Pesquisa

Isolamento vertical é quase tão ruim quanto isolamento algum, diz estudo da UFMG

Estudo aponta que método só seria melhor do que um cenário onde não há qualquer tipo de isolamento

Sex, 10/04/20 - 09h54

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O isolamento social vertical é ineficaz e só não é pior do que um cenário onde não há qualquer tipo de isolamento para combater o coronavírus. Essa foi a conclusão de um estudo conduzido pelo Grupo de Trabalho (GT) Covid-19 da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e publicado neste mês. 

Para comprovar a tese, a pesquisa realizou diversas simulações numéricas e constatou que, no caso do isolamento vertical, com a redução em até 15 vezes do contato social, na análise apenas da cidade de Belo Horizonte, 200 mil pessoas com idade acima dos 60 anos poderiam ser infectadas pela Covid-19, em até 30 dias após o início da epidemia.

A alta acarretaria uma elevação na demanda do serviço de saúde pública da capital, sem que existam leitos suficientes para toda a procura. Também nesse cenário, a pesquisa aponta que, no mesmo período analisado – considerando que a capital mineira possui cerca de 2,5 milhões de habitantes –, o número total de infectados alcançaria 600 mil pessoas.

Analisando o cenário onde não há qualquer tipo de isolamento, a pesquisa diz que pelo menos 750 mil pessoas seriam infectadas em 30 dias após o início da epidemia, sendo que, desses, 300 mil seriam idosos. Já na aplicação do modelo de isolamento social horizontal, que tem sido adotado pela maioria dos Estados e municípios, o estudo aponta que a curva da doença não apresentaria dimensões significativas nos primeiros 120 dias de simulação e que o número de infectados só passaria a ser significativo após 16 meses do início da epidemia.

“Nós mostramos que esse tipo de estratégia (isolamento vertical) não vai dar certo. Primeiro porque as pessoas com idade abaixo de 60 anos também são atingidas. Mesmo pessoas jovens podem morrer, não é só acima de 60 anos. Outra coisa: a gente não consegue fazer o isolamento perfeito. Isso porque os idosos precisam de auxílio, precisam ser alimentados, ter contato com os mais jovens. O que existe é uma redução do contato social, não há isolamento perfeito”, explica o professor do Departamento de Estatística da UFMG, Luiz Henrique Duczmal.

O docente afirma ainda que, sob o isolamento social horizontal, Belo Horizonte já conseguiu achatar a curva da doença, mesmo que minimamente. Apesar disso, na opinião dele, para que não seja estabelecido um caos na rede pública de saúde o contato social ainda precisa ser reduzido ao máximo na capital mineira.

“Os dados mostram que Belo Horizonte teve uma redução de duas vezes no contato social. Em Nova York a redução foi de 15 vezes, e o número de casos ainda é alto. O que a gente recomenda é que haja um isolamento horizontal e que a redução no contato social seja máxima, que só os serviços essenciais funcionem e que as pessoas que atuam nesses serviços essenciais utilizem Equipamentos de Proteção Individual (EPIs). Se não fizermos isso, vamos ter um aumento muito grande no número de casos e ter uma saturação na rede hospitalar”, pontua o pesquisador. 

Na avaliação dos pesquisadores, diante dos dados, o tempo de isolamento social precisaria ser estendido de semanas para meses. “O que a gente está observando é que temos que fazer uma redução de contato social superior a duas semanas, que poderia alcançar, infelizmente, vários meses”, explica Luiz Henrique Duczmal.

Subnotificação
Outro fator considerado como problemático pelos pesquisadores é a falta de kits de testes para toda a população. De acordo com Duczmal, essa deficiência pode estar gerando a elevação do número de casos subnotificados de coronavírus do país.

“Poucas pessoas estão sendo testadas. No início da epidemia, tínhamos a proporção para a subnotificação de 20 para 1, ou seja, para cada caso confirmado de coronavírus teríamos pelo menos 20 que não foram notificados. Agora, com a escassez de kits de testes, para cada caso confirmado, teríamos cerca de cem casos não notificados. Isso, claro, é uma expectativa”, confirma o professor Luiz Henrique Duczmal.

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