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Estresse triplica risco de infarto

Produção de hormônios como a adrenalina contrai as artérias, provocando um maior esforço do coração.

Por CARLA CHEIN/MURILO ROCHA
Publicado em 19 de março de 2006 | 00:01
 
 
Produção de hormônios como a adrenalina contrai as artérias, provocando um maior esforço do coração.

Atualmente, na medicina internacional, há um consenso sobre a existência de pelo menos nove fatores de risco para a ocorrência de doenças cardiovasculares. Entre eles, estão agentes conhecidos como o colesterol, considerado o maior vilão, a obesidade (particularmente a abdominal) e a hipertensão arterial.

Os outros são o estresse, sedentarismo, hábitos alimentares inadequados (fast food, por exemplo), diabetes, tabagismo e histórico familiar. No entanto, entre todos eles, o estresse tem merecido cada vez mais atenção de especialistas.

Conforme o estudo Interheart, divulgado em 2005 e referência mundial para a classificação dos fatores de risco, entre as 50 mil pessoas dos 35 países envolvidos na pesquisa, aquelas com estresse apresentavam risco três vezes maior de infartar do que quem relatava não ter o problema.

O levantamento " feito por pesquisadores canadenses " foi divulgado no Congresso da Sociedade Européia de Cardiologia.

"O estresse hoje é considerado um gatilho para desencadear problemas do coração, principalmente quando está associado a outros fatores", confirma o diretor da Sociedade Brasileira de Cardiologia e do Instituto de Hipertensão, o médico Marcus Bolívar.

Conforme o cardiologista, o estresse psicossocial é diferente de uma situação de um estresse momentâneo e é caracterizado por reações regulares do organismo a situações de pressão ou perturbação.

"A produção de hormônios como a adrenalina permanece aumentada e provoca contrações das artérias, levando a um maior esforço do coração", explica. Para Bolívar, uma das dificuldades de se controlar fatores de risco, como o estresse, é a pressão da sociedade por resultados.

"Atualmente, se trabalha mais tempo com mais exigências e cobranças", avalia. O engenheiro civil Aguinaldo Figueiredo Filho, 61, conhece bem essa sensação.

Com mais de um fator de risco, ele ainda convivia com o desgaste emocional no trabalho, onde chegava a ficar até 14 horas. As três pontes de safena o fizeram diminuir o ritmo. "Agora não atendo nem cliente internacional entre 8h e 10h."

Hipertensão e colesterol
Os números da hipertensão arterial também preocupam os especialistas. No Brasil, em torno de 20% dos adultos são hipertensos " um em cada cinco.

E, segundo ressalta o coordenador do Setor de Avaliação de Tecnologias em Saúde da Secretaria de Estado da Saúde de Minas, o cardiologista Robespierre Costa Ribeiro, em torno de 25% " um em cada quatro " não está em tratamento médico.

O colesterol é considerado um grande adversário devido à dificulade encontrada junto aos pacientes com níveis de colesterol acima de 200 mg/dl de se reduzir esses índices.

Mesmo com dieta adequada e tomando medicação, segundo os cardiologistas, é possível reduzir os níveis em apenas 20%. Os outros 80%, diz, estão relacionados a fatores genéticos.