Saúde

Mais crianças chegam ao HPS

Cresce número de atendimentos de meninos e meninas de 0 a 12 anos por acidente no João XXIII

Ter, 30/08/16 - 03h00
Riscos. Especialista afirma que maioria dos acidentes com crianças pode ser evitada, incluindo quedas | Foto: Leo Fontes – 19.5.2013

Para uma criança, um sofá é mais que um sofá: é um pula-pula. E a escada de casa pode virar um trampolim. Samanta Gregório, 2, foi longe nessa imaginação, mesmo com a mãe e o pai tentando frear seus impulsos de criatividade. Em um dos acidentes domésticos, ela foi parar no hospital e, por sorte, não fraturou o dedo. A cada dia cresce o número de meninos e meninas de 0 a 12 anos que chegam à urgência e à emergência de unidades de saúde com traumas.

De 1º de janeiro a 20 de agosto deste ano, foram 7.890 atendimentos desse tipo no Hospital de Pronto-Socorro (HPS) João XXIII, referência na capital. O número é 7,8% maior que o registrado no mesmo período de 2015, quando 7.315 deram entrada. Por dia, 34 crianças, em média, se acidentam e são levadas ao hospital. No Dia Nacional de Prevenção de Acidentes com Crianças, celebrado nesta terça-feira (30), estudiosos reforçam que a maioria dos casos poderia ser evitada.

A maior parte (90%) dos atendimentos feitos foi motivada por acidentes, sejam domésticos ou de trânsito. Desses, a maioria (22,9%) foi por queda, seja da escada, do sofá, da cama ou até mesmo da própria altura.

A pequena Samanta sabe bem o que é se machucar dessa forma. Em menos de dois meses, ela teve duas quedas mais graves, uma do sofá e outra da escada, e na última sofreu várias escoriações. A mãe Aline Gregório,30, disse que sempre alerta a filha para tomar cuidado, mas, ao fazer graça para o pai, Samanta acabou escorregando. “Ela capotou e ralou a perna na quina”, comentou Aline.

Poucos dias antes, a menina aproveitou a distração dos pais para pular no sofá e caiu de bunda no chão. “Na hora, assustei, pensei que ela tivesse batido a cabeça. Ficamos monitorando, e ela ficou bem”, relatou. Recentemente, precisou ser levada às pressas ao hospital ao puxar uma tampa de panela de pressão da mesa e derrubá-la no chão, em cima de seu dedo. “Ela chorou muito e achei que tinha quebrado, por sorte não foi nada”, contou.

“O ato de viver está fadado ao risco. A criança vai aprender com os erros, não tem como evitar 100% dos acidentes, mas tem como prevenir boa parte deles”, afirmou o engenheiro eletricista especializado em segurança Fabiano Soares Panissi, consultor do programa Vida + Segura da ArcelorMittal, que desenvolve ações educativas com funcionários e em escolas públicas.

A ingestão de objetos é a segunda maior causa de atendimentos, com 1.565 casos neste ano, seguida de intoxicação, com 412. Acidentes de trânsito vêm em quarto lugar, com 328. “A gente se acostuma a conviver com o risco. É importante sempre ter o olhar da dúvida e se perguntar o que pode machucar a criança em cada ambiente”, completou Panissi.

Pesquisa. O projeto Vida + Segura, da ArcelorMittal, já atingiu cerca de 10 mil crianças em 17 escolas de Minas. O material com dicas preventivas está no site www.fundacaoarcelormittalbr.org.br.

Prevenção

Janela. Colocar tela de proteção e tirar objetos que possam servir de escada.<EM>

Tomadas. Usar tampa protetora ou colocar um móvel para impedir o acesso. Carregadores de celular na tomada podem da choque.

Escada. Colocar guarda- corpo e evitar que crianças subam ou desçam de meias.

Banheiro. Monitorar para que a criança não suba no vaso, que pode se quebrar.

Remédios. Não adianta simplesmente colocar no alto do armário. O recomendado é guardar em local trancado.

Brinquedos. Não deixá-los espalhados para evitar escorregões.

Cozinha. Frituras apenas nas bocas de traz do fogão. Cabos das panelas para dentro.

Mudança em casa e também no médico

Reduzir o número de acidentes com crianças passa por uma mudança de cultura em casa, mas também fora dela. A Clínica Pediatra do Hospital de Pronto-Socorro (HPS) João XXIII, com apoio da Sociedade Mineira de Pediatria, realiza na quinta-feira o seminário “O cotidiano da clínica pediátrica de trauma: um apelo pela prevenção de acidentes na infância”, com objetivo de promover uma mudança de comportamento entre os profissionais de saúde, que podem orientar as famílias.

“O pediatra precisa ter em mente que faz parte da rotina de cada consulta orientar a família sobre essa questão, de acordo com cada fase de desenvolvimento da criança”, ressaltou o coordenador da Clínica Pediátrica do HPS, André Gonçalves Marinho. Quando a criança começa a engatinhar, por exemplo, o profissional deve alertar sobre o cuidado com escadas e com tomadas.

Serviço. O seminário ocorre a partir das 19h30, no auditório do João XXIII (na avenida Alfredo Balena, 400, primeiro andar). Profissionais da saúde, de ensino e de cuidados infantis, médicos residentes em pediatria e acadêmicos podem participar gratuitamente e devem se inscrever pelo e-mail acidentesinfancia@gmail.com. (LC)