Pampulha

Igrejinha ficará sem quadros

Medida visa proteger 14 obras de Candido Portinari de infiltração; três delas já foram afetadas

Qui, 16/02/17 - 02h00
Risco. Infiltração no telhado já havia causado danos às paredes da Igrejinha da Pampulha, na capital | Foto: Douglas Magno – 9.1.2017

O Conselho Gestor da Pampulha recomendou a retirada dos 14 quadros pintados por Candido Portinari expostos na Igrejinha da Pampulha, em Belo Horizonte. Três deles haviam sido atingidos por uma infiltração, mas a presidente do conselho e superintendente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Célia Corsino, explicou que a retirada de todas as obras é uma decisão preventiva. Além dos três quadros atingidos, os outros 11 passarão por uma completa restauração.

A retirada das obras que retratam a Via-sacra deve começar na semana que vem e ficará a cargo da Cúria Metropolitana, “proprietária” do acervo. Segundo a Arquidiocese de Belo Horizonte, uma equipe de especialistas avalia a melhor maneira de fazer a remoção das obras e para onde elas serão levadas. O espaço é mantido em segredo.

Célia explicou que os danos causados pela infiltração são bem pequenos e que não chegaram a comprometer o trabalho de Portinari. “São problemas provocados pela umidade na madeira. Nada demais. Mas é importante fazer esse trabalho por causa da preservação do patrimônio e da importância dessas obras. Como já íamos fazer a retirada dos quadros do local, vamos aproveitar e fazer uma conservação preventiva neles”, afirmou.

Após o término da restauração, os quadros devem ficar expostos em outro espaço, que não será a Igrejinha, que também passará por restauração a partir do fim do ano.

Custo. De acordo com Célia, ainda não existe uma estimativa de valores de todo esse processo, mas os custos serão minimizados, uma vez que Iphan, Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha), prefeitura e Arquidiocese de Minas Gerais, todos integrantes do Conselho Gestor da Pampulha, contam com restauradores em seus quadros de profissionais.

A parte mais dispendiosa será a de transporte e embalagem dos 14 quadros, que precisam ser feitos com muito cuidado e por equipes especializadas. Ainda segundo Célia, o arcebispo de Belo Horizonte, dom Walmor Oliveira de Azevedo, está ciente da necessidade da retirada dos quadros o quanto antes. “Vamos dar todo apoio necessário ao que eles precisarem, mas essa parte cabe a eles”, disse a presidente do Conselho Gestor da Pampulha.

“Chegaram a propor que os quadros fossem levados para uma exposição, mas nós recomendamos que, primeiro, seja feita a restauração. Acredito que até o fim do ano os quadros já estejam restaurados e possam ser novamente apreciados pelo público”, afirmou Célia.

Laudo. A retirada dos quadros de Candido Portinari foi recomendada depois de um laudo elaborado por técnicos do Iphan, do Iepha, da Fundação Municipal de Cultura e da Cúria Metropolitana. 


Plástico protege telas da umidade

A preocupação com o acervo começou em dezembro do ano passado, quando o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) fez uma vistoria na Igrejinha da Pampulha e constatou a presença de infiltrações no teto bem em cima de onde ficam alguns quadros pintados por Candido Portinari. Como apenas a parte superior da obra está presa diretamente à parede, os danos provocados pelas chuvas de fim de ano não foram tão grandes.

Uma medida paliativa foi adotada enquanto as peças não são retiradas. Todas as noites e nos dias de chuva, os quadros são cobertos com plásticos. As 14 obras criadas por Candido Portinari entre 1944 e 1945 e que enfeitam as paredes da Igrejinha estão entre os principais trabalhos do artista, nascido em São Paulo em 1903 e considerado um dos expoentes da pintura brasileira no mundo. Em 1991, o acervo foi restaurado pelo Centro de Conservação de Bens Culturais Móveis da UFMG.

Obras. As telas, que medem 49 cm x 49 cm, foram emolduradas com madeira. Além da Via-sacra, Portinari é responsável pela pintura do altar-mor e do painel do lado de fora da igreja, que retrata a vida de são Francisco de Assis. A relação do pintor com o local começou em 1944, quando ele recebeu o convite do arquiteto Oscar Niemeyer para ser o responsável pela decoração do conjunto arquitetônico da Pampulha.

Por ironia do destino, Portinari morreu vítima de intoxicação provocada pelas próprias tintas que utilizava em seu trabalho diário. O artista faleceu no Rio de Janeiro em 1962, aos 59 anos.


Saiba mais

Patrimônio. As obras de reforma da Igrejinha que vão resolver o problema da infiltração que atingiu os quadros de Candido Portinari estavam marcadas para ser feitas no início deste ano, mas foram adiadas para o fim de 2017. Apesar de os recursos já estarem garantidos pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), a melhoria precisou esperar porque 229 casamentos estavam agendados para a igreja nesta temporada, e as noivas não aceitaram mudar o local.

Custo. A questão gerou muita polêmica. Depois de várias reuniões, os órgãos de defesa do patrimônio histórico aceitaram adiar a reforma por um ano. O custo total da obra de restauração será de R$ 2 milhões, que estão assegurados.

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