Mãe e bebê mortos em chacina

Dois homens armados invadiram uma festa infantil e mataram quatro pessoas na noite dessa segunda-feira (29) em Betim, na região metropolitana de Belo Horizonte. Entre as vítimas estavam Jéssica Sabrina de Oliveira Ferreira, 20, e a filha dela, Ana Laura, de apenas 11 meses, que foi executada em seu colo. De acordo com a Polícia Civil, o crime pode ser um acerto de contas entre traficantes da região, e mãe e filha só teriam sido assassinadas porque estavam no lugar e na hora errados.

O delegado de Homicídios de Betim, Otávio Luiz de Carvalho, informou na tarde dessa terça-feira (30) que Carlos Daniel Lourenço Dutra, 24, e Adriano Oliveira Soares, 22, que também foram mortos, seriam os alvos dos atiradores. “A mãe e a criança foram atingidas porque estavam perto dos dois”, disse o policial.

Testemunhas contaram que, por volta das 20h, havia cerca de 40 pessoas na festa, sendo a maioria delas crianças. Os convidados estavam espalhados em cadeiras distribuídas na garagem e na calçada, em um beco próximo à rua Antônio Dias, no bairro São Luiz. Os suspeitos teriam chegado a pé. De acordo com testemunhas, os criminosos procuraram um dos convidados e, depois, iniciaram os disparos. Houve pânico e correria entre as pessoas que estavam no local.

“Estamos em estado de choque. Era festa de aniversário de uma criança de 1 ano que mora aqui na rua. A mesa do bolo estava na garagem, e havia mesas espalhadas pela rua. Então, você imagina o pânico. Os atiradores chegaram, e foi tudo muito rápido”, contou ainda assustada uma testemunha, que pediu anonimato.

De acordo com a Polícia Militar (PM), Dutra morreu no local. Socorrida pelo pai, Ana Laura foi levada para a Unidade de Pronto-Atendimento (UPA) do Teresópolis, onde faleceu. A mãe dela e Soares também foram conduzidos para a mesma unidade de saúde por uma equipe do Samu, mas não resistiram aos ferimentos. Uma adolescente de 14 anos, que foi atingida por um tiro de raspão no pé, já recebeu alta.

Nessa terça-feira (30) de manhã, o clima era de tensão entre os moradores do beco. Assustados, poucos conversaram com a reportagem, e aqueles que comentaram o crime, disseram desconhecer os atiradores.

Vítimas

PM. Parentes de Jéssica Oliveira e do bebê reconheceram os corpos no Instituto Médico-Legal de Betim, na tarde dessa terça-feira (30). O clima estava tenso, e a Polícia Militar precisou ser acionada.

Um dos suspeitos da matança já foi identificado pela polícia

De acordo com o delegado Otávio Luiz de Carvalho, responsável pela Delegacia Especializada de Homicídios de Betim, um dos dois suspeitos de ter cometido a chacina no bairro São Luiz na noite dessa segunda-feira (29) já foi identificado. Ele atuava em uma quadrilha da região e é considerado foragido.

“Não podemos informar o nome dele para não atrapalhar as investigações. Mas adianto que trata-se de um rapaz de 19 anos, que tem uma extensa ficha criminal. Quando era menor, ele foi internado duas vezes por diversos crimes, inclusive por homicídio. Recentemente, o suspeito também foi indiciado por outro assassinato em Betim. Já o outro envolvido ainda não foi identificado”, explicou.

Desacerto. Ainda conforme o delegado, o suspeito considerado foragido era comparsa de crime de Adriano Oliveira Soares, uma das vítimas da chacina, entretanto a “parceria” teria acabado há alguns meses. “Eles faziam parte de uma mesma quadrilha, mas romperam recentemente. Não sabemos o motivo dessa briga, mas acreditamos que os homicídios tenham sido um acerto de contas”, finalizou. (Lisley Alvarenga)

Saiba mais

Histórico. Segundo a Polícia Civil, Carlos Dutra e Adriano Soares, que foram mortos, tinham passagem pela corporação. “Dutra, que saiu da cadeia em julho deste ano, já havia sido condenado por furto, roubo, tráfico de drogas e homicídio. Já Soares cumpriu pena em 2014 por receptação e homicídio”, disse o delegado Carvalho.

Estudo. Conforme o Mapa da Violência 2016, Betim é a segunda cidade de MG com maior taxa de mortalidade por arma de fogo entre 2012 e 2014, com 50 mortes por 100 mil habitantes. São Joaquim de Bicas lidera o ranking, com taxa de 70,8 mortes.

Minientrevista

Jovem de 14 anos que foi baleada

Você participava da festa?

Sim. Eu era uma das convidadas da mãe do aniversariante.

Onde você estava no momento em que os disparos começaram?

Eu estava sentada em uma escada do lado de fora, conversando com minha irmã. De repente, ouvi alguns disparos e corri em direção a minha casa, que fica próximo ao local da festa.

Quando você percebeu que tinha sido atingida?

Quando comecei a correr, vi que meu pé estava queimando e que havia sangue. Aí eu entrei para minha casa e esperei pararem os tiros.

E depois, o que você fez?

Eu comecei a ouvir gritos e saí para ver se alguém que eu conhecia tinha morrido. Aí eu vi o pai com o bebê que morreu no colo. Ele chorava. Só depois fui socorrida.

Você ficou com medo?

Muito. Não sabemos quem fez isso, ninguém conseguiu ver muita coisa. (TM)