ALERTA AOS PAIS

Jovem planejava realizar massacre na escola em que estuda na Grande BH

Polícia Civil rastreou mensagem em que menor afirmava que ia matar colegas e familiares, no quarto da adolescente foram encontradas várias facas e um facão

Por Felipe Castanheira
Publicado em 17 de maio de 2021 | 16:20
 
 
Foto: Ramon Bitencourt/O Tempo Foto: Durante coletiva, a Policia Civil orientou aos pais que fiquem atentos aos comportamento dos filhos nas redes sociais

A Polícia Civil de Minas Gerais fez, neste segunda-feira (17), um importante alerta para os pais de adolescentes durante uma coletiva de imprensa realizada na  Delegacia da Divisão Especializada de Investigação aos Crimes Cibernéticos.

De acordo com a delegada Danielle Aguiar  Carvalho, uma adolescente estava planejando realizar um ataque contra a escola em que estudava, na região metropolitana de Belo Horizonte, e já havia postado mensagens sobre suas intenções nas redes sociais, sem que os pais da jovem imaginassem que a filha planejava realizar um massacre.  "O comportamento dos adolescentes tem mudado, sobretudo com o panorama atual e requer atenção dos familiares", alertou.  

De acordo com a delegada, a ação da Polícia Civil impediu o crime. "Foi evitada uma tragédia, não tenho dúvidas disso", afirmou. No quarto da jovem foram encontradas várias facas e até um facão. O celular da menor foi apreendido e foram encontradas mensagens de ameaça e outras conversas, onde a adolescente contava que também planejava também atacar parentes próximos. Danielle destacou que o objetivo da coletiva não é falar sobre a ameaça, mas sim fazer um alerta aos pais, por isso poucas informações sobre o caso específico seriam repassados. 

"Os pais e familiares precisam ser diligentes na condução da educação e na fiscalização dos atos de seus filhos. Conhecer o comportamento deles nas redes sociais e grupos de whatsapp. É importante que se faça essa fiscalização e que se esteja atento a qualquer mudança de comportamento". 

No caso em questão, os pais sequer sabiam que a filha estava mantendo as facas em seu quarto, sendo que elas não estavam escondidas ou guardadas em lugares de difícil acesso, assim como não acompanhavam as redes sociais da jovem.

 
"Às vezes, do nada, o adolescente começa a ficar furtivo, se isolar da família e não ter amigos. São os pais que devem manter um diálogo saudável com os filhos, mas também exercer sua autoridade, olhando as redes sociais, acompanhando os grupos que eles estejam participando no whatsapp ou qualquer outro aplicativo de mensagem. Isso é de extrema importância", ressaltou. 

'Ao menor sinal, os pais devem procurar ajudar e conversar, mas se for necessário, deve-se buscar ajuda profissional", explicou a delegada. 


Os pais que perceberem mudanças no humor e comportamento dos filhos adolescentes devem ficar atentos, principalmente se houver alteração nos hábitos noturnos. "Ao menor sinal, os pais devem procurar ajudar e conversar, mas se for necessário, deve-se buscar ajuda profissional", destacou. 

Operação Male Adversus
Neste sábado (15) a Polícia Civil realizou a operação Male Adversus, onde cumpriu um mandado de busca e apreensão na casa dos pais da menor que havia anunciado o desejo de atacar a escola em uma postagem nas redes sociais. No quarto da menor foram encontradas várias facas, a maior parte delas de uso doméstico, um facão e outros objetos cortantes. 

Durante as buscas pelo quarto da jovem, os pais ficaram supressos ao verem o que a filha tinha dentro do quarto. "Eles ficaram totalmente chocados e surpresos ao tomarem conhecimento de tudo o que estava envolvido na investigação", contou a delegada Danielle Aguiar. De acordo com a Polícia Civil, os responsáveis pela garota aparentemente não tinham acesso ao quarto dela, pois eles sequer sabiam que ela tinha várias facas pelo cômodo. "Nesse caso, nenhum dos objetos encontrados no quarto dela estavam escondidos, em cofre ou em compartimentos mais sigilosos, descreveram os policiais.

O Chefe do Departamento Estadual de Combate à Corrupção e a Fraudes, Delegado-Geral Agnelo de Abreu Baeta, informou que a PC não vai divulgar a forma com que chegou até a menor, pois essa informação poderia atrapalhar as investigações. Os levantamentos mostraram que ela pretendia fazer o ataque sozinha e não tinha contato com grupos extremistas ou apoio de outras pessoas.

A menor foi ouvida pela Polícia Civil acompanha pelo pai e reconheceu ter postado a ameaça contra a escola, mas disse não ter a intenção de cumprir a ameaça. Ela retornou para casa no mesmo dia, após dar esclarecimentos sobre o caso. Segundo a delegada, a investigação criminal segue em andamento e posteriormente será encaminhada para a justiça. 

Os pais da menor foram orientados a procurar por ajuda profissional para a filha. O celular e as facas encontradas no quarto foram apreendidos.

Pais devem estar atentos as mudanças de comportamento, diz especialista

Cada vez mais comuns no Brasil, ataques violentos cometidos por jovens em escolas seguem sendo um desafio contemporâneo para pais e educadores.

Segundo o psiquiatra e terapeuta cognitivo comportamental Rodrigo de Almeida Ferreira, o ambiente social é um fator que influencia bastante nesse tipo de comportamento altamente nocivo.

"Para contribuir para esse desfecho existem inúmeras variáveis e a gente tende a se focar simplesmente no lado individual, mas é necessário se considerar as variáveis sociais, principalmente quando vivemos em uma sociedade que estimula a violência ou que valida a violência como uma forma legitima de resolver conflitos", explica.

Ele diz que cuidados com a saúde mental podem ajudar a prevenir esse tipo de comportamento em crianças e adolescentes. "Isso sem dúvida ajudaria, é sempre importante se investir na saúde emocional das nossas crianças e adolescente. É preciso promover bons cuidados de saúde mental nas escolas e no ambiente familiar, e ter profissionais que auxiliem os educadores, e que estejam disponíveis. É importante lembrar, no entanto, que esses são eventos raros e que é difícil se fazer uma intervenção, mesmo seguindo todos os cuidados", acrescenta.

O psiquiatra conta que também é importante que os pais estejam atentos a qualquer mudança comportamental dos filhos.

"É bom lembrar que ataques às escolas são eventos raros, então os cuidados que os pais devem ter são os mesmos para qualquer situação: promover um ambiente seguro em que as emoções dos filhos são acolhidas. É necessário estar atento a qualquer comportamento que chame atenção e que se desviam do que era o comum para aquele adolescente, como uso de drogas, auto-lesão ou expressão de ideias suicidas, ou homicidas. Tudo isso merece atenção dobrada", conclui.


Brasil teve 8 ataques contra escolas nos últimos 10 anos

No dia 4 de maio deste ano, um jovem de 18 anos entrou com um facão em uma creche municipal na cidade de Saudades, a 446 km de Florianópolis, em Santa Catarina e atacou crianças e professoras da instituição, deixando cinco mortos. Esse foi o único ataque apenas com armas brancas feito contra uma escola no país e o saldo de mortes só não foi maior porque outras professoras trancaram seus alunos nas salas e moradores entraram no local e detiveram o agressor. 

Caso o ataque anunciado pela menor tivesse de fato ocorrido esse seria o segundo caso de ataque apenas com facas e o primeiro feito por uma jovem, em todos os outros casos os agressores eram do sexo masculino. A Polícia Civil informou que as ameaças feitas pela adolescente foram anteriores ao massacre ocorrido em Santa Catarina.

Esse também poderia ser o segundo crime deste tipo registrado em Minas Gerais. Em outubro de 2017 o segurança de uma creche de Janaúba, no norte do estado, ateou fogo no Centro Municipal de Educação Infantil Gente Inocente, no Bairro Rio Novo, jogou álcool em crianças e em si mesmo e  ateou fogo. Além do agressor, oito crianças e uma professora morreram.
 
Dos oito casos registrados no Brasil, seis foram feitos por estudantes contra as instituições que estudavam.