Escola integral

Ensino médio em novo formato

Governo de Minas lançou nessa terça-feira (1) programa que começa para 7.411 alunos da rede estadual

Qua, 02/08/17 - 03h00
Secretária de Educação de Minas Gerais, Macaé Evaristo, anunciou as novas medidas nessa terça-feira (1) | Foto: Agência Minas/Divulgação

O governo de Minas Gerais anunciou nessa terça-feira (1) que 44 das 2.261 escolas de ensino médio no Estado passaram a ser integrais. Atendendo cerca de 2% das escolas, a medida já faz parte do plano que estabelece a reforma da educação no país. Ao todo, 7.411 estudantes estão matriculados nesta etapa do projeto, e a expectativa é que, até 2019, os três anos do ensino médio ofertem a educação integral no Estado. O anúncio do programa, batizado de + Educação, foi feito nessa terça-feira (1), na Escola Estadual Paulina Aluotto Ferreira, em Brumadinho, na região metropolitana.

Com a mudança, que também inclui outros 14 estabelecimentos de ensino fundamental, as instituições passam a ser chamadas de escolas Polo de Educação Múltipla (Polem). Será feita uma ampliação no número de aulas semanais, que passará de 25 para 45 aulas. Com isso, de cinco horas de permanência na escola, os alunos de 14 a 16 anos, do primeiro ano do ensino médio, ficarão por nove horas nas unidades – entrarão às 7h15 e sairão às 17h.

A novidade do programa, segundo a secretária de Educação de Minas Gerais, Macaé Evaristo, é o poder de escolha do aluno. Segundo ela, os estudantes vão poder escolher quais matérias serão estudadas no turno da tarde. “Reconhecemos que não é simples fazer uma escola integral. Fizemos uma pesquisa com os estudantes, e parte deles não queria ficar mais tempo nas escolas. Por isso, ouvimos o que eles gostariam de fazer no período da tarde na instituição”, disse.

A proposta do programa está baseada nos princípios da inclusão, da equidade, do direito à aprendizagem e do protagonismo juvenil, e abarca três campos de integração curricular – cultura, arte e cidadania; pesquisa e inovação tecnológica; e comunicação e novas mídias, segundo a superintendente de Juventude, Ensino Médio e Educação Profissional da Secretaria de Estado de Educação, Cecília Resende. “Foram formadas turmas para dança folclórica, conversação em língua inglesa e robótica. São 44 matrizes curriculares, de acordo com a demanda territorial. Em uma escola no Norte de Minas, por exemplo, os alunos pediram para aprender artesanato”, explicou.

Investimento. Foram contratados cerca de 3.500 servidores, entre professores, monitores, cantineiras e auxiliares. A escolha das instituições foi estabelecida por meio de critérios do Ministério da Educação (MEC), que pediu locais que tivessem pelo menos 15 salas ociosas no período da tarde e pelo menos 360 estudantes matriculados. Neste ano, foram investidos pelo MEC mais de R$ 19 milhões no projeto em Minas. O valor corresponde a R$ 2.000 por aluno/ano matriculado. Já o governo do Estado repassou R$ 6 milhões para o programa.


Saiba mais

Início. A primeira etapa do programa do governo federal ofereceu 266 mil novas vagas de tempo integral para as escolas de ensino médio no país. O MEC vai garantir apoio às redes estaduais por dez anos.

Estado. Minas conta com 3.655 escolas estaduais atualmente. Destas, 2.187 têm ensino fundamental e já oferecem atividades integrais para 150 mil alunos.

Programa. Para aderir ao programa, as secretarias estaduais de Educação precisam atender o número mínimo de 2.800 alunos e apresentar projeto pedagógico. A carga horária estabelecida na proposta curricular deve ser de, no mínimo, 2.250 minutos semanais, com um mínimo de 300 minutos de aulas de língua portuguesa, 300 de matemática e 500 de atividades flexíveis.

Controle. Para se manter no programa, as escolas devem apresentar redução da média de abandono escolar e de reprovação cumulativa, conforme dados do Censo Escolar. A taxa de participação no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) deve ser superior a 75%.

Estudantes aprovam ampliação de horário

Principais interessados na ampliação do horário letivo, os estudantes aprovaram a medida. Para Júlia Lopes de Oliveira, 14, aluna do primeiro ano do ensino médio da Escola Estadual Paulina Aluotto Ferreira, a ampliação do turno na escola pode ser bem proveitoso. “Gostei, porque no período da tarde teremos atividades que nós mesmo escolheremos, ou seja, vamos fazer algo que, além de gostarmos, vai ajudar a nossa formação como cidadãos”, disse.

Já Rayane Steffani Alves, 17, estudante do terceiro ano do ensino médio, lamentou que sua turma não será inserida no projeto. “Achei superinteressante, é uma pena que não conseguirei desfrutar. Porém, como diretora do grêmio, estou incentivando os alunos a se empenharem nas atividades”, afirmou. (MLG)


Pedagogo questiona falta de diálogo

Para o pedagogo e presidente do Instituto Alfa e Beto, João Batista de Oliveira, o programa é bom, mas abre lacunas para problemas básicos na educação. “Tudo depende da forma como o projeto vai ser executado. Escola boa é aquela que tem foco, não é um supermercado. O projeto integrado é algo bom, mas o novo ensino médio, o que sabemos até hoje, é algo vago, tem pouca chances de dar certo. Primeiro, porque muitos desses alunos não estão preparados para o currículo do ensino médio. Como coloca um aluno desse em um curso de mecatrônica, por exemplo, se ele não tem a matemática básica e suficiente?”, questionou o pedagogo.

Em vez de diversificar, a solução, segundo Oliveira, é resgatar o ensino desses jovens. “O sistema precisa capacitar e recuperar esses alunos. Dificilmente a escola tem capacidade de oferecer tudo, ainda mais em um país como o Brasil, que não tem essa tradição. A ideia é boa, mas, na prática, não funciona. É um projeto que não foi discutido de forma adequada, foi mal costurado”, criticou o especialista. (LF)

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