Na ativa

Grupo agiu no Espírito Santo 

Após proibição, ex-membros da Le Cocq teriam criado nova entidade, mas acabaram presos em 2015

Seg, 04/04/16 - 03h00
Símbolos. Objetos com temas da Scuderie Detetive Milton Le Cocq podem ser encontrados na internet | Foto: Reprodução

Apesar de parecer coisa do passado, grupos de extermínio parecem manter suas atividades pelo país. É o que aponta uma investigação realizada pela Polícia Civil do Espírito Santo. Em janeiro do ano passado, três suspeitos que integrariam um esquadrão da morte foram presos em Vitória (ES), suspeitos de envolvimento no assassinato do vendedor Fernando César Faria, 45, mineiro de Resplendor, na região do Rio Doce, cidade que faz divisa com o outro Estado.

Responsável pelas investigações, o delegado José Lopes Pereira, chefe da Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) do Espírito Santo, conta que os acusados são membros da Associação dos Proprietários de Veículos Motorizados do Espírito Santo (Aprovem-ES). De acordo com ele, durante as investigações do crime, descobriu-se que o grupo, com cerca de 300 pessoas, teria sido formado por ex-integrantes da Scuderie Le Cocq, proibida de atuar em 2004. A troca do nome seria, conforme o delegado, uma maneira de manter as atividades do esquadrão de matadores.

“Era o mesmo ritual de ação. Na sede, localizamos documentos da instituição que havia sido proibida pelo Ministério Público e pela Justiça. Só que, nesse crime que investigamos, o homicídio foi encomendado. Eles mataram e sumiram com o corpo”, lembra. Além do assassinato, durante as buscas na sede da associação, os policiais capixabas descobriram que o grupo também praticava extorsões e venda de armas e munições.

O crime. Além dos três ex-integrantes da Le Cocq – um ex-policial, um ex-servidor público e um eletricista (mandante do crime) –, uma garota de programa foi presa. O delegado conta que a motivação da morte de Faria seria o envolvimento da vítima com a filha do eletricista, relacionamento que não era aprovado por ele. Então, conforme as investigações, o acusado teria encomendado a morte do vendedor aos seus companheiros do grupo. “Eles criaram um perfil falso e usaram garotas de programa para atrair a vítima para um sítio, na zona rural de Guarapari (ES). De lá, eles sumiram com ele”, conta o delegado.

O policial contou ainda que, após as prisões dos suspeitos, ele chegou a receber ameaças. “Recebemos um disque-denúncia alertando que eles pretendiam me matar”.

A ousadia dos integrantes do grupo chama atenção do analista criminal Guaracy Mingard, estudioso da segurança pública há 35 anos. Ele alerta que esse comportamento é perigoso para a sociedade. “Para conseguirem proibir (a Le Cocq) foram necessários vários governos. Havia associados em diversos órgãos, até na Justiça. Ameaçaram de morte juiz, promotor, jornalistas. É preciso investigar”, conclui.

A reportagem não conseguiu localizar nenhum responsáveis pela Aprovem-ES.

A dissolução

Justiça.
O processo que deu fim à Le Cocq do Espírito Santo começou em 1991 e só foi acatado pela Justiça em 2004. O delegado responsável, Francisco Badenes, precisou de proteção devido às ameaças.

Associação do Rio foge do estigma negativo

“Scuderie Detetive Le Cocq: uma nova era”. Com esse slogan, a Associação Filantrópica Scuderie Detetive Le Cocq, do Rio de Janeiro, tenta afastar a imagem de justiceiros decorrente da história da organização nos anos 60, 70 e 80. Em uma página na internet, seu presidente, Humberto Fittipaldi Filho, defende a entidade de relações com grupos de extermínio. “Estamos voltados a colaborar com as autoridades da segurança pública e a fazer ações assistenciais, para mostrar para a população que somos realmente uma ‘nova era’”, argumenta.

No ano passado, jornais de grande circulação chegaram a fazer reportagens sobre as ações do grupo. Em maio, a associação panfletou na lagoa Rodrigo de Freitas, orientando a população a utilizar o disque-denúncia. Já em outubro, membros organizaram patrulhas para combater a onda de arrastões em Ipanema. Eles criticaram as ações de “justiceiros” que atacaram passageiros de ônibus sob a alegação de que seriam suspeitos dos arrastões.

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