Pandemia

Encontros, festas e idas a bares não são recomendados pela PBH após reabertura

Tanto entidades médicas, quanto o próprio Executivo, por meio do comitê de enfrentamento à Covid-19, afirmam que o isolamento social deve se manter independentemente do que foi aberto

Por Lucas Negrisoli
Publicado em 28 de agosto de 2020 | 17:33
 
 
BARES SAVASSI Foto: Joao Godinho / O Tempo

Belo Horizonte abriu as portas do comércio, de academias e de bares, mas a população ainda deve se manter em casa. “Festinhas”, encontros com amigos e até frequentar os botecos, durante os horários estabelecidos pela prefeitura nos últimos dias, continuam não sendo recomendados. Tanto entidades médicas, quanto o próprio Executivo, por meio do comitê de enfrentamento à Covid-19, afirmam que o isolamento social deve se manter independentemente do que foi aberto. 

A prefeitura de Belo Horizonte anunciou nessa quinta-feira (27) a ampliação da reabertura comercial e, em algumas semanas, o cenário na capital mineira será de “quase” normalidade em relação ao que está autorizado ou não a funcionar. Bares poderão abrir nos finais de semana, com venda de bebida alcoólica entre 17h e 22h. 

Academias podem funcionar a partir desta segunda-feira (31). Praticamente todo o comércio, serviços e varejo estão abertos entre 11h e 19h em dias úteis na cidade. Contudo, a flexibilização nas medidas de contenção ao coronavírus em Belo Horizonte não significam que a guerra à pandemia acabou, nem que seja recomendado ir aos estabelecimentos que foram autorizados a funcionar. 

“A recomendação é a mesma (de antes)”, afirma o médico infectologista e membro do comitê de enfrentamento ao vírus Carlos Starling – que desaconselha a população a frequentar bares ou promover encontros.

“Só saia quando absolutamente necessário, com máscara e distância em relação às outras pessoas. Não é hora de aglomerar em hipótese alguma. Eventos dentro de casa são para as pessoas que estão em isolamento dentro de suas casas. É bom evitar (festas e encontros)”, completa. 

Veja os estabelecimentos comerciais autorizados a funcionar
Todo o comércio varejista não contemplado na fase de controle: estabelecimentos de rua, centros de comércio e galerias de lojas Segunda a sexta-feira, entre 11h e 19h
Comércio atacadista da cadeia do comércio varejista da fase 1 (incluindo vestuário e exceto recicláveis)
Segunda a sexta-feira, entre 11h e 19h
Salões de beleza Terça a sexta, entre 11h e 20h; sábado das 9h às 17h
Atividades autorizadas na fase 1 dentro de shopping centers (Praças de alimentação funcionarão somente por delivery ou retirada, sem consumo local) Segunda a sexta-feira, entre 12h e 20h
Restaurantes Segunda a sexta, entre 11h e 15h
Drive-in Sexta a domingo, das 14h às 23h

O médico relata que teve contato com vários casos de pessoas que, para tentar mitigar a solidão do isolamento, convidaram um casal de amigos, ou poucas pessoas, para reuniões dentro de casa e se infectaram por isso.

“Temos que lembrar que algo entre 30% e 40% dos contaminados são assintomáticos e têm potencial para transmitir a doença. É como na época da AIDS. Havia uma propaganda que dizia ‘quem vê cara, não vê AIDS. Agora, quem vê cara, não vê corona”, conclui Starling.

A importância do isolamento neste momento é tamanha que o Conselho Municipal de Saúde de Belo Horizonte (CMSBH) foi contrário às reaberturas anunciadas. A presidenta do órgão, Carla Anunciatta de Carvalho, afirma que as medidas tomadas não devem salvar a economia e foram baseadas em “pressões econômicas e políticas, não sanitárias”.

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“O que aconteceu (a flexibilização) foi pressão dos empresários e dos adversários do prefeito, que vão concorrer à prefeitura neste ano. Kalil foi pressionado e também tem a questão de pensar na reeleição, acredito que abriu (a cidade) por causa disso”, defende. 

Anunciatta ressalta que as quedas observadas nos indicadores da pandemia em Belo Horizonte ocorreram devido ao isolamento social na cidade, mas que isso não significa que o vírus foi controlado. “Não temos medicamento, não temos vacina. A nossa posição ainda é o isolamento social, que é a única forma de conter o vírus”, argumenta. 

“A população está confusa e está recebendo essa mensagem (de que está tudo controlado) subliminarmente, quando não está. Por isso querem ir para bares, fazer reuniões em casa. A recomendação é sair (de casa) só para fazer atividades essenciais. Fazer festa, ir para bar, não é recomendado. Todos nós queremos sair dessa situação. Está ruim para todos nós. Todos sofrem e queremos ter uma esperança, mas não tem uma solução ainda”, continua. 

O infectologista Estevão Urbano, que também compõe o comitê de enfrentamento ao coronavírus da prefeitura, afirma que a gestão está “extremamente preocupada” e que “tudo o que foi permitido (com a flexibilização) ainda deve ser evitado ao máximo”. 

“Não sabemos como vai ser a adesão das pessoas ao isolamento (com a reabertura). Embora o quadro esteja melhorando, temos dois problemas que nos preocupam muito. A melhoria coletiva pode voltar a piorar. Nos preocupa (também) o lado individual. Uma melhor coletiva não diminui os riscos de uma pessoa se infectar. Quando você se infecta, você passa a ser 100% do problema, você pode ir para o hospital, e você pode morrer”, destaca o especialista. 

Prefeitura nega pressão política para reabertura

Tanto parte da população, quanto o CMSBH, por meio de sua presidenta, acusam a prefeitura da capital de ter cedido à pressões políticas e econômicas nos movimentos de reabertura dos últimos dias. Contudo, o Executivo e membros do comitê de enfrentamento ao coronavírus negam que isso tenha ocorrido. 

"A Prefeitura informa que não faz nada por pressão de quem quer que seja. No atual momento, os indicadores permitem a flexibilização, e o Comitê foi unânime nesta decisão", diz a PBH em nota.

“A pressão acontece, mas nenhuma decisão foi baseada em pressão. Agora, flexibilizar, dar uma janela para a economia girar, evitar perda de empregos, não significa que queremos que as pessoas façam isso. Todas aquelas que podem ficar em casa devem continuar fazendo isso”, ressalta Urbano. Ele afirma que a flexibilização “só foi permitida porque há dois indicadores (da Covid-19) no nível verde e um que tende ao verde. 

“A gestão da prefeitura ainda é muito bem avaliada nas pesquisas, o que daria ao (prefeito Alexandre) Kalil suporte para manter o distanciamento. Não teríamos por que ceder a pressões. Só fizemos a flexibilização porque temos os números”, garante o infectologista.

Posição parecida é expressada por Starling, que afirma que a abertura foi baseada em um “equilíbrio extremamente complicado”. 

“As medidas não são mais economias, ou mais sanitárias, mas baseadas em dados. Temos que preservar a vida das pessoas, e também a e economia. É um equilíbrio extremamente complicado. Mas não podemos esquecer que estamos com bares e restaurantes fechados desde março. O sacrifício de todos os setores tem que ser considerado, sim”, defende o médico.

Starling pontua que “se a catástrofe econômica que essa epidemia causou não for também amenizada” quem sofrerá as consequências “são as pessoas”. A nossa função enquanto técnicos é proteger a vida das pessoas em primeiro lugar, mas pensar também na econômica da cidade Levamos tudo em consideração”, conclui.

Números da pandemia em Belo Horizonte

Conforme boletim epidemiológico divulgado pela prefeitura de Belo Horizonte nesta sexta-feira, há 33.092 infecções confirmadas por coronavírus e 968 pessoas perderam a vida devido à Covid-19. 

A taxa de transmissibilidade da doença marca 0,95, enquanto a ocupação de leitos de Unidades Intensivas de Tratamento (UTIs) e de enfermarias nos sistemas público e privado, respectivamente, são de 52,8% e 47,5%.

O único indicador que não está no nível verde é o de UTIs, que continua no amarelo, com leve tendência de queda.

*Esta reportagem foi atualizada às 18h20, com resposta encaminhada pela PBH