MAIS UM CASO

Menina de 3 dias morre no Sul de MG e família suspeita de falha médica

Criança passou por dois hospitais, entre eles a Santa Casa de Ouro Fino, onde mãe e filho morreram após o parto há seis dias

Sáb, 29/03/14 - 11h29
Santa Casa de Ouro Fino registrou duas mortes de crianças em menos de uma semana | Foto: REPRODUÇÃO

Mais uma vez, em menos de uma semana, uma família do Sul de Minas suspeita de falha médica durante o atendimento de uma recém-nascida de 3 dias que morreu nessa sexta-feira (28). Desta vez, a denúncia envolve a Santa Casa de Jacutinga e a de Ouro Fino. A última instituição é a mesma onde morreram mãe e filho após o parto no último domingo (23).

A mãe da pequena Nicole Ferreira Maciel, a dona de casa Tamires Ferreira Maciel, de 22 anos, passou pelos dois hospitais, mas, segundo a pediatra de Ouro Fino, a criança morreu por insuficiência respiratória.

“No fim da noite de quinta-feira (27), minha filha acordou chorado muito. Como moro em Jacutinga, fui com ela para a Santa Casa da cidade. Chegando lá, o médico plantonista falou que a Nicole não tinha nada grave, a colocou no oxigênio, disse que solicitaria um raio X na sexta e, em seguida, foi dormir”, contou a mãe.

No então, ainda na versão de Tamires, a menina ficou com o rosto roxo e ela pediu que a enfermeira fosse chamar o médico novamente. “Ele voltou e insistiu que a menina não tinha nada, mas falei que sabia que estava acontecendo alguma coisa e, como não tinha pediatra na Santa Casa de Jacutinga, ela deveria ser transferida”, disse.

A menina foi  encaminhada à Santa Casa de Ouro Fino, mas morreu por volta das 8h. “A princípio, a pediatra disse que minha filha havia pegado uma bactéria, mas não deu detalhes. Depois, a médica disse que a morte foi causada por insuficiência respiratória. A Nicole precisava de ir para a Unidade de Terapia Intensiva (UTI) de Pouso Alegre, mas ninguém ligou lá para saber se tinha vaga”, afirmou.

Após a morte, a mãe registrou um boletim de ocorrência na Polícia Militar de Ouro Fino e não descarta entrar na Justiça contra as duas instituições. “Na minha opinião, os dois hospitais erraram e não deram o atendimento necessário para o meu bebê. Quero que providências sejam tomadas imediatamente”, finalizou a jovem, que sepultou a filha na manhã deste sábado.

A reportagem de O TEMPO fez contato com a secretária de saúde de Jacutinga, Simone Lucchesi, que vai abrir uma sindicância para investigar se houve alguma responsabilidade do hospital na morte da vítima. Segundo a secretária, o caso chegou como uma situação em que a menina engasgou com o vômito após mamar. O médico realizou todos os procedimentos possíveis e a recém-nascida chegou a melhorar. Ela afirmou que o atendimento foi filmado pelas câmeras de segurança da instituição.

Simone contou que, quando o quadro médico da criança piorou novamente, o plantonista ligou imediatamente para Ouro Fino, que tinha uma pediatra de plantão e aceitou o caso. O deslocamento de Nicole até a outra cidade durou cerca de 20 minutos e foi feito em uma ambulância com o acompanhamento de um clínico geral, um enfermeiro e uma auxiliar de enfermagem.

“Vamos colher todas as informações para saber o que realmente aconteceu. Se for constatado algum erro, os responsáveis serão punidos”, disse.

Já na Santa Casa de Ouro Fino, a reportagem foi informada que apenas a administradora do hospital pode comentar o caso. No entanto, ela não estava no hospital e também não atendeu às ligações realizadas para o seu celular.

O caso está com o delegado de Ouro Fino, Arthur Augusto Ribeiro da Silva. Ele já foi informado da morte da criança e deve abrir um inquérito para apurar as causas da morte. 

Outra denúncia

O delegado Silva também investiga as mortes de mãe e filho após um parto na Santa Casa de Ouro fino. Familiares de Grace Kelly Tavares Bazani, de 33 anos, afirmam que os médicos do hospital falharam quando optaram por não realizar uma cesariana na mulher.

Segundo o marido dela,  Luís Fernando de Almeida Pereira, os profissionais tentaram um parto normal por cerca de três horas, usando, inclusive, o fórceps (espécie de pinça gigante que auxilia a retirada do bebê em caso de complicações no parto).

O viúvo alega que a companheira não tinha porte físico para o procedimento e que o bebê estava com mais de 4 kg. Mãe e filho morreram no domingo.

Diante das denúncias, o delegado solicitou a exumação dos corpos das duas vítimas. Ainda segundo ele, os médicos já foram ouvidos, mas o conteúdo dos depoimentos não foi divulgado. O Ministério Público também acompanha o caso.

“Em relação à história da Grace, os corpos já foram exumados e os envolvidos ouvidos. Agora, estamos aguardando o resultado das causas das mortes para continuar com as investigações”, disse Silva.
 

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