Semana Santa

Fiéis percorrem 6km e acompanham encenação da 'Paixão de Cristo'

Além da subida pela mata da Serra da Piedade, em Caeté, na região Central do Estado, os católicos enfrentaram também uma sensação térmica abaixo dos cinco graus durante a Via Sacra

Sex, 14/04/17 - 13h28

Os sons da matraca, o cheiro do defumador e as luzes das velas anunciavam aos moradores de Sabará, na região metropolitana de Belo Horizonte, o início das celebrações da sexta-feira da paixão. Pontualmente, às 4h a procissão do Nossa Senhora das Dores cortou a arquitetura barroca dos casarões e igrejas do centro histórico da cidade e manteve a tradição católica de renovar a fé na ressurreição por meio de um dia de sacrifícios e reflexão. No município vizinho, o cenário para a fé foi a mata da Serra da Piedade, em Caeté, onde os fiéis enfrentaram os 6Km de subida, neblina e uma sensação térmica abaixo dos cinco graus para acompanhar a representação da Via Sacra de Cristo.

O aposentado José Custódio, 72, ignorou a fraqueza nas pernas, vestiu sua melhor roupa e madrugou para enfrentar o morro da Santa Cruz, em Sabará. Ele conta que todo ano faz o percurso e se orgulha da tradição já estar no costume da terceira geração da família. “Eu faço questão de estar aqui, é a data mais importante do ano para nós cristãos e a forma que temos para demonstrar nossa gratidão e reforçar nossa fé para enfrentar os desafios”, contou Custódio que estava acompanhado da filha de 34 anos e o neto de 13 que seguiam as matracas, uma tradição da procissão na cidade que sobrevive desde o século XVIII.

Na frente da procissão, a imagem da Nossa Senhora das Dores era carregada por fiéis. Centenas de pessoas seguiam alternando cantos e rezas. Pelo quarto ano seguido, a Capela de Bom Jesus não pode ser o destino final da Via Sacra, pois está com as estruturas abaladas e necessita de reforma. Em função dessa interdição, a procissão teve que retornar para o ponto de partida, na Igreja de São Francisco.

No Santuário Nossa Senhora da Piedade, em Caeté, fiéis de várias cidades vieram em peregrinação para participar das celebrações da sexta-feira da paixão. Welberth Júnior, 21, e mais dois amigos saíram de Venda Nova, em Belo Horizonte, às 21h de quinta-feira. Depois de 11 horas caminhando eles chegaram até o Santuário. Para Júnior, a compreensão de ressurreição é muito mais do que um simbolismo. Ele fraturou a terceira vértebra da coluna em uma tentativa de suicídio. Chegou a perder temporariamente os movimentos da perna. Hoje, recuperado da lesão e da depressão ele dedicou o dia para demonstrar em sacrifício a gratidão por ter retomado às rédeas do seu destino. “Eu vive uma ressurreição em vida. Toda essa caminhada madrugada a dentro é a forma de entregar a minha gratidão a Deus. Depois de tudo que passei, eu estou aqui porque eu percebi que não precisamos de muito para sermos felizes quando temos fé. O recado que eu deixo para as pessoas para elas nunca desistirem de si e busquem a felicidade nas coisas mias simples”, contou com lágrimas nos olhos e os pés descalços.

Na Via Sacra da Serra da Piedade, atores representaram cada uma das 14 estações da Via Sacra , da condenação até o sepultamento de Jesus Cristo. O frio e neblina que chegavam a forma gelo em roubas e cabelos dos fiéis, deixavam o caminho íngreme ainda mais desafiante.

O Bispo Auxiliar da Arquidiocese Metropolitana de Belo Horizonte, Dom João Justino, destacou que a celebração é mais importante do calendário católico. “Sexta-feira da paixão é o dia marcado pelo recolhimento para meditar sobre esse mistério, de um Deus que se fez homem e que traz a boa nova da Salvação, mas que é condenado a morte. A morte de Jesus tem um significado muito importante, que é ele ter assumido aquilo que é mais pesado para humanidade. No entanto Jesus passou pela Morte e a venceu por dentro. Isso é não a evitou, mas a abraçou e passando pela morte alcançou a ressurreição, mostrando assim que a morte não é a palavra definitiva, mas ressurreição”

Dom João Justino ainda chamou atenção para o momento político vivido pelo Brasil, chamou os fiéis a tomarem conhecimento e se posicionarem. “A Igreja tem insistido que nós precisamos participar. Participar no sentido de tomarmos conhecimento dos fatos, formularmos um juízos tendo como à luz para esse entendimento a doutrina social da Igreja. Nós não podemos entrar para a histórica como entrou Pilatos que lavou as mãos. Nós temos responsabilidade, precisamos criar espaços de debate para tomarmos uma posição”, finalizou.

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