Educação

Ensaio faz flagrante do descaso 

Registro de cenário de abandono em escola da capital rende prêmio internacional a fotógrafo

Sáb, 26/09/15 - 03h00

Era para a porta principal da Escola Estadual Pandiá Calógeras, no bairro Santo Agostinho, na região Centro-Sul da capital, estar aberta, e as escadas deveriam estar congestionadas de crianças. Em vez disso, até meados do ano passado, somente folhas secas ocupavam a passagem que dá acesso à instituição – inaugurada em 1942. O cenário de abandono foi registrado pelo fotógrafo Guilherme Bergamini em 2014 e rendeu, além das belas imagens, um prêmio internacional concedido neste mês. Na escola, porém, ainda não há nada a se comemorar, já que o espaço continua em obras, sem lousas, cadeiras, alunos nem professores.

A exemplo de outras escolas estaduais tradicionais da capital, como Barão do Rio Branco e Governador Milton Campos (Estadual Central), o Pandiá Calógeras está com obras em atraso, ocasionando transtorno a pais e estudantes. Enquanto os engenheiros não finalizam os trabalhos, os alunos foram transferidos para um imóvel particular onde a escola funciona de forma improvisada.

“Há três anos aguardamos essa reforma. Disseram que ia durar seis meses, mas até agora nada”, reclamou o microempresário César Domingos, 49, enquanto buscava a filha Isabel, 8.

Oficialmente, a Secretaria de Estado de Educação informa que a obra de restauração, iniciada em janeiro de 2013, será entregue em janeiro de 2016, mas alguns pais afirmam que a previsão é para o meio do ano que vem. No prédio alugado por mais de R$ 73 mil, os pais contam que as salas de aulas são dividas por compensados. A pasta não informou quando começou o contrato de aluguel.

Prêmio. Enquanto a obra não termina, Bergamini colhe os louros de seu trabalho fotográfico. Com o ensaio “Educação para Todos”, que retratou o descaso com o setor no Brasil, ele venceu o concurso de foto contemporânea “ExperimentoBio 2015”.

Uma exposição das imagens será montada na cidade espanhola de Bilbao, a partir de outubro. “Aquele cenário era apocalíptico. Vi o descaso do poder público com a educação em todas as esferas. Foi isso que me rendeu esse impacto visual”.

Quanto custa
Verba.
Ao custo de R$ 7.207 milhões, a obra do Pandiá Calógeras envolve reforma e restauração total, além de novo telhado, piso, pintura, instalações elétricas e hidrossanitárias.

História da escola
Endereços
. A escola foi inaugurada em 1935, mas na rua dos Tamoios. A mudança para o prédio atual aconteceu em 1942.

Mussolini. O nome é uma homenagem ao engenheiro e político João Pandiá Calógeras (1870-1934), ministro de Guerra no governo Epitácio Pessoa, de 1919 a 1922. Antes teve outros nomes: Dante Alighieri e Benedito Mussolini – esse último foi de 1935 até o início da Segunda Guerra Mundial, quando teve que ser renomeado.

Escolas tradicionais têm obras travadas

Além do Pandiá Calógeras, outros colégios estaduais de referência na capital também estão sofrendo com obras atrasadas. Na Escola Estadual Governador Milton Campos, o Estadual Central, a obra segue por nove meses além do prazo de entrega.

Ao custo de R$ 15,1 milhões, deve ser entregue no fim de novembro. No local estudaram figuras importantes, como a presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Getúlio Vargas.

FOTO: JOÃO GODINHO
Aulas devem ser retomadas em instituição somente em 2016

Na Escola Estadual Barão de Macaúbas, no Floresta, na região Leste, a reforma que deveria terminar em 2014 só deve ser entregue em 2016. Na Savassi, a obra na Escola Estadual Barão do Rio Branco deverá ter sete meses de atraso.

Segundo a Secretaria de Estado de Educação, todos os empreendimentos a cargo do Departamento Estadual de Obras Públicas (Deop) foram paralisados ao fim de 2014 pela administração anterior e parte deles já foi retomada.

FOTO: JOAO GODINHO / O TEMPO
Reforma promove reestruturação total da escola Pandiá Calógeras

 

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