Criações mineiras

Engenhocas da pandemia: invenções tentam facilitar prevenção ao coronavírus

Inventos vão desde uma forma mais barata de produzir máscaras de proteção até barreiras em mesas de refeitório de hospital com cano de PVC

Por Gabriel Rodrigues
Publicado em 01 de junho de 2020 | 06:00
 
 
Com aluno voluntário, professor da UFMG desenvolve máscaras face shield mais baratas e práticas Foto: Ramon Bitencourt / O Tempo

Do desenvolvimento de novas vacinas e tratamentos a soluções para garantir o distanciamento social no cotidiano, a criatividade tem sido preciosa no combate à pandemia. Neste momento, pesquisadores e empresas desenvolvem novas soluções para a prevenção contra a Covid-19, como o professor de design que pretende entregar milhares de máscaras “face shields” a um hospital e a startup que desenvolveu um tipo de relógio que mede a distância entre as pessoas.

As máscaras “face shields” (aquelas em que um plástico é posicionado sobre o rosto da pessoa) que foram desenvolvidas pelo professor de design da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Marcelo Pinto surgiram da necessidade. Em apuros pela dificuldade em conseguir os equipamentos, a equipe do Hospital João XXIII, na área hospitalar de Belo Horizonte, o procurou para saber se ele conseguiria produzir as máscaras a partir de impressão 3D, com a qual ele lida há 15 anos.

“Temos três impressoras na Escola de Arquitetura da UFMG, e duas estavam com problema por falta de recursos”, conta o professor. Junto a Humberto Zangueri, um aluno voluntário – já que o projeto ainda não conta com nenhuma bolsa de auxílio –, ele vasculhou a oficina da escola em busca de materiais e usou sucata de aço inox para produzir a estrutura de suporte das máscaras. Desse processo, resultaram cerca de 20 peças, que foram repassadas ao hospital.

Com a doação de inox por uma empresa, que deve se concretizar em breve, o professor acredita ser capaz de entregar cerca de 2.500 suportes de máscara para o João XXIII em até duas semanas. O diferencial das peças dele é que se adaptam a qualquer tipo de visor, o que é importante, já que o hospital recebe doações de vários formatos deles. Outro diferencial é o custo de produção: levando em conta apenas os materiais, cada item sai por R$ 5, e ele acredita que podem ser vendidos por até R$ 20, se forem comercializados.

A tecnologia foi registrada, e a UFMG vai receber pela venda dela, caso ocorra. “As universidades estão tendo oportunidade de mostrar um movimento que vinha acontecendo antes da pandemia. É histórico achar que estudar não leva a nada e que professor não trabalha, mas as universidades estão mostrando a capacidade que têm”, resume Marcelo. 

Startup de BH desenvolve “relógio” que mede distanciamento

Com sede no bairro Floresta, na região Leste de BH, a startup Logpyx desenvolveu a Aura, tecnologia que permite medir a distância entre as pessoas em uma empresa e avisar por onde o funcionário passou e com quem teve contato, caso ele acabe sendo diagnosticado com Covid-19.

Funciona assim: uma espécie de chip é colocada em um tipo relógio, capacete ou na roupa dos funcionários de uma empresa e se conecta a uma rede de internet interna do local. O aparelho indica onde as pessoas estão e, caso elas se aproximem, por exemplo, a partir de 2 m uma da outra, emite um sinal – que pode ser uma vibração ou um sinal luminoso no relógio delas.

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

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Todos os movimentos ficam registrados no sistema. Assim, se um trabalhador for diagnosticado com Covid-19, a gestão sabe com quais outras pessoas ele teve contato nos últimos dias e pode colocar esses funcionários em trabalho remoto, por exemplo. Segundo Adalci Righi, cofundadora da Logpyx, grandes indústrias já estão em contato com a empresa, que deve começar a disponibilizar o recurso em três meses.

“O pessoal percebeu que não dá para fazer tudo do mesmo jeito a vida inteira. Tem que haver uma mudança. Faz uns três anos que a indústria brasileira viu que precisa caminhar para uma automação maior e digitalizar-se. A pandemia acelerou isso”, resume Righi.  

Empresas como a multinacional Vallourec estão atrás de iniciativas do tipo para aumentar a prevenção em suas unidades. Por isso, ela lançou um edital de apoio a startups que desenvolvam soluções de combate à pandemia nas empresas. Até então, 40 já se inscreveram no processo seletivo, que permanece aberto. “São soluções que podem ajudar a sociedade como um todo, zelando pela saúde e pela segurança, mas também pela economia”, diz Gabriel Cordeiro, engenheiro de inovação da empresa

Casal de BH empreende na pandemia e vende tapetes sanitários

O representante comercial Welder Fonseca, 38, e a esposa, a psicopedagoga Mariana Machado, 32, enxergaram uma oportunidade de renda em um problema trazido pela pandemia: a necessidade de higienizar os sapatos antes de entrar em um ambiente. Desde que Welder soube da obrigatoriedade dessa higienização nas lojas de Lagoa Santa, na região metropolitana de BH, eles passaram a comercializar pedilúvios, uma espécie de tapete sanitizante.

Usado há muito tempo em fazendas para higienizar a pata de animais e impedir infecções, o item foi adaptado a um tamanho menor e tem sido vendido para lojas e casas. Trata-se de um tapete de material semelhante à camurça, com bordas vedantes de borracha. “Colocamos uma mistura de meio litro de água e três colheres de água sanitária no tapete. O líquido é trocado pelo menos duas vezes ao dia, em lugares com muito movimento, e uma vez, em casas”, explica Welder.

O tapete fica fora da porta e a pessoa precisa esfregar os pés sobre ele. O kit de R$ 110 vendido por Welder e a esposa vem acompanhado por um tapete “dry clean” para secar a sola do sapato.

Quem também está de olho no filão da higiene nos estabelecimentos é Wenderson Gonçalves, representante comercial do PedalGel, um totem de 1 m de altura que dispersa álcool em gel ao ter o pedal pressionado. “Ele comporta 2,5 L e faz 3.500 aplicações. Tenho vendido para lojas em BH, mas condomínios estão comprando também”, diz Wenderson. No site oficial, o totem é anunciado por R$ 671, mas Wenderson diz garantir um preço mais baixo se for procurado.    

Barreira de PVC separa colegas em refeitório de hospital

Em Goiânia, Goiás, uma equipe de nutricionistas do Hospital Alberto Rassi, instituição estadual, teve a ideia de criar barreiras para as mesas do refeitório. Com canos de PVC e rolos de plástico-filme, a equipe de manutenção do hospital elaborou uma espécie de muro que fica no meio de cada uma das 22 mesas do refeitório dos funcionários. Como só cabem duas pessoas na mesa, elas ficam separadas pelo plástico enquanto comem. Após cada refeição, o plástico é trocado. 

“Temos uma média de 200 pessoas almoçando no refeitório e escalamos o pessoal para irem em grupos a cada 15 minutos, com marcadores de 1,5 m de distanciamento nas filas. O plástico-filme já é utilizado para proteger alimentos que são enviados ao paciente, então o material está dentro da vigilância”, detalha a chefe da equipe que teve a ideia, Valéria Souza.   

Outra invenção pode ir parar nos restaurantes durante a pandemia: uma startup israelense criou máscara que se abre para a pessoa comer. Uma abertura no meio da máscara é aberta ou fechada a partir de uma espécie de alavanca conectada a ela e acionada pelo usuário. Pode até não dar certo para sorvete ou molhos, mas os criadores garantem que funciona para alimentos mais sólidos, como pedaços de carne. Se a ideia se popularizar, pode ser mais um dos itens comuns no dia a dia do “novo normal” imposto pela Covid-19.