CARNAVAL APÓS DESASTRE

Foliões deixam tristeza de lado e ocupam as ruas de Mariana

Animados com os blocos carnavalescos que desfilam pelo município, moradores e turistas ignoram momentaneamente a tragédia que aconteceu no distrito de Bento Rodrigues e caem na folia neste sábado (6)

Sáb, 06/02/16 - 18h35

Nem a lama, nem a crise, nem o sol de mais de 35º desanimaram o povo de Mariana de comparecer ao Bloco dos Farrapos, o mais tradicional da cidade, na tarde do sábado. Com um carnaval mais local, e menos turístico, que o de Ouro Preto e Diamantina, houve uma certa desconfiança sobre qual seria o clima da festa neste ano, após o desastre da barragem da Samarco. A prefeitura chegou a pensar em cancelar o evento. Mas a verdade é que a decisão não era dela.

"É o povo que faz o carnaval de Mariana. Não é a prefeitura, nem quem vem de fora", afirma a cozinheira Mercês Silva, 43, nascida e criada na cidade. O engenheiro João Paulo Menezes, 30, ecoa a determinação. "A gente precisa extravasar. Não estou sentindo nada de tristeza, só um clima bom. Acho que vai dar mais gente", opina. Já a secretária Márcia Bento, 33, é mais comedida. "Está um pouco parado em vista do ano passado, mas está só começando", avalia.

Se as mais de 2 mil pessoas que saíram com o Farrapos na rua Wenceslau Brás pareceram devagar para os locais, quem veio de fora não sentiu diferença. "Fiquei meio cismado com o lance da barragem, mas tem bem mais gente, está bem mais animado", constata o estudante paulistano Evandro Bertacini, 19, que frequenta o carnaval de Mariana desde os 12. A turismóloga Emanuelle Rodrigues, 24, que veio de São José do Goiabal passar o feriado com o namorado marianense pela primeira vez, concorda. "Passei o fim de ano aqui, e as ruas já estavam cheias, o povo animado", conta. Rafael Maia, o namorado, completa que o carnaval "está melhor que no ano passado, que choveu".

Já as opiniões de quem conhece o Farrapos desde que ele nasceu como uma "bandinha" são divididas. A aposentada Verá Guimarães, 60, moradora da Wenceslau Brás desde criança, afirma não ter sentido nenhuma diferença neste ano. "Não adianta ficar abafando tristeza, só não pode gastar muito. A cidade está simples, mas bonita", avalia. Seu vizinho José Soares, 77, também aposentado, discorda. "Tem menos gente e bem menos movimento porque a crise está muito difícil. A prefeitura não tem dinheiro", argumenta.

Se tinha mais ou menos gente, pouco ou muito dinheiro, ou se o mundo estava se acabando em crise, pouco importava para quem seguia o trio elétrico dos Farrapos. Para eles, o mundo só ia acabar na quarta-feira de Cinzas, ou quando a cerveja secasse. "Diminuiu, mas está bom. O Raul Seixas cantou 'o que começa só acaba quando alguém quer'. O Farrapos não vai acabar nunca", profetiza a empresária belo-horizontina Heloísa Bastos, 60 anos, moradora de Mariana há 20. Não há lama que sufoque a alegria do povo.

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