Transporte Público

Empresas de ônibus já entregaram plano de recomposição de frota para BHTrans

Planejamento do SetraBH contempla 19 mil viagens por dia útil para cerca de 840.000 passageiros/dia. O número de viagens ainda é 22,45% inferior em relação as 24.500 que eram realizadas antes da pandemia

Por Hellem Malta e Leticia Fontes
Publicado em 14 de outubro de 2021 | 18:00
 
 
Prefeitura afirma que recomposição de horários será avaliada pela BHTrans ao longo de setembro Foto: Flávio Tavares / O Tempo

Já está nas mãos da Empresa de Transportes e Trânsito de Belo Horizonte (BHTrans) o plano de recomposição de frota elaborado pela empresas de ônibus que operam o sistema de transporte coletivo na capital. O documento foi entregue no dia 11 de outubro e, segundo o Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros de Belo Horizonte (SetraBH), contempla mais de 19.000 viagens por dia útil para cerca de 840.000 passageiros/dia útil, uma média de 44 passageiros por viagem.

Mas, a proposta do SetraBH prevê 5.500 viagens a menos (- 22,45%) em relação as 24.500 que eram realizadas antes da pandemia. Na ocasião, segundo o sindicato, os ônibus transportavam 1,208 milhão de passageiros por dia útil, uma média de 49 passageiros por viagem.

O plano de recomposição de frota foi solicitado pela Prefeitura para que o número de ônibus na cidade seja condizente com a demanda de passageiros devido à situação atual de reabertura das atividades em Belo Horizonte. Atualmente, a frota de ônibus da capital é composta por 2.393 veículos, segundo o SetraBH.

Mas, uma norma da BHTrans proíbe ônibus acima de 10 anos de uso circulando pelas ruas da cidade. Por isso, conforme o sindicato, cerca de 244 veículos devem ser retirados de circulação até o dia 31 de dezembro de 2021. Em nota, o SetraBH informou que acionou a Justiça para utilizar na recomposição de frota, veículos ainda em uso e em perfeito estado de conservação e operação, que tenham ou venham completar 10 anos de uso, nos próximos meses.

“Foi a alternativa encontrada pela entidade para atender uma necessidade emergencial do sistema que deverá ter um aumento de passageiros, com a aplicação da segunda dose no restante da população em outubro/novembro. A ação judicial é uma necessidade, tendo em vista que a BHTrans determinou a retirada de 140 veículos que acabaram de completar 10 anos de “vida” das operações de Belo Horizonte, fazendo reduzir a frota disponível em um momento que a demanda começa, gradativamente, a se recuperar”, disse.

O Setra BH ainda ressaltou que todo o planejamento de investimentos para 2020 e 2021 em renovação de frota, teve de ser suspenso por “conta das incertezas trazidas pelo estado de emergência sanitária da Covid-19 ainda no primeiro semestre de 2020”.

Procurada, a BHTrans informou que a proposta entregue pelas empresas foi rejeitada por não atenderem os requisitos da Portaria da BHTrans nº 095/2021, mas não deu detalhes das inconformidades apresentadas no plano de recomposição de frota. “Tendo em vista a edição da portaria no dia 28 de setembro de 2021, entendemos que o prazo para apresentação do Plano em conformidade é até 27/10/2021”, disse, em nota.

Ônibus metropolitanos - Em relação à frota de ônibus metropolitanos que atendem a capital e o retorno integral das operações, o Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros Metropolitano (Sintram), informou que a frota atual é composta por 2.584 veículos e que houve uma redução de apenas 6,78% da frota em relação aos 2.772 ônibus que circulavam antes da pandemia.

O Sintram disse ainda que o retorno total das operações está acontecendo de maneira gradativa, à medida em que as atividades presenciais são retomadas, de modo a ajustar o número de viagens à demanda crescente de passageiros. “Apesar do aumento dos últimos meses, o número de usuários ainda não voltou ao mesmo patamar do que era antes da pandemia, e hoje está 30% inferior em relação a março do ano passado. A redução da frota foi inferior à redução de passageiros, deste modo, a frota que está em operação é suficiente para atender a demanda atual”, disse, em nota. 
 

Falta de ônibus para funcionários obriga donos de bares e padarias a fechar mais cedo

Enquanto a BHTrans e as empresas de ônibus não entram em um acordo, as últimas flexibilizações e a retomada em quase 100% das atividades econômicas em Belo Horizonte tem feito os empresários de bares, restaurantes e padarias enfrentarem outro desafio: a falta de transporte público para os funcionários na volta para casa. Mesmo com os bares podendo funcionar até 01h00 da manhã, alguns estabelecimentos estão fechando mais cedo ou desembolsando um valor considerável, por mês, para pagar pelo serviço de transporte por aplicativo para os colaboradores voltarem para casa.

Esse é o caso do empresário Lucas Brandão. Proprietário do Agosto Butiquim, no bairro Prado, na região Oeste, e da Pizzaria Panorama, no bairro Floresta, na região Leste da capital, ele conta que tem fechado os estabelecimentos às 23h por falta de ônibus para os funcionários. “Os clientes tem voltado, o faturamento está próximo ao que era antes da pandemia. Mas, tenho fechado às 23h por falta de ônibus. Não tenho como ficar pagando aplicativo para eles voltarem, alguns moram longe e sai em torno de R$ 60. O último ônibus para muitos funcionários vai só até às 22h. Não consigo ficar com o estabelecimento aberto, liberando os funcionários que precisam sair por causa do ônibus, e funcionar só com alguns. Fica inviável o funcionamento”, afirma. 

Quem também está fechando o comércio mais cedo é o presidente da Associação Mineira da Indústria de Panificação (Amipão) e dono da rede de padarias Ping Pão, Vinícius Dantas. “A padaria geralmente funciona até 22h, mas nós estamos fechando mais cedo em uma hora justamente pela dificuldade dos nossos empregados em conseguir transporte público. Eu tenho sete padarias e 220 funcionários, em todas estamos fechando mais cedo. No fim de semana, fechar às 21h já está sendo difícil para os empregados porque algumas linhas de ônibus não funcionam após as 22h e, em outras, o intervalo entre as viagens é muito grande”, diz.

Na unidade do bairro Castelo, na região da Pampulha, Vinícius diz que precisa pagar transporte por aplicativo todos os dias para os funcionários. “Eu gasto 200 reais de aplicativo por semana na loja do Castelo porque não tem ônibus. É uma média de R$ 30 por dia”, afirma.

 

Problema no transporte público tem atrapalhado geração de empregos, diz Abrasel

O problema do transporte público tem atrapalhado a geração de empregos no setor de bares e restaurantes, segundo o presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes em Minas Gerais (Abrasel-MG), Matheus Daniel. “A falta do transporte público tanto em Belo Horizonte, quanto na região metropolitana, tem atrapalhado muito a geração de empregos e a manutenção dos atuais. O trabalhador precisa trabalhar e não pode ficar  sem esse transporte. O setor de bares e restaurantes, padarias e supermercados tem emprego para gerar e não está conseguindo pela falta do transporte. É responsabilidade do poder público  dar uma solução pra isso”, diz.

No Almanaque Choperia, do bairro Anchieta, na região Centro-Sul, mais da metade dos funcionários estão tendo que voltar para a casa, após o expediente, de transporte por aplicativo. “A falta de ônibus atinge todos os funcionários que não tem veículo próprio. Hoje, temos 22 colaboradores e 14 dependem do ônibus. Nós funcionamos até 1h da manhã e desde que reabrimos, em junho, estou pagando Uber para eles voltarem para casa. Tenho gasto R$ 4 mil por mês com aplicativo, é uma média de R$ 130 por dia. Ainda não consegui retomar o faturamento e estou tendo essa despesa não planejada com transporte por aplicativo”, diz Fabiano Rezende Aguiar, sócio do Almanaque.

O empresário ainda relata que está segurando novas contratações porque o gasto com o transporte por aplicativo tem onerado o negócio. “Reduzimos o número de colaboradores durante a pandemia. Agora, com movimento melhorando a gente tem que contatar e está segurando porque essa despesa com Uber está onerando demais. Tenho selecionado, mas estou dando preferência para quem tem transporte próprio”, afirma Fabiano.