Pombos

Em Belo Horizonte, pombos são animais de estimação e campeões de corrida

Defensores descartam risco de doença de pombos, mas assunto ainda é polêmico

Por Gabriel Rodrigues
Publicado em 20 de janeiro de 2020 | 07:00
 
 
Brena defende que a fama de “praga” dos pombos é preconceito Foto: Leo Fontes/O Tempo

A maquiadora Brena Braz, 38, anda para cima e para baixo com uma bolsinha cheia de milho moído, pois nunca se sabe quando um pombo vai aparecer pelo caminho.

Essas aves são uma de suas paixões – tanto que, só em 2019, ela acolheu em casa ao menos 30 pombos machucados ou feridos e cria um como animal de estimação.

Brena não está só: na contramão de quem os considera “ratos com asa” que ameaçam a saúde pública, há quem crie centenas de pombos em BH.

“O Titi sobe degrau por degrau atrás de mim, voa na minha direção, pede carinho e responde quando eu chamo. Eu o viro de barriga para cima para acariciá-lo. É a coisa mais fofa do mundo”.

Assim ela descreve Titi, o pombo que resgatou ainda filhote, em 2018, e acabou mantendo em casa após perceber que ele era cego. Hoje, Titi é a estrela da conta com mais de 75 mil seguidores que Brena tem no Instagram.

Esse foi um dos canais que a tornaram referência para quem encontra pombos em apuros nas ruas da cidade.

Brena abre as portas para eles desde 2016 e, com os anos de prática, aprendeu cuidados básicos, como retirar placas amareladas que surgem na garganta dos pombos que têm tricomonose, doença mais comum entre eles e que leva à morte em poucos dias se não for tratada.

“Comparando com o pessoal que resgata gato e cachorro, não gasto muito. Os veterinários já me atendem sem cobrar”, diz.

Quando profissionais não têm experiência com a espécie, um dos nomes a que recorre é o veterinário George Marinuzzi, 38. Ele cria as aves desde a infância, quando assistia à revoada de pombos criados por um vizinho no bairro Santo Antônio.

“Já entrei embaixo de carro para resgatar pombo”, conta. Em um sítio em Esmeraldas, na região metropolitana de BH, George cria 200 pombos-correio, famosos pelas corridas aéreas.

São da mesma espécie dos pombos de rua, mas há diferenças: “É como entre vira-latas e cachorros de raça. Os pombos-correio são de linhagens selecionadas há séculos para voar grandes distâncias em curto espaço de tempo”.

Outros 410 pombos-correio são vizinhos de moradores do bairro Alto Caiçaras, na região Noroeste de BH, onde o funcionário público Cláudio Pelucci cria as aves em um pombal de madeira de 43 m² no quintal de casa.

“Comecei com o pombo comum, que a gente chamava de “pé- duro”, e, depois, fui criando o correio para competição”, explica. Ele já não compete, mas nem pensa em deixar de criá-los: “É paixão de infância”.

Pelucci abre as portas para um grupo de pombos por vez sobrevoar a casa, e, eventualmente, outros acabam aparecendo. “Se você reparar, vai ver dedos faltando nos pezinhos dos pombos de rua. Como sofrem esses bichinhos”, lamenta.

“Doença do pombo”

Não é à toa que a expressão está entre aspas – oficialmente, a doença não existe.

O termo é usado no dia a dia para descrever a criptococose, doença causada pela aspiração de fungos das fezes do animal e também pelas de galinhas e periquitos.

Ela é grave e pode provocar meningite, cegueira e até matar. Fungos nas fezes também são capazes de causar histoplasmose (infecção pulmonar).

Um parecer técnico da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) diz que “a maioria dos indivíduos expostos não adoece, pois a resistência natural a essas doenças é elevada entre humanos”.

Pessoas com imunidade fragilizada (HIV/Aids, por exemplo) são mais suscetíveis, segundo a SBI. Ainda assim, não há consenso sobre a “doença do pombo”.

A infectologista Maria Socorro Correa, por exemplo, não recomenda o convívio. “Não é salutar conviver de forma intensa ou criar muitos pombos”, defende. 

Em caso de flagrante de maus-tratos, podem ser acionados a Polícia Militar de Meio Ambiente (telefone 190) e o Ibama (0800 618080). Os bombeiros (193) resgatam animais acidentados, e a Guarda Municipal (153) encaminha os pombos doentes ao setor de zoonoses.