Brumadinho

Indenização não repara dor e revolta 6 meses após tragédia

Cento e oitenta e um dias depois de barragem da Vale se romper, famílias ainda esperam por entes

Qui, 25/07/19 - 03h00
Mãe de Robert Ruan Oliveira Teodoro, Iolanda de Oliveira da Silva convive com a angústia de não poder enterrar o filho, ainda desaparecido na tragédia | Foto: Leo Fontes

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Robert Ruan Oliveira Teodoro tinha apenas 19 anos quando vestiu pela última vez o uniforme do trabalho e partiu em direção à mina Córrego do Feijão, da mineradora Vale, em Brumadinho, na região metropolitana de BH. Era 25 de janeiro de 2019. Iolanda de Oliveira da Silva, 49, se lembra com detalhes da última bênção que deu ao filho há exatos seis meses, antes que ele desaparecesse em meio ao mar de lama que vazou da barragem I às 12h28 daquele dia, deixando 248 mortos e 22 desaparecidos. Se pudesse, Iolanda cavaria cada metro de barro seco com as próprias mãos para encontrar o corpo do filho, retirá-lo da lista de vítimas não localizadas e dar a ele um enterro digno. 

O drama de Iolanda é o mesmo de outras 21 famílias que ainda se sentem presas ao dia 25 de janeiro por não terem tido a chance de se despedirem de seus entes queridos e que lutam para que eles não se tornem apenas estatísticas. 

Os desaparecidos representam 8% do total de vítimas do desastre. O trabalho de resgate, que já é a maior operação de busca e salvamento da história do país, segundo o Corpo de Bombeiros, é dificultado pela brutalidade da tragédia. A maior parte das vítimas foi mutilada com o impacto da onda de rejeitos, e, apesar de as equipes relatarem resgates diários, a maioria se resume a fragmentos de corpos.

“A lama acabou com a minha vida, com minha família. É uma dor que nunca vai sarar”, desabafa Iolanda em meio ao choro pela morte do filho, terceiro que ela perde de forma trágica – o irmão gêmeo de Teodoro foi assassinado três meses antes do rompimento da barragem e, há 15 anos, ela enterrou outro filho, vítima de leucemia. A angústia dessa mãe, que está afastada do trabalho e dorme à base de remédios, é potencializada pela possibilidade de não conseguir sepultar os restos mortais de Teodoro. “Já enterrei dois, mas, dessa vez, não sei se vou conseguir enterrar nem os pedaços dele”, lamenta.

A dor dos familiares se mistura à mágoa e à revolta diante da sensação de impunidade. “Para a Vale, minha irmã era só uma matrícula”, critica a professora Natália de Oliveira, que procura por Lecilda de Oliveira, 49, analista de operações da mineradora, desaparecida desde o colapso da barragem. Ela vê com desconfiança as ações movidas contra a mineradora até agora, mas deseja que os responsáveis paguem pelo que fizeram na cadeia. “A Vale só fala em dinheiro, mas valor nenhum paga a morte dessas pessoas. Espero que um dia se faça justiça nesse país”, diz.

 

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