CIDADES

Loucos por carnaval

Apaixonados pela festa fazem de tudo para não perder a folia, como penhorar jóias e até viajar com o pé quebrado.

Por PATRICIA GIUDICE
Publicado em 19 de fevereiro de 2006 | 00:01
 
 
Apaixonados pela festa fazem de tudo para não perder a folia, como penhorar jóias e até viajar com o pé quebrado.

Dizem que no Brasil o ano só começa depois do Carnaval. Para a maioria isso pode não ser verdade, mas é fato que os apaixonados pela data pensam nela durante todos os meses e fazem de tudo para não perder a folia.

Entre pular com a perna quebrada e vender objetos valiosos, existem fanáticos pela festa que não admitem perder um só dia de farra. E os exemplos de "loucuras" extrapolam uma simples viagem para um destino muito procurado.

No ano passado, a psicopedagoga Ana Paula Bernardi, 27, penhorou todas as suas jóias para ir ao Carnaval de Diamantina, na região do Alto Jequitinhonha. "Eu não tinha dinheiro para levar e a única forma que encontrei para viajar foi penhorando anéis e colares que tenho. Faço tudo, mas não perco a festa de jeito nenhum", disse.

Pela obsessão e pensando em tudo que curte durante os quatro dias na cidade histórica mineira, ela inventou um lema: "ou bebo, ou uso jóias". Pelo menos durante o Carnaval, Ana Paula escolheu a primeira opção. Foi mais de R$ 1.000 de empréstimo pago meses depois do retorno a Belo Horizonte.

"Desde nova eu penso na data o ano inteiro, e também não descarto as micaretas e pré-carnavais que acontecem no Brasil", conta. Este ano, ela já está de malas prontas para o mesmo destino, ansiosa para a chegada do Carnaval, com uma casa alugada para a hospedagem, mas sem dinheiro no bolso para levar.

"Provavelmente vou ter que penhorar minhas jóias outra vez. Mas não tem problema, o importante é eu curtir a festa que mais amo", ressaltou. Outra louca por Carnaval é a jornalista e dançarina Júnia Sena, 27.

Durante todo o ano ela sonha com o dia em que vai pegar um avião e seguir rumo a Salvador, na Bahia. Mas o desejo envolve mais do que gostar da festa baiana. Ela parcela tudo o que pode em até 11 vezes, deixando livre apenas o mês de fevereiro.

"Penso o ano todo em Carnaval, é minha vida. Quando um termina, já começo a elaborar o próximo e a pagar o que passou", disse Júnia, que no início deste ano vendeu sua câmera fotográfica digital para completar o dinheiro da viagem.

O custo do passeio pode ultrapassar os R$ 3.000, mas o valor não impede que o destino esteja entre os mais procurados por turistas brasileiros e estrangeiros.

No caso de Júnia Sena, haja cartão de crédito para pagar todos os gastos com hospedagem, passagens aéreas, abadá, alimentação e todas as atrações que a capital baiana oferece.

"Desde 2000, pago dívidas do Carnaval durante todos os meses, exceto o próprio fevereiro, quando levo o dinheiro que tenho para lá. Mesmo assim, vivendo nesse ciclo vicioso, não deixo de ir", afirma a dançarina já eufórica para desembarcar em Salvador.

Viagem
A assistente administrativa Tatiana Peixoto, 28, além de também gastar tudo o que tem e juntar centavo por centavo para completar o custo da viagem, vai fazer outro "esforço" para não perder a festa. No próximo dia 20, ela entra em um ônibus com destino à Bahia e viaja durante 24 horas para chegar a Salvador.

"Quando o dinheiro está curto para pagar um avião, vou e volto de ônibus. Acho uma loucura, mas sou apaixonada pela festa e não consigo me imaginar sem curtir um ano sequer."

Nem uma perna quebrada fez com que a administradora de empresas Fabiana Vieira Gomes, 29, deixasse de ir para o Carnaval de Pompéu, na região Central de Minas Gerais, no ano passado. Dois dias antes da viagem, ela implorou para que o médico retirasse o gesso.

O pedido foi aceito, mas a administradora precisou levar uma cadeira consigo ao seguir atrás do trio elétrico. "Carnaval é minha vida e já estava tudo programado quando minha perna quebrou. Era impossível pensar que iria ficar em casa", lembrou Fabiana. Mesmo considerando uma loucura, ela disse que repetiria o ato.

A perna quebrada se tornou atração entre os amigos e, segundo Fabiana, até ajudou a arrumar alguns "casinhos".

"Os meninos ficavam com dó e chegavam para me ajudar, me carregar. Foi muito legal porque ficava mais sentada e acabei sendo a atração. Meu pé ainda não estava totalmente bom e inchava o tempo todo que estava atrás do trio, mas, no fim, até me ajudou."