Entrevista

Hospital da Oncomed começa a atender em um ano e meio

“Vamos trazer silêncio (para a região), pois o hospital é uma instituição que traz isso.”

Qui, 29/06/17 - 03h00
Roberto Fonseca é médico e um dos fundadores da Oncomed | Foto: Uarlen Valério

O novo hospital da Oncomed, que vai ocupar o antigo prédio da Fundação Hilton Rocha, no bairro Mangabeiras, na região Centro-Sul de Belo Horizonte, deve estar em pleno funcionamento no prazo de dois anos. A previsão é do médico e diretor da instituição, Roberto Fonseca. Após uma disputa que se arrastou desde 2009, a Justiça autorizou a reforma do imóvel. “As obras começaram, e, em um ano e meio, já devemos ter alguns setores prioritários em funcionamento, como a radioterapia e os primeiros 50 leitos”, afirmou nessa quarta-feira (28), em entrevista ao programa Manhã Super, da rádio Super Notícia FM.

A requalificação vai transformar o prédio, que hoje está inativo, em um centro de referência em oncologia, com 220 leitos, 65 mil internações e 180 mil procedimentos, atendendo pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS), de convênios e particulares.

Para a realização da obra, foram acertadas 37 medidas compensatórias que vão beneficiar a população da capital. Entre elas está a criação de um corredor ecológico, com o plantio de mil árvores nativas, que vai ligar o bairro Taquaril à Lagoa Seca, permitindo que a fauna possa circular em áreas de preservação como o Parque Estadual da Baleia e os parques das Mangabeiras e Paredão da Serra.

O que evoluiu de dez anos para cá no tratamento contra o câncer? Onde a ciência e a tecnologia foram buscar novas formas de tratar a doença? O que causa o câncer?

Para se ter ideia, 30% dos tumores malignos dos seres humanos têm relação direta com o tabagismo. Gasta-se no país R$ 60 bilhões para o tratamento de doenças relacionadas ao tabagismo, inclusive o câncer. “Ah, mas arrecada-se muito com imposto”, podem dizer. Isso não é verdadeiro. A arrecadação é de R$ 13 bilhões, então tem um déficit brutal. O foco é em prevenção primária e secundária. A primária é evitar que o indivíduo fume para evitar que ele tenha câncer de pulmão, de bexiga, de pâncreas etc. A secundária é a vigilância epidemiológica adequada, que vai levar quando a doença aparecer, ao diagnóstico em uma fase mais precoce, e, com isso, oferecer um maior potencial de cura. Para tratar de câncer, é fundamental evitar que ele apareça. Além disso, uma grande área hoje que se tem apostado muito é a imunoterapia. A partir do momento em que tivermos uma nova unidade hospitalar em Belo Horizonte, que é o hospital Hilton Rocha, vamos ampliar de maneira muito significativa a atenção à saude, não só em oncologia, mas em também em oftalmologia e cardiologia. 

Estamos acompanhando a discussão em torno da instalação do hospital e da preservação da serra do Curral. É possível que ele cause algum tipo de prejuízo?

A estrutura está lá há mais de 40 anos. Temos que entender que é uma área que já recebeu alterações do homem. Além disso, todas aquelas casas do entorno são tombadas, e a única edificação local que tem autorização do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) para modificar e reformar é justamente o hospital.

O projeto não tem muito impacto de alteração de fachada. Vão ser construídos novos andares?

Não. Não existe (no projeto), não pode (ser feito).

FOTO: Leo Fontes
Reforma. Justiça autorizou as obras de requalificação do antigo prédio do Instituto Hilton Rocha, que vai sediar a nova unidade da Oncomed

Existe essa temeridade de que vá causar algum impacto na serra do Curral?

Para que tenhamos a serra do Curral efetivamente preservada, nós precisaríamos de reavaliar toda aquela área das casas, da edificação do hospital, do Palácio das Mangabeiras. Mas não tem sentido jogar isso tudo no chão, não somente pelo custo, mas porque uma área com esse grau de alteração é quase impossível voltar ao normal. Então, o que se tem que fazer são melhorias, e, depois de seis anos, nós tivemos autorização para o início das obras e vamos oferecer 37 medidas compensatórias.

Quais são as principais?

Uma muito interessante para o meio ambiente é um corredor ecológico, com o plantio de mil árvores, atrás da edificação, ligando os parques e as áreas de preservação. Vamos preservar e melhorar. Agora, a polêmica, ela vem – e eu respeito isso – de um grupo pequeno de moradores. Já fizemos duas pesquisas com a população local, e a maioria quer e aceita o hospital. Vamos trazer silêncio, pois o hospital é uma instituição que traz silêncio obrigatoriamente. Então, aquelas grandes festas que acontecem na região vão desaparecer. Vamos trazer segurança, que é um problema sério no bairro hoje. O hospital também vai valorizar as casas – é um bairro antigo, temos inúmeros imóveis que estão vazios, e o custo vai modificar para melhor. Temos esse benefícios para a comunidade local, mas o mais essencial é que vamos oferecer acesso nessas áreas importantes da saúde, principalmente a oncologia, em que temos um déficit brutal de vagas em Belo Horizonte. 

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