DRT aponta más condições em fazenda

Força-tarefa encontra problemas relacionados à moradia e à saúde na comunidade instalada em São Vicente de Minas.

Seg, 31/10/05 - 21h55

SÃO VICENTE DE MINAS " Más condições de moradia e de saúde, além da existência de uma forte doutrina religiosa ou ideológica. Essas foram as primeiras conclusões da força-tarefa criada para investigar a comunidade vinda de São Paulo e instalada em pelo menos cinco municípios do Campo das Vertentes e do Sul de Minas.

Ontem, representantes da Delegacia Regional do Trabalho (DRT), da Polícia Federal e da Assembléia Legislativa fiscalizaram as duas principais fazendas do grupo, em São Vicente de Minas, perto de São João del Rei, onde vivem cerca de 400 pessoas ligadas à comunidade.

Em uma das propriedades, a fazenda Paraíso Manancial, comprada pelos forasteiros por R$ 120 mil, a força-tarefa encontrou 130 pessoas trabalhando basicamente no campo e vivendo em galpões, onde dormem separados homens, mulheres e crianças.

Dentro dos dormitórios coletivos, camas de três andares espremidas umas nas outras sob um telhado de amianto. Um dos cômodos inspecionados, de poucos mais de 20 metros quadrados, era divido por 18 mulheres, de crianças a idosas.

"A situação verificada é praticamente precária, com dormitórios quentes e apertados, principalmente para idosos e crianças", afirmou o chefe da DRT, Carlos Calazans.

Segundo o deputado estadual Edson Rezende (PT), integrante da Comissão de Saúde da Assembléia, as condições sanitárias também são ruins nas dependências da fazenda, com problemas nos banheiros e no armazenamento de água.

Apesar de morarem em fazendas, segundo Calazans, a maioria dos membros admitiu nunca ter trabalhado no campo e boa parte dos adolescentes acima de 14 anos não está frequentando a escola.

As informações dadas pelo chefe da DRT após a fiscalização incomodaram um dos líderes da comunidade, identificado como Gilberto Munhoz. Ele chegou a questionar as declarações, mas se recusou a falar com a imprensa. Segundo ele, a comunidade vai atender a todas as notificações.

Associação
Apesar da advertência da DRT, a comunidade ainda não está registrada e apenas 20 funcionários dos comércios montados pelo grupo estão com a carteira assinada.

Durante uma visita da força-tarefa à oficina e loja de auto-peças instaladas pelo grupo em São Vicente de Minas, o gerente do estabelecimento, Sandro Augusto, pediu mais 90 dias para regularizar a situação.

Segundo ele, o local, como todos os outros bens em cinco municípios de Minas (Cruzília, Caxambu, Minduri e Andrelândia, além de São Vicente) serão geridos por uma entidade jurídica, batizada Associação Beneficente dos Amigos Solidários.

Em documento encaminhado ao chefe da DRT, 15 pessoas ligadas ao grupo se comprometem a fundar a associação dentro das normas da legislação brasileira. Porém, nenhum dos nomes listados são de pessoas reconhecidas pelos membros como líderes da comunidade.

---

O TEMPO reforça o compromisso com o jornalismo mineiro, profissional e de qualidade. Nossa redação produz diariamente informação responsável e que você pode confiar.

Siga O TEMPO no Facebook, no Twitter e no Instagram. Ajude a aumentar a nossa comunidade.