Alerta

Linha chilena: saiba o que é, como é feita e quais os riscos de usá-la

Só nos seis primeiros meses deste ano, 19 pessoas foram feridas pela linha, sendo 13 desses casos registrados apenas em junho

Seg, 22/07/19 - 19h01
CIDADES . BELO HORIZONTE , MG Policia Civil prende mulher responsavel por fabrica de linha chilena e cerol em Belo Horizonte FOTO: LINCON ZARBIETTI / O TEMPO / 08.08.2017 | Foto: LINCON ZARBIETTI / O TEMPO

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Com poder de corte quatro vezes maior que o cerol, o uso da linha chilena para empinar pipas no período de férias escolares e no início de agosto, quando ventos sopram com mais força, têm preocupado as autoridades. Só nos seis primeiros meses deste ano, unidades de pronto atendimento ligadas à Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig) atenderam 19 pessoas vítimas da linha, sendo 13 desses casos registrados apenas no mês de junho. No ano passado, 31 pessoas foram atendidas após sofrerem lesões provocadas por cerol ou linha chilena.

Um dos casos mais graves aconteceu no sábado (20), em Betim, na região metropolitana de Belo Horizonte. Um adolescente de 15 anos voltava para casa a pé após uma aula de futebol quando foi atingido por uma linha chilena agarrada em uma van. Ele está internado e corre o risco de ter as pernas amputadas. 

Apesar de o cerol ser bastante comum e costumeiramente fabricado de forma caseira por seus usuários, a linha chilena apareceu em Belo Horizonte há alguns anos e o uso do material tão perigoso alarmou tanto a prefeitura que uma lei foi criada ainda no ano passado para coibir o uso dela. Quem é flagrado soltando pipa com linha chilena pode receber uma multa de até R$ 2.000 e, comerciantes que a vendem, podem ser multados em até R$ 4.000. Se reincidente na prática, o estabelecimento pode receber uma multa com o valor duplicado e até perder seu alvará de funcionamento. 

Enquanto o cerol é fabricado com uma mistura que pode ser feita com cola e pó de vidro ou cola e pó de ferro, a linha chilena é feita industrialmente e seu poder de corte é tão elevado pois à linha original são adicionados pó de quartzo e óxido de alumínio. "Fora a linha chilena, mais comum em BH e na região, tem outras muito perigosas entrando no mercado. A linha Indonésia e a linha de porcelana, por exemplo, podem ser dez vezes mais perigosas e mais cortantes que a linha chilena. Muitas vezes são linhas de anzol que recebem banhos de substâncias químicas para deixá-las com maior poder de corte. Por sorte, ainda não apreendemos nenhuma dessas duas em Belo Horizonte", explica Éder Gotlipe, guarda civil-municipal. 

Facilmente encontrada em mercadinhos de bairro, linhas usadas para cortar outros papagaios durante a prática de empinar a pipa também podem ser rapidamente achadas por preços bastante módicos em sites de venda online e grupos no Facebook. O preço de uma carretilha com 1.000 metros da linha chilena varia entre R$ 20 e R$ 35, cem jardas costumam ser comercializadas com valores inferiores a R$ 7. Muitas vezes, o frete é mais alto que o valor da própria linha. 

Tempo de pipa

O fim do primeiro semestre do ano e todo o mês de agosto costumam atrair crianças e adolescentes para as ruas. Para muitos, a diversão de soltar a pipa consiste exatamente no fato de derrubar o papagaio dos adversários e isso talvez explique o aumento na procura por linhas cada vez mais cortantes. "Normalmente, são crianças e adolescentes que fazem uso das linhas. Por isso, muitas das campanhas preventivas feitas pela Guarda Municipal são dirigidas ao público em idade escolar. Outro público com que nos preocupamos são os motociclistas e os ciclistas, mais vulneráveis a serem atingidos por essas linhas cortantes", pontua Gotlipe. 

Para quem pilota ou pedala, é sempre necessário o uso dos itens de segurança capazes de barrar a ação desses materiais. Para motociclistas, recomenda-se o uso de viseira abaixada, do protetor no pescoço e, principalmente, da antena anti-linha. Esse instrumento, aliás, também deve ser usado por ciclistas. 

Risco de morte

Fora o poder de causar sérias lesões, se o resgate de uma pessoa ferida por linha chilena, cerol ou qualquer subtipo destas não acontecer de forma rápida, é possível que o sangramento excessivo leve à morte. As regiões do corpo em que as vítimas costumam ser atingidas são pescoço e pernas, áreas onde há bastante circulação de sangue.

"Nas pernas temos a veia safena e a árteria femural, se cortadas elas podem expulsar muito sangue. O mesmo acontece com o pescoço, por onde passam a carótida e a jugular. Se cortadas, ocorre perda muito grande de sangue em poucos minutos. Outro risco para motociclistas é que ao se chocar com a linha, estando em alta velocidade, ela fica presa na região do pescoço e, com o atrito, causa cortes ainda mais profundos", descreve o tenente Herman Ameno, do Corpo de Bombeiros. 

No domingo (21), os bombeiros resgataram um menino de 13 anos, que teve exatamente as pernas cortadas pela linha chilena enquanto passeava com o pai em Varginha, no Sul de Minas Gerais. Ainda não há informaçõe sobre o estado de saúde da vítima. 

Como reagir em caso de corte

Depois que alguém é atingido por uma linha cortante, é importante que o atendimento seja rápido, para evitar que o quadro da vítima evolua para óbito. Segundo os bombeiros, o ideal é tentar minimizar o sangramento até a chegada do resgate. 

"É preciso comprimir o local cortado, mesmo que seja de uma maneira mais rústica. Um torniquete é uma possível solução no caso de cortes nas pernas ou nos braços, por exemplo, para tentar evitar a perda excessiva de sangue. A vítima deve ser encaminhada imediatamente para o hospital, para que o sangue perdido seja reposto e suturas sejam feitas", explica o bombeiro. 

Sucesso no Youtube

Nas redes sociais e em canais do Youtube, pessoas compartilham vídeos em que mostram o poder de corte de suas linhas e até gravações onde dão indicações de onde conseguir comprar a melhor linha e as misturas que as tornam mais poderosas. 

Vídeos assim são publicados por canais com conteúdos voltados para quem gosta de empinar pipa. Muitas das gravações contabilizam mais de 100 mil acessos e centenas de comentários em que usuários da rede trocam dicas e se aconselham sobre o tema. 

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