolução em janeiro, com 78,5%.

O ciclo de reprodução do mosquito varia entre sete e dez dias. A Secretaria Municipal de Saúde (SMSA-BH) informou que o prazo de dez dias para execução de vistoria para identificar focos do Aedes aegypti leva “em consideração a gravidade de cada caso e o risco oferecido”.

Barreiras. Uma a cada sete solicitações dos belo-horizontinos (14,4% do total de janeiro) não já concluída porque não foi possível vistoriar o local por um dos motivos: o imóvel estava fechado, houve recurso do morador ou o endereço não foi localizado. As demandas executadas representaram 76%.

Os agentes visitam as casas e orientam a população sobre os cuidados. Quando encontram criadouros, eliminam ou aplicam o larvicida. De acordo com a Regional Oeste, quando o servidor não consegue acessar o imóvel após duas tentativas é requerida a entrada forçada. 

Neste ano, conforme a secretaria, o reforço foi de 218 agentes de combate a endemias (ACE) – são 1.500 no total. Desde janeiro, os 2.400 agentes comunitários de saúde (ACS) também participam do trabalho. Em dezembro, a PBH publicou decreto de situação de emergência em razão da alta infestação, que permitiu intensificar as ações intersetoriais. 

Denuncie

Número
. O cidadão pode denunciar possíveis focos através do 156 ou do e-mail www.pbh.gov.br/sac. Faça denúncias também pelo Portal O TEMPO

Saiba mais

Minas. Cerca de 1 milhão de imóveis em Minas Gerais encontram-se atualmente fechados ou inacessíveis aos agentes de saúde para o controle da proliferação do mosquito. O dado foi divulgado pelo superintendente de Vigilância Epidemiológica, Ambiental e de Saúde do Trabalhador da Secretaria de Estado de Saúde, Rodrigo Fabiano Said, em reunião na Comissão de Saúde da Assembleia Legislativa de Minas Gerais.

2015. O número de denúncias de imóveis com focos do Aedes aegypti – mosquito transmissor da dengue, do zika vírus e da chikungunya – feitas por moradores de Belo Horizonte já havia dobrado no fim do ano passado, em relação a 2014, conforme O TEMPO publicou na época. De janeiro a dezembro de 2015, a PBH recebeu média de 13 chamadas por dia. Agora, são sete por hora.

Atendimento. Já em dezembro, a reportagem mostrou que a burocracia para a população fazer a denúncia é um entrave. Havia registros de notificações feitas em outubro e novembro que ainda não tinham sido atendidas.