ATIVOS IMOBILIÁRIOS

Esquema envolvia funcionários da AngloGold, cartórios e vereador de Rio Acima

Três funcionários do setor imobiliário da empresa foram presos; Polícia Civil cumpriu mandados de busca e apreensão, em Nova Lima, Rio Acima e Raposos

Qui, 17/09/20 - 18h23

Um esquema criminoso de venda de imóveis da mineradora AngloGold Ashanti e de cobrança indevida por comodatos (empréstimo gratuito de propriedade) da mineradora nas cidades de Nova Lima, Rio Acima e Raposos, na região metropolitana de Belo Horizonte é investigado pela Polícia Civil. Três funcionários da empresa foram presos nesta quinta-feira (17), em Nova Lima, na região metropolitana de Belo Horizonte. De acordo com a Polícia Civil a prisão aconteceu na casa dos suspeitos, já que eles trabalhavam em esquema de home office.  Um vereador de raposos, que não teve identidade revelada pela polícia, também é investigado por participar do esquema.

Além das prisões, a PCMG cumpriu sete mandados de busca e apreensão nas cidades de Raposos, Rio Acima e também em Nova Lima. Nos locais, foram apreendidos pen drives, notebooks, desktops e vários documentos relativo a loteamentos.

Segundo o delegado Marlon Pacheco, da 3ª Delegacia de Fraudes da Polícia Civil as investigações iniciaram após denúncia da própria AngloGold, em dezembro de 2019. 

“Identificamos duas fraudes. A primeira seria um loteamento e a venda desses terrenos que ainda pertenciam a AngloGold sem as devidas autorizações e sem o conhecimento da empresa. Numa segunda frente, essas pessoas intermediavam contratos de comodato (empréstimo gratuito de propriedades) da empresa e cobravam, no entanto, esses comodatos eram concedidos pela empresa a terceiros gratuitamente”, explica o delegado.

De acordo com as investigações, os funcionários presos pertenciam ao setor de diretoria imobiliária da empresa, que tem cerca de 3 mil imóveis nas três cidades. Esses imóveis incluem propriedades em áreas urbana e rural e não são explorados economicamente, segundo informou a Civil.

Ainda conforme o inquérito, os empregados da mineradora agiram juntamente com pessoas que não pertenciam à empresa, entre elas o vereador de Raposos que não teve identidade revelada e, até mesmo cartórios nas três cidades. 

Levantamentos preliminares apontam que foram vendidos cerca de 100 propriedades da AngloGold de maneira criminosa nas três cidades da região metropolitana. Eram imóveis rurais, urbanos e inclusive os suspeitos fizeram um loteamento de áreas da mineradora para venda de lotes. Esse loteamento, segundo a PCMG, fica na região de Nova Lima. O valor levantado pela atividade ilegal ainda não foi apurado pelas investigações.

Com relação aos contratos de comodatos, um tipo de concessão gratuita de imóvel para que este espaço não fique sem os devidos cuidados ou sem cumprir sua função social, os suspeitos negociavam por valores entre R$ 5 mil e R$ 25 mil reais cada contrato. “Sem consentimento da empresa eles estavam cobrando por isso”, explica o delegado Pacheco.

Segundo o delegado, os materiais apreendidos durante ação policial desta quinta-feira (17) serão periciados pela Polícia Civil para levantamento dos valores que o grupo conseguiu com a negociação criminosa dos ativos imobiliários. Também será verificado o tempo que o grupo agia e quais são efetivamente os demais envolvidos no esquema. 

O que diz a AngloGold 

A empresa também se pronunciou sobre o caso e disse que tem colaborado com as investigações. "A operação de hoje envolveu a prisão de suspeitos, empregados da companhia.  A empresa está cooperando plenamente com a autoridade policial para que a investigação possa ser concluída de forma justa e com todo rigor necessário. Como vítima da situação, a AngloGold Ashanti encaminhou as informações às autoridades para devida apuração dos fatos, uma vez que envolve também terceiros", pronunciou a empresa por meio de nota.

“Estamos apurando o crime de associação criminosa, falsidade ideológica, estelionato e lavagem de dinheiro”, explica o delegado Agnelo de Abreu Baeta, do Departamento Estadual de Combate à Corrupção e a Fraudes.

Parlamentar tem escritório para venda de imóveis

Segundo as investigações, há indícios de que o parlamentar agia na venda de imóveis que eram de propriedade da empresa juntamente com os funcionários presos. Ainda conforme o inquérito, o vereador tinha até um escritório para a venda ilegal dessas propriedades. A Câmara Municipal de Raposos informou, por meio de nota, que ainda não foi notificada sobre o caso. "Só nos pronunciaremos depois de estar totalmente inteirados da situação", esclareceu a casa legislativa.

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