Na região hospitalar

Farmacêutico é preso ao se passar por médico e quase fazer inseminação

Suspeito foi detido pela PM durante consulta marcada pela vítima para fazer a retirada dos óvulos

Por JOSÉ VÍTOR CAMILO
Publicado em 04 de março de 2015 | 14:05
 
 
Clínica onde o falso médico atendia fica na rua Rio Grande do Norte, esquina com avenida Alfredo Balena REPRODUÇÃO / GOOGLE STREET VIEW

Um farmacêutico foi preso nesta quarta-feira (4) após se passar por médico e quase fazer um procedimento de inseminação artificial na esposa de um policial militar, uma técnica de enfermagem de 33 anos, que procurou uma clínica em plena região hospitalar, no bairro Santa Efigênia, na região Leste de Belo Horizonte.

O cabo Eduardo Alves, da 3ª Companhia do 1º Batalhão da Polícia Militar (PM), conta que a vítima os procurou após descobrir que o médico a quem havia pagado R$7 mil para fazer o procedimento na verdade não tinha a formação. "Ela fez o pagamento inicial, mas após algum tempo começou a desconfiar e, pouco antes de fazer a coleta dos óvulos, ela resolveu pesquisar no conselho de medicina. Foi então que ela descobriu que na verdade ele era um farmacêutico", contou.

A clínica fica na rua Rio Grande do Norte, quase na esquina com a avenida Professor Alfredo Balena. "Nesta quarta ela marcou uma nova consulta e assim que entrou acompanhada do marido, eles falaram que sabiam que ele não era médico e que queriam o dinheiro de volta. Ele os levou até uma agência bancária e sacou a quantia. Quando o sargento (marido da vítima) deu voz de prisão ele ainda ofereceu R$ 30 mil para eles não o denunciarem", explicou o militar.

Em seguida, as vítimas acionaram uma viatura para efetuar a prisão do falso médico. "Foi então que ele ofereceu outros R$ 30 mil, tentando subornar também o policial. Ele foi preso em flagrante e será encaminhado para a delegacia, juntamente com a vítima", finalizou o cabo Eduardo. Ainda de acordo com o policial, a clínica conta com diversos outros médicos de inúmeras especialidades, mas apenas o senhor preso foi alvo de denúncia. 

Na Central de Flagrantes (Ceflan) 2, o falso médico não quis conversar com a imprensa. Entretanto, ainda de acordo com o cabo Eduardo, ele confessou o crime e alegou que estava com problemas financeiros. "Ele disse que é farmacêutico há 40 anos e começou com esse golpe recentemente por conta da dificuldade financeira", finalizou. 

A clínica do falso médico levava o nome de "Infertilidade e Fé", ainda segundo as vítimas. No receituário ele se denominava como especialista em infertilidade e imunologia viral, apesar de não colocar o seu registro no conselho de medicina.

Casal tentava ter filhos há 5 anos

Em entrevista à reportagem de O TEMPO, sargento Antônio Dias, lotado no 39º Batalhão, contou que há 5 anos eles tentam gerar um filho. "Chegamos a procurar outra clínica de fertilização, mas cobravam de R$ 15 a R$ 20 mil. Começamos uma poupança e procurei outras clínicas mais baratas, foi então que este 'médico' me procurou", relatou. 

O falso médico abordou o casal pela internet, dizendo que era médico do Hospital das Clínicas e que lá era necessário passar por uma fila. "Como a gente estava tentando há muito tempo ele disse que nos atenderia em uma clínica particular a um preço mais barato, mas cobrou a vista", lembrou a vítima. 

A primeira consulta ocorreu no dia 21 de fevereiro e as vítimas ainda retornaram ao consultório outras três vezes antes de descobrirem a verdade. Nesta quinta-feira (5) a mulher passaria pelo procedimento cirúrgico. "Ela já estava tomando medicamentos para ovular, ele deu a receita. Já estava ansiosa por conta do procedimento cirúrgico e nós começamos a desconfiar do jeito de falar dele, sem termos técnicos. Bastou uma busca no Google e encontramos um outro processo contra ele no interior", contou o sargento. 

Rio Vermelho

As outras vítimas do falso médico são da cidade de Rio Vermelho, na região do Alto Jequitinhonha. O casal acionou a Justiça depois da mulher passar pelo procedimento cirúrgico várias vezes no início de 2014. Segundo o advogado do casal do interior, Edmílson Dias da Silva, o farmacêutico teria pedido R$ 8  mil ao casal para realizar uma fertilização em vitro.

“Meus clientes pagaram à vista e fizeram três procedimentos em Belo Horizonte, no endereço da clínica dele, em BH. Na quarta tentativa eles descobriram que não se tratava de um médico e o resultados esperados da fertilização não aconteceram. Diante disso, o casal ficou muito traumatizado com a situação toda e nos solicitou que movêssemos uma ação contra ele por dano material", contou o advogado.

O processo corre na Comarca de Rio Vermelho.

Conselho Regional de Farmácia

Procurado, o Conselho Regional de Farmácia (CRF) disse por meio de nota que o farmacêutico é um profissional que está inscrito como responsável técnico do estabelecimento Imunologia Viral Laboratório e Consultoria Ltda para exercer as atividades de análises clínicas. A entidade informou que desconhece o exercício das demais atividades praticadas pelo farmacêutico e que deve abrir um processo de investigação.

Para denúncias que envolvem profissionais com conduta antiética o CRF tem um canal direto: www.crfmg.org.br/novosite/servicos/licenses/denuncias/denuncias-deatuacao-

Atualizada às 19h38