Revolta

Falta de água em Pará de Minas causa protestos e Câmara é apedrejada

Após protesto realizado por moradores na segunda-feira (14), Câmara Municipal amanheceu com vidraças quebradas por pedradas na terça-feira (15)

Qua, 16/07/14 - 20h11

O racionamento de água em consequência da longa estiagem que vem atingindo Pará de Minas, na região Central do Estado, vem gerando revolta entre a população, que fez dois grandes protestos na última sexta-feira (11) e segunda-feira (14), e chegou a apedrejar a Câmara Municipal na madrugada de terça-feira (15). Segundo a Copasa, entre janeiro e março deste ano choveu aproximadamente 30% da média histórica na cidade.

Conforme as informações da Câmara dos Vereadores, a fachada do segundo andar do prédio foi atingida por pedradas e teve vários vidros quebrados, provavelmente durante a madrugada de terça. A Polícia Militar (PM) foi chamada para registrar o Boletim de Ocorrência e o caso será investigado pela Polícia Civil, uma vez que os autores do ataque contra o patrimônio público ainda não foram identificados.

A relação com os protestos por conta da falta de água na cidade é apenas uma suspeita, conforme a assessoria do órgão. O presidente da câmara Marcílio Souza acredita que é fundamental que a população mantenha a calma nesse momento, pois ele teme pela segurança das pessoas que manifestam pacificamente. “Esse tipo de atitude só agrava ainda mais a situação, pois gera gastos para a Câmara que é mantida com dinheiro público. Mas acreditamos que as investigações apontarão os vândalos, que aproveitam dos protestos para destruir, tumultuar e colocar em risco a vida daqueles que apenas estão reivindicando seus direitos”, disse o vereador.

Procurada por O TEMPO, a assessoria da Copasa afirmou que a cidade vem passando pelo mais prolongado e drástico período de estiagem dos últimos anos. "Como reflexo dessa crise hídrica, a Estação de Tratamento de Água (ETA) tem apresentado uma vazão média de 65 litros por segundo, quando, em uma situação normal, essa vazão seria superior a 200 litros por segundo", afirma o texto divulgado.

Ainda conforme a empresa estatal, para minimizar o problema ela vem adotando várias medidas emergenciais para manter o abastecimento na cidade. Uma delas é o regime de manobras por meio do qual o sistema de abastecimento de água vem sendo operado desde setembro de 2013, fazendo com que todos os imóveis recebam água em intervalos alternados. Além disso, cerca de 18 caminhões-pipa têm reforçado o abastecimento na cidade diariamente (principalmente nas partes mais altas), além de atenderem escolas, creches e hospitais.

A busca por meio de poços profundos também vem sendo feita, com 46 perfurações na cidade, sendo que 15 foram produtivos e 13 já estão em operação, fornecendo cerca de 65 litros de água por segundo para o sistema de abastecimento do município. Outros dois poços profundos estão sendo equipados esta semana para que, em seguida, sejam interligados ao sistema de abastecimento de Pará de Minas.

"A Copasa esclarece que a solução definitiva para a situação do abastecimento de água em Pará de Minas será o transporte de mais de 200 litros por segundo de água bruta do rio Paraopeba para a Estação de Tratamento de Água da cidade. O projeto do empreendimento já foi concluído em 2008 e a outorga para o uso dessa água já foi solicitada pela Copasa. Entretanto, o início das obras depende da renovação do contrato de concessão, vencido em 11/10/2009, entre o município e a Copasa", finaliza a nota.

Audiência Pública

Segundo a Prefeitura de Pará de Minas, na noite de terça-feira foi realizada uma audiência pública para discutir  o edital e o contrato de Prestação de Serviços Públicos de Abastecimento de Água e Esgotamento Sanitário. A audiência aconteceu na Câmara Municipal e contou com cerca de 300 pessoas, entre autoridades, representantes da Copasa, do Ministério Público, líderes comunitários e da população.

O prefeito Antônio Júlio presidiu os trabalhos e abriu a audiência pública. "“Estamos iniciando hoje um novo caminho na história do abastecimento de água e saneamento básico na cidade. É um processo complicado que estamos trabalhando há sete meses. Muita gente está me culpando, me responsabilizando, fazendo ameças a mim e à minha família. Está um fardo pesado, mas eu não vou desistir. Eu poderia lavar minhas mãos, assinar o contrato com a Copasa e deixar o povo enfrentar novos racionamento nos próximos 35 anos. Mas, eu sou responsável, comprometido com o dever do cargo que eu ocupo. Eu vou resolver este problema a ajudar o povo de Pará de Minas", disse o prefeito durante a audiência.

A audiência é uma exigência legal do processo licitatório e, nos próximos 10 dias, o município avaliará as propostas apresentadas pela população e o que for permitido por lei será incluído no edital. Entre os dias 5 e 10 de agosto o edital será publicado no Diário Oficial e, após isso, ele ficará 45 dias a disposição das empresas interessadas em participar da licitação. Somente após isso, as empresas que se interessarem apresentarão as propostas. 

Além das medidas que já estão sendo tomadas pela Copasa, o prefeito ainda informou na audiência que a Secretaria Municipal de Saúde está fazendo um cadastro das famílias com pacientes acamados, que terão atendimento especial. "Levaremos água nestas residências, onde existem pessoas doentes, por meio de caminhões-pipa. E de antemão, já peço para o que os vizinhos entendam a situação dessas famílias. Todos nós fomos atingidos pela falta d´águia. Ninguém escapou do racionamento", finalizou.

Descaso

Os moradores da cidade estão passando por problemas desde o início do ano. É o que conta Cláudio Humberto Vieira, de 62 anos, que é morador da cidade há 20 anos e nunca passou por problema semelhante. "De maio para cá começaram a fazer esse racionamento, que é necessário por causa da falta de chuvas. No começo faltava água em um dia e no outro tinha. Depois davam água por um dia e tiravam por dois. O problema é que chegou até a oito dias sem uma gota", reclamou. 

Ele é morador do bairro Dona Tunica, mas afirma que outras regiões chegaram a ficar até 14 dias sem água. "O que está acontecendo já está virando problema de saúde, porque como que você fica com uma casa com os sanitários da forma que ficam? Até cinco dias as pessoas se viram, mas oito já não tem como. O problema é que a distribuição não está sendo feita com inteligência", reclama Vieira.

Sônia Aparecida Pinto, de 50 anos, é moradora de Pará de Minas há cinco anos e já pensa em voltar para Belo Horizonte. Ela é moradora do bairro Padre Libério, onde os moradores fizeram uma grande manifestação na segunda. "Depois do protesto melhorou um pouco. Ficamos quase 10 dias sem água e precisamos ir para a rua para poder ter o direito de ter água em casa", afirmou a mulher. 

A filha dela está de resguardo com filho recém nascido em casa e, para tomar banho durante os dias sem água, era necessário comprar água mineral. "Cheguei ao cúmulo de ter que colocar sacola na mão e tirar as fezes do vazo para conseguir ficar dentro de casa. Ninguém consegue viver desse jeito", protestou Sônia. 

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