Confusão

Equipe de pesquisa sobre coronavírus é detida por engano em Governador Valadares

Pesquisa é financiada pelo Ministério da Saúde em parceria com a Universidade Federal de Pelotas; equipe foi liberada em seguida

Por Pedro Augusto Figueiredo
Publicado em 15 de maio de 2020 | 19:54
 
 
Curupaque, cidade no Vale do Rio Doce é um dos pontos de imigração para os EUA Foto: Cristiane Mattos / O Tempo

Um estudo coordenado pela Universidade Federal de Pelotas (UFPEL), do Rio Grande do Sul, que busca estimar o número de pessoas com coronavírus no Brasil e medir a velocidade de expansão da Covid-19 terminou com a equipe de pesquisa detida na cidade Governador Valadares, no Vale do Rio Doce, na última quinta-feira, 14. Os agentes foram liberados após prestar depoimento, mas deixaram a cidade logo em seguida.

A Epicovid-19, como a pesquisa é chamada, é financiada pelo Ministério da Saúde. A coleta de sangue para os testes e as entrevistas são feitas pelo Ibope Inteligência. O objetivo é estimar a proporção de pessoas com anticorpos para a Covid-19 no Brasil. 

O estudo selecionou 133 cidades de todos os estados brasileiros. Em cada cidade, estão sendo aplicados entrevistas e testes rápidos para o coronavírus em 250 pessoas selecionadas aleatoriamente com base em dados censitários do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A primeira fase de aplicação começou na quinta-feira, 14, e vai até este sábado, 16. Novas fases acontecerão em 15 e 30 dias.

Em Minas Gerais, além de Governador Valadares, foram selecionadas para participar do estudo as cidades de Belo Horizonte, Barbacena, Divinópolis, Ipatinga, Juiz de Fora, Montes Claros, Patos de Minas, Pouso Alegre, Teófilo Otoni, Uberaba, Uberlândia e Varginha.

Segundo relatos, a Secretaria Municipal de Governador Valadares não foi informada da realização dos testes. Procurada, a Prefeitura de Governador Valadares não respondeu aos questionamentos da reportagem. De acordo com a epidemiologista Mariângela Freitas, que integra a coordenação do estudo na UFPEL, houve um problema de comunicação.

“A pesquisa é idônea, foi aprovada pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP) e tem financiamento e apoio do Ministério da Saúde do Brasil. Em algumas cidades, como Governador Valadares, essa comunicação apresentou falhas que já estão sendo corrigidas paras as próximas etapas”, disse.

Por meio de nota, o Ibope Inteligência confirmou que os agentes eram funcionários do instituo e disse que a coleta de dados foi prejudicada. Por causa do ocorrido, as atividades na cidade foram estendidas até domingo.

"As secretarias de saúde dos 133 municípios foram avisadas. Algumas receberam o ofício com atraso, o que ocasionou situações como essa. No entanto, um dia antes do início da pesquisa um email informando o início do estudo foi enviado para todos os prefeitos desses municípios", disse a empresa.

No caso de Governador Valadares, moradores do bairro Santa Rita estranharam a presença de agentes coletando sangue para a pesquisa da UFPEL e chamaram a polícia. De acordo com a universidade, a equipe de pesquisa foi detida para prestar depoimento e liberada logo em seguida.

Em um vídeo recebido por O TEMPO, um morador filma um veículo da Secretaria Municipal de Saúde da cidade e também registra a presença da polícia no local. Segundo ele, os funcionários da prefeitura e os policiais estavam apurando se havia autorização para os agentes realizarem a coleta do sangue das pessoas em suas residências.

“Doido demais, 2020, aqui no bairro Santa Rita, a Polícia Militar abordou dois cidadãos, estão investigando, chegou agora o pessoal da Prefeitura, da Secretaria de Saúde, para saber o porquê de eles estarem tirando sangue das pessoas dentro de casa, o que é, se tem autorização ou não tem”, diz o homem.

O Ministério da Saúde não respondeu aos questionamentos da reportagem até a publicação desta notícia.