Acidente

Luta segue cinco anos depois  

Sobrevivente de tragédia que deixou cinco mortos, Laura Gibosky tem sequelas irreversíveis

Qui, 28/01/16 - 03h00
Coragem. Laura Gibosky conta com o amor da família e com uma equipe com 11 profissionais na luta por uma maior qualidade de vida | Foto: Moises silva

Há exatos cinco anos, a pequena Laura Gibosky voltava com duas primas e uma tia de uma viagem de férias. O carro estava preso em um engarrafamento no Anel Rodoviário, próximo ao bairro Betânia, na região Oeste de Belo Horizonte, quando uma carreta bitrem que transportava 37 toneladas de trigo, conduzida pelo motorista Leonardo Faria Hilário, perdeu os freios a 115 km/h e arrastou 15 carros.

O acidente, um dos piores já registrados na via e que transformou Laura em um símbolo da luta por melhorias no Anel Rodoviário, deixou cinco mortos – inclusive uma prima dela, Ana Gibosky, que tinha 2 anos –, e 12 feridos. Levada para o hospital com traumatismo encefálico e com fraturas no abdômen e na perna esquerda, a menina chegou a ter menos de 2% de chance de sobreviver e passou mais de seis meses internada.

Hoje as consequências da tragédia são visíveis. Aos 9 anos, Laura não fala, não anda e quase não reage a estímulos. “Ela teve sequelas irreversíveis. Tem hora que ela demonstra muito pouco diante do mundo, mas quem está com ela todo dia percebe às vezes um olhar, um sorriso, essas pequenas manifestações que mostram que existe alguma consciência dentro dela”, diz o advogado Ricardo Carvalho, 49, pai de Laura. Ele e a mulher, a servidora pública Priscilla Gibosky, 38, estão construindo uma casa totalmente adaptada para dar uma maior qualidade de vida para a garota.

“Não medimos esforços para dar algum conforto para ela. Na nova casa ela terá uma sala especial para as atividades, o quarto será sob medida”, detalha Carvalho. O imóvel deverá ajudar também a equipe de 11 profissionais que acompanha a menina no tratamento intensivo que ela passa. Diariamente uma fisioterapeuta faz exercícios e quatro enfermeiras se revezam no cuidado com Laura. Periodicamente, ela tem o acompanhamento de um médico pediatra, fisioterapeutas visuais, respiratórios e ocupacionais, fonoaudiólogo e uma coordenadora de enfermagem. Além de toda essa equipe, eles contam com a ajuda da família – avó e tias. “A gente se adaptou, eu reduzi minha carga de trabalho, e minha mulher também passou a trabalhar mais em casa. É ela quem dá banho na Laura todos os dias, e essa é a nossa alegria: saber que estamos conseguindo dar algum conforto para ela”, revela Carvalho.

Diante da proximidade do julgamento do caminhoneiro Leonardo Faria Hilário (que deve acontecer em junho), o pai de Laura garante que não tem nenhum sentimento negativo, mas espera que a Justiça seja feita.

“As palavras são resignação e resiliência. Nem acompanho de perto, mas sei que é uma das primeiras vezes que um motorista vai a júri popular em um acidente assim. Espero apenas a aplicação da lei”, conclui.

Saiba mais

Julgamento. O motorista Leonardo Faria Hilário, que conduzia a carreta bitrem que arrastou 15 carros e matou cinco pessoas em janeiro de 2011, responde em liberdade pelo acidente. Ele chegou a ser preso duas vezes após o acidente, mas foi solto ainda em 2011 após um habeas corpus.

Data. O caso será julgado por um júri popular no dia 23 de junho deste ano. Ele responderá por homicídio com dolo eventual (quando se assume o risco de matar). O caso chegou a ser desqualificado para homicídio culposo (sem intenção), mas a Justiça voltou atrás na decisão.

Dados

Desinformação. A reportagem pediu, na tarde de terça-feira, dados mais atualizados de acidentes no Anel, mas a Polícia Militar Rodoviária (PMRv) não conseguiu informar os números.

Promessa é entregar projeto até agosto

A necessária revitalização do Anel Rodoviário, construído na década de 1950, ainda deve demorar. A reforma geral tem como objetivos a readequação do traçado, a construção de áreas de escape e novos acessos e a eliminação dos afunilamentos. Segundo o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), o Departamento de Estradas de Rodagem (DER-MG) tem até 31 de agosto para entregar o anteprojeto da reforma. Para que as intervenções comecem, o documento precisa antes ser aprovado pelo Dnit. O órgão não fala em valores, mas o deputado estadual João Vítor Xavier (PSDB), após reunião com o Dnit em outubro, estimou em R$ 3 bilhões.

O trecho de cerca de 10 km entre os bairros Olhos D’água e João Pinheiro, sob concessão da Via 040 desde abril de 2014, é o único que já passou por melhorias, como a reforma do asfalto e da sinalização, além da instalação de dez radares, ainda esperando liberação para funcionar. 

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