RIO DOCE

Grupo percorrerá caminho contrário da lama para lembrar tragédia

Em protesto para denunciar os estragos causados pela ruptura da barragem de Fundão, manifestantes saíram de Linhares, no Espírito Santo, rumo a Mariana, em Minas

Seg, 31/10/16 - 19h53
Trajeto a ser percorrido por manifestantes segue o curso contrário da lama que atingiu o rio Doce | Foto: Lucas Bois/Jornalistas Livres

Integrantes do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) iniciaram nesta segunda-feira (31) em Regência, distrito de Linhares, no Espírito Santo, uma marcha para denunciar os estragos causados pela lama de rejeitos da mineradora Samarco.

O protesto, batizado de “Um ano de lama e luta”, conta com cerca de 300 pessoas que seguirão, em sete ônibus, até Bento Rodrigues, em Mariana, na região Central de Minas, local onde o maior desastre socioambiental da história do Brasil teve início no dia 5 de novembro de 2015 com a ruptura da barragem de Fundão. A tragédia deixou 19 mortos e 256 feridos.

“Nós temos atingidos de vários locais do país que vieram para Regência iniciar essa marcha e protestar contra a impunidade em relação aos responsáveis por essa catástrofe. Até hoje pouco foi feito para se recuperar os estragos causados pela lama. Já somos 300 e esse número só vai aumentar durante o caminho”, disse uma militante do MAB.

A expectativa do grupo é a de chegar em Mariana na noite desta quarta-feira (2). Durante o percurso, eles farão duas paradas: em Governador Valadares e Ipatinga. No primeiro local, haverá uma audiência com integrantes do grupo indígena krenak, que vivem em pequenas reservas próximas ao município de Resplendor, no Vale do Rio Doce. Antes da lama de rejeitos devastar o rio, eles o utilizavam para pesca, rituais, festas e extraíam ervas às margens para produzir remédios. Na segunda parada, estudantes secundaristas ipatinguenses embarcarão nos ônibus para acompanhar a marcha.

“Vamos pegar mais gente nesses pontos. A ideia é fazer um grande ato quando chegarmos em Mariana”, destacou a manifestante.

Veja vídeo do início da marcha:

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O fim da marcha resultará no início do Encontro dos Atingidos da bacia do Rio Doce que acontecerá até o dia 5 de novembro, quando se completará um ano do rompimento de Fundão. Além dos distritos de Mariana, os integrantes do MAB e de outros movimentos sociais visitarão a Usina Hidroelétrica Risoleta Neves, mais conhecida como Candonga, localizada em Santa Cruz do Escalvado, na Zona da Mata. Hoje, 43,5 milhões de m³ de rejeitos ainda estão depositados nos cerca de 100 km entre a Samarco, em Mariana, e a usina.

Defesa Civil acompanha medidas preventivas

Uma equipe da Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil (Sedec) iniciou nesta segunda uma vistoria técnica nos locais atingidos pelos rejeitos em Mariana. A inspeção, que foi determinada pelo ministro da Integração Nacional, Helder Barbalho, tem o objetivo de avaliar as medidas desenvolvidas pela Samarco para alertar e evacuar a população na eventualidade de novos desastres envolvendo as barragens.

Durante a vistoria, a equipe coordenada pelo secretário Nacional de Proteção e Defesa Civil, Renato Ramlow, reforçará para as autoridades a necessidade de manter as Defesas Civis estaduais e municipais bem treinadas e capacitadas, participando de simulados, congressos e fóruns. Tanto que nos dias 8 e 9 de novembro será realizado um exercício de evacuação com a população nos municípios abrangidos pelas represas de Candonga e Samarco.

Os trabalhos serão concluídos nesta terça-feira, quando a Sedec deve divulgar um balanço de tudo o que foi apurado pela atuação preventiva.

Seminário do Greenpeace discute impactos

Para discutir com a população e a comunidade acadêmica os processos de recuperação do rio Doce, seis times de pesquisadores independentes das universidades UFMG, UFOP, USP, UFRJ, UFBA e UFES se reuniram na noite desta segunda, em Mariana, para um seminário promovido pelo Greenpeace em parceria com o projeto Rio de Gente. Eles abordaram os impactos sociais e ambientais do rompimento da barragem de Fundão. 

“As pesquisas estão ligadas a cinco temas diferentes: água, fauna, flora, direitos humanos e impactos sociais. Abordamos quase tudo que foi impactado no rio Doce. Esses estudos foram realizados depois da iniciativa Rio de Gente, que arrecadou dinheiro em um show beneficente. O Greenpeace geriu esse fundo e o reverteu para essas pesquisas independentes”, explicou Fabiana Alves, da campanha  de Clima e Energia do Greenpeace.

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