PATRIMÔNIO CULTURAL

Justiça decide por reforma de casarão histórico usado como ponto de droga em MG

Imóvel também está sendo utilizado como depósito de lixo, segundo levantamento da Promotoria de Justiça

Por Isabela Abalen
Publicado em 15 de abril de 2024 | 15:42
 
 
Imóvel está abandonado e em mau estado de conservação Foto: MPMG / Divulgação

A Justiça mineira decidiu que o casarão histórico com cerca de 100 anos na cidade de Januária, no Norte de Minas Gerais, deverá passar por recuperação e preservação dentro de nove meses. A ação, que foi ajuizada pelo Ministério Público do Estado (MPMG), determina que o imóvel, que é particular, passe a ter uma função social e proíbe a sua demolição. Na última semana, o centro histórico do município foi tombado patrimônio cultural de Minas Gerais. 

O casarão é localizado na praça Santa Cruz, no Centro de Januária, e está abandonado e em mau estado de conservação, segundo denunciou o MPMG. Um levantamento feito pela Promotoria de Justiça identificou que o espaço está sendo usado como ponto de drogas e depósito de lixo. “Além disso, a edificação é propícia à proliferação de roedores e insetos que colocam em risco a saúde das pessoas que circulam pelo local e, especialmente, as que residem na vizinhança”, diz o documento.

O imóvel foi construído como escola pública e, na década de 80, funcionou como quartel – momento que foi alugado pelo Estado. Mas, depois disso, virou herança familiar e perdeu funcionalidade. “Apesar da relevância cultural do bem e do seu precário estado de conservação, a inventariante da herança não tem desempenhado a sua obrigação constitucional no sentido de zelar pelo patrimônio cultural local e de adotar as medidas cabíveis para a preservação do imóvel”, denunciou o Ministério Público. 

A decisão da Justiça, então, determinou que os herdeiros têm até três meses para realizar o projeto de restauração e conservação do casarão e no máximo seis meses para executá-lo. As intervenções precisam ser aprovadas pelos órgãos competentes, uma vez que o prédio é inventariado como patrimônio cultural pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha).

De acordo com a sentença da 2ª Vara Cível de Januária, mesmo que os herdeiros tenham dito que não têm dinheiro para arcar com a obra de conservação, há itens no inventário que podem cobrir a verba. “O falecido possuía vultoso patrimônio material, conforme se verifica do plano de partilha, inclusive com outros imóveis em Januária e em localidades diversas”, afirma a decisão. 

Centro histório de Januária é tombado patrimônio do Estado

Minas Gerais somou mais um centro histórico como patrimônio cultural do Estado nesta quinta-feira (11 de abril). No Norte de Minas, à beira do rio São Francisco, a cidade de Januária mantém viva uma tradição de vida ribeirinha, associada ao comércio e às navegações, desde as primeiras ocupações do Brasil colônia. O tombamento garante proteção às 54 edificações da arquitetura regional.

O centro histórico, ainda conectado ao antigo cais, conquista a presença de turistas que visitam a Igreja Matriz, a Igreja de Nossa Senhora do Rosário e a Capela de Santa Cruz. É lá onde ocorrem as festividades religiosas dos pescadores e das pessoas ribeirinhas que vivem do “Velho Chico”. 

Para receber o título, Januária mostrou colaborar com a “mineirice” através de uma cultura marcada pelos derivados da cana de açúcar e pelas tradições como a do Caboclo d’Água — presente na vida dos pescadores e característica da vivência do cerrado. 

“O dossiê de tombamento avaliou os sentidos e os significados do centro histórico, do porto de Januária e das referências espaciais construídas e existentes que materializam as diversas narrativas de processos históricos, econômicos e culturais dos modos de viver da região Norte de Minas e do Rio São Francisco”, afirmou o Conselho Estadual de Patrimônio Cultural por meio de nota.