'Seguro do crime'

Detento exigia dinheiro de comerciantes de Betim em troca proteção contra roubos

O grupo cobrava até R$ 500 para vigiar as lojas; proprietários que não aceitaram o acordo tiveram estabelecimentos roubados e, um deles, teve o açougue queimado

Qua, 03/06/20 - 12h22

Um traficante conhecido como D.B, 36, que está preso na penitenciária Nelson Hungria, em Contagem, na região metropolitana de Belo Horizonte, estaria dando ordens para comparsas extorquirem comerciantes do bairro Jardim Teresópolis, em Betim, na mesma região, segundo a Polícia Civil (PC). A quadrilha estaria cobrando valores em dinheiro dos lojistas para, em troca, não deixar que os estabelecimentos do bairro fossem assaltados, segundo a PC. A corporação informou que trabalha para impedir esse tipo de crime articulado de dentro dos presídios.

O grupo estaria cobrando entre R$ 15 por dia e R$ 500 por mês, dependendo do tamanho da loja, para protejer os comércios de assaltos e ameaçava retaliar quem não pagasse os valores, segundo o delegado Thiago Machado, da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas . "As extorsões acontecem desde outubro do ano passado. Desde então, a gente conseguiu apontar algumas ações na região que seriam uma retaliação, entre elas uma queima provocada em um estabelecimento e roubos", diz. Um dos responsáveis por esses crimes era um menor, de 16 anos. O estabelecimento incendiado teria sido um açougue, segundo as investigações.

“A organização se propunha a fazer o papel do Estado para esses comerciantes e moradores, todavia o que eles estavam fazendo era tentar auferir ganhos, mas como não conseguiram começaram a praticar roubos na região”, relata o delegado. Foram cumpridos oito mandatos de busca e trës mandatos de prisao preventiva. Dois ja estao detidos e um esta foragido. 

O chefe da organização cumpria pena por vários crimes como tráfico de drogas, homicídio e formação de quadrilha, segundo o delegado.

O principal aliado do traficante fora da cadeia é conhecido como Gordinho, 26, que, até a publicação desta matéria, estava foragido, de acordo com a PC. Ele teria gravado um áudio encaminhado por WhatsApp com ameaças lojistas. "Pagar pra ninguém roubar suas lojas. Vocês acham que a polícia que vigia, mas a polícia não vigia nada não. Quem vigia o morro é nós. Quem que fica 24 horas aqui é nós. Tem que ajudar nós. É pra população, pra nós melhorar tudo aqui. R$ 15 por dia num vai apertar ninguém dessas lojas. Para a gente não esculachar ninguém a gente está pedindo essa ajuda", diz na mensagem de voz capturada pela PC.

Gordinho era responsável por recrutar menores para participarem das ações criminosas, como explica do delegado. “Ele foi apontado como o braço direito do D.B do lado externo e angariou menores de idade no intuito de fortalecer essas extorsões. O primo dele, 24, também teve o mandato de prisão preventiva expedido, mas ele já cumpria pena por um roubo praticado em março, segundo a polícia. 

As investigações apontam que a organização chefiada por D.B disputava o domínio do tráfico de drogas na região com outro grupo. "Existia essa guerra entre traficantes na região. A alegação do D.B é que ele sabe que esses novos criminosos que estão passando a ter o controle do local, seriam uma ameaça maior à sociedade, então ele estaria fazendo um favor, entre aspas, para dar segurança e alegando que os rivais cobrariam valores maiores, explica Thiago.

De acordo com a PC, alguns moradores se negaram reconhecer os suspeitos. "Os elementos serão levados à Justiça, e outras medidas serão adotadas para que de dentro da cadeia o investigado não continue levando o terror à população, estabelecer qualquer tipo de milícia", conclui o delegado.

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