Barreiro

Identidade de menino agredido há uma semana é um mistério

Delegado pensava que criança de aparentes 8 anos estava morta; estado de saúde dela é gravíssimo

Por Luiza Muzzi
Publicado em 23 de abril de 2014 | 03:00
 
 
Lote vago. Menino foi achado em lote, desacordado e com um ferimento na cabeça; morador acredita que ele esteja envolvido com drogas DENILTON DIAS /O Tempo

A Polícia Civil começará a investigar nesta quarta o caso do garoto encontrado gravemente ferido em um lote vago do bairro Diamante, na região do Barreiro, na última quarta-feira. O menino, que permanece internado em estado grave na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) Pediátrica do Hospital de Pronto-Socorro (HPS) João XXIII, até hoje não foi identificado nem procurado por familiares. Uma semana depois, enquanto ele tenta sobreviver respirando com a ajuda de aparelhos, a história ainda continua permeada por mistérios.


Uma das pistas que poderia auxiliar nas investigações foi questionada no fim da tarde dessa terça pelo HPS. Segundo moradores da região onde a criança foi encontrada, o menino, embora aparentasse ter 8 anos, na verdade teria 14 e estaria envolvido com tráfico de drogas. Conhecido como De Menor, ele teria duas tatuagens – uma lua em um braço e uma espada próximo ao pé –, e estaria jurado de morte por traficantes da região. Por meio de sua assessoria de imprensa, o HPS, no entanto, negou que o garoto internado tenha qualquer imagem tatuada no corpo.

“Tenho 99% de certeza que era ele. Dois dias antes ele me falou que estava enrascado, dizendo que precisava de dinheiro, senão os caras iam matá-lo”, contou um morador da região que pediu anonimato. “Ele mora no bairro Vila Pinho, mas a família não está nem aí para ele, então ele estava sempre por aqui. Dias atrás já tinham dado um coro nele, e agora ele sumiu. Mas pode saber que, se nenhum familiar correu atrás, é porque é gente que não presta”.

Segundo o morador, De Menor estaria usando, no momento do desabafo sobre a dívida das drogas, óculos de sol iguais ao que foram encontrados ao seu lado no dia da agressão.

“Havia realmente um par de óculos de sol pequeno e algumas moedinhas ao lado dele”, contou a moradora de uma casa vizinha ao lote vago. Segundo ela, o garoto foi encontrado encolhido próximo ao muro de sua casa, desacordado, com a cabeça aberta e a boca espumando. “É muito estranho. Não ouvimos nenhuma movimentação à noite. Nem o cachorro do vizinho que sempre late quando alguém passa. Essa rua é tranquila, mas ao mesmo tempo é onde o pessoal procura para fazer coisa escondida. Ficamos assustados”, disse.

Desconhecimento. No hospital, com a negação sobre a existência das tatuagens, a dificuldade da identificação da criança permanece. As únicas informações são que o menino, que teve um trauma na face e permanece com quadro estável, é moreno, com cabelo encaracolado, peso aproximado de 30 kg e idade aparente de 8 a 10 anos.

Segundo a assessoria de imprensa do HPS, o garoto vestia calça e blusa de uma escola do bairro João Pinheiro, na região Noroeste. Acionados, diretores da instituição foram até o hospital, mas negaram conhecer a criança. No decorrer da semana, apenas uma senhora que tem um filho desaparecido foi até a unidade, mas também não reconheceu o menino.

“Ele chegou aqui com todas as características de um morador de rua. Estava muito sujo, parecendo que não tomava banho ou trocava de roupa há dias”, afirmou um funcionário da recepção do hospital.

Sem identidade

Providências. Na tentativa de identificar a criança, o João XXIII acionou o Juizado da Infância e da Juventude, o Conselho Tutelar e o Centro de Referência de Assistência Social (Cras) do Barreiro.

Entenda o caso
Relembre.
O garoto foi encontrado por um morador na manhã da última quarta-feira, em frente a um lote vago da rua Professor Frederico Rangel, no bairro Diamante, na região do Barreiro. Ele estava desacordado e com um ferimento na cabeça.

Socorro. O menino chegou a ser socorrido pela polícia até a Unidade de Pronto-Atendimento (UPA) do Barreiro, mas, devido à gravidade dos ferimentos, precisou ser transferido para o Hospital de Pronto-Socorro (HPS) João XXIII.

Procura. Em uma semana, apenas uma senhora foi até o hospital para tentar reconhecer a criança, sem sucesso. O menino segue sem identificação.

Desaparecidos. Nesta quarta, pelo menos 756 crianças (de até 11 anos) e 4.076 adolescentes (de 12 a 17 anos) estão desaparecidos em Belo Horizonte, segundo a Divisão de Referência da Pessoa Desaparecida, da Polícia Civil de Minas Gerais.

Minas. No interior do Estado, são 224 crianças e 1.791 adolescentes desaparecidos. Os dados foram atualizados em dezembro de 2013.