Antirracismo

Mineira de 8 anos orgulhosa do cabelo crespo dá lição na internet

Vídeo em que criança de Divinópolis expõe orgulho do cabelo crespo foi visualizado mais de 150 mil vezes

Sáb, 25/04/15 - 12h24
Mãe estimula que Carolina tire fotos para se conhecer | Foto: REPRODUÇÃO FACEBOOK

Dandara é a mais nova boneca de pano negra que Carolina Monteiro, 8, ganhou da mãe. O presente faz parte da coleção de outras 15 bonecas negras confeccionadas especialmente para a menina e é mais uma tática usada por Patrícia dos Santos, 36, mãe de Carol, para trabalhar a questão étnica com a filha. As duas moram em Divinópolis, na região Centro-Oeste do Estado.
“Ela também tem bonecas brancas. Mas as referências não negras que ela tem vem de outros lugares”, diz a empresária, que atua no ramo dos cosméticos para cabelo crespo na cidade. E foram justamente os cachos de Carolina que fizeram dela uma referência de autoestima na internet, onde a garota ficou conhecida após a mãe postar um vídeo em que a filha enaltece o cabelo afro, explica para os colegas de escola que as madeixas não “são duras” e conta que ela gosta do estilo “pra cima, volumoso”.

A publicação teve mais de 150 mil visualizações no Youtube, e a página da menina no Facebook teve 1.489 curtidas até o fechamento desta edição.

Discriminação

A valorização da cultura afro na família foi reforçada há dois anos, quando a garota começou a chegar em casa relatando que os colegas de classe falavam mal do cabelo dela. “Os livros também são os meus grandes aliados, e faço muitas fotos da Carol, para que ela possa se reconhecer”, comenta a mãe.

Patrícia explica que, quando era criança, não aprendeu com os pais a se defender de críticas como as que a Carol recebe. “Por isso, faço o contrário com ela. Trago todas as referências da cultura negra para dentro de casa”, comenta a empresária. A mulher diz entender que crianças fiquem curiosas com o cabelo da filha, mas percebe maldade na maioria dos comentários.

Para a psicóloga Karine Lacerda, especialista em terapia familiar, a ênfase nos valores feita por Patrícia foi essencial na formação da autoestima da menina. “A Carolina sabe que é bonita. A mãe, que tem importância afetiva para ela, transmitiu isso para a menina. Portanto, a opinião de outras pessoas que não têm a mesma importância afetiva não interessa a ela. Pais que demonstram afeto e admiração desde a primeira infância criam filhos confiantes”, finaliza. 

Tipificação do crime

- A injúria racial é ofensa contra honra ou sentimento que alguém tem de si próprio, segundo o Artigo 140 do Código Penal. “O infrator está sujeito a pena de um a três anos de reclusão e multa”, diz Leonardo Yarochewsky, professor de direito da PUC Minas. 

- Já o racismo é uma conduta discriminatória voltada a grupo específico, conforme a Lei 7.716 (1989). O crime é inafiançável, explica Yarochewsky.

Entrevista

Carolina Monteiro, 8 anos

O que você diz a crianças que criticam seu cabelo?
Digo que ele é bom e bonito, e não é duro.

Que recado você daria para outras crianças que também já ouviram comentários que a desagradaram?
Falaria para elas gostarem delas mesmas, do próprio cabelo e da cor da pele que elas têm.

Sua vida mudou após a publicação do vídeo?
Fiquei conhecida, muita gente me para na rua. 

 

Veja os vídeos de Carolina:

 

 

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