Leucemia

Modelo de luta contra a doença 

Sem parentes compatíveis, Bruninho, 4, resiste enquanto busca doadores de medula

Qua, 04/03/15 - 03h00

As expectativas para uma vida cheia de aventuras e novidades são muito grandes. A primeira delas é para a semana que vem: comer a lasanha da mamãe quando voltar para casa. A segunda delas é para depois da cura: fazer aulas de capoeira, natação e jogar futebol. Assim segue o planejamento do pequeno Bruno Fernandes Lima, que com apenas 4 anos e 5 meses, já tem traços de super-herói. Ele luta contra a leucemia há dois anos e, atualmente, está internado aguardando um doador de medula óssea.

Mesmo sem entender a gravidade da doença, ele reage como um homenzinho, e a coragem é invejável. No dia em que foi internado, no mês passado, ao saber da notícia, seu comportamento impressionou os familiares. Para o pai, ele disse: “Vamos logo. Já que é para ir, vamos”. “Ele surpreendeu a todos, é superconsciente”, conta o pai, Cristiano Figueiredo Lima, 35.

Nenhum dos parentes é compatível, e para buscar um doador, a família recorre a uma campanha em diversas redes sociais e por meio de amigos. O administrador Rodrigo Santos, 31, que é primo da criança, revela que toda a família abraçou a campanha. “O nosso foco é o Bruno, mas pensamos que qualquer um desses doadores pode ser compatível com outro paciente”. Para pedir ajuda, a família criou a página “heroiparabruninho”, que conta a história do menino no Facebook.

Redome. A principal preocupação da família é a restrição do Registro Nacional de Doadores de Medula Óssea (Redome). “Há um limite anual no número de exames financiados pelo Ministério da Saúde. No ano passado, por exemplo, em outubro já não era mais possível fazer o exame em Minas. Estamos mobilizando muita gente, na esperança de achar um doador, mas essas pessoas precisam entrar no cadastro”, revela o pai.

Atualmente, de acordo com o Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (Inca), são 3,5 milhões de doadores em todo o país, e isso coloca em mais de 80% as chances de um paciente encontrar um doador.

O instituto informa que ao analisar uma população, é possível avaliar frequências genéticas, grupos étnicos, naturalidade, nacionalidade, dentre outros dados que podem orientar o planejamento do registro. Cada exame custa aos cofres públicos R$ 375. Apenas em 2011 – quando houve um aumento significativo nos voluntários –, foi investido R$ 262 milhões. Já com os transplantes, o investimento foi de R$ 141 milhões.

De acordo com o hematologista e coordenador de transplantes do hospital Luxemburgo, Evandro Maranhão Fagundes, essa metodologia está correta, mas isso não quer dizer que já se esgotaram as possibilidades. “Considerando que o número de pessoas cadastradas aumentou, a probabilidade de se encontrar um doador fica muito alta. Aí, do ponto de vista de saúde pública, passa a não ter custo efetivo ficar fazendo exames que não aumentam significativamente a probabilidade de encontrar novos doadores”, explica.

Entenda como funciona

Cadastro. Após o diagnóstico, o médico inscreve o paciente no Registro Nacional de Receptores de Medula Óssea e começa a busca junto aos doadores cadastrados.

Exames. O possível doador é convocado a fazer testes e avaliação clínica. A retirada é feita em hospital habilitado. Como as células se recompõem, a pessoa pode doar a medula várias vezes.
0 Compatibilidade. Doador e paciente precisam ter a mesma sequência de antígenos, uma espécie de identidade genética – daí a dificuldade de não familiares serem compatíveis.

Dados

Cadastros. Conforme a Hemominas, em Minas Gerais há atualmente 401.390 pessoas cadastradas para doar medula óssea. A meta anual do Estado é alcançar 30,8 mil novos doadores.

Oito cirurgias a cada mês

De acordo com dados do Inca, há 70 centros para transplante de medula óssea e 26 para doadores não-aparentados no país. A média é de oito transplantes por mês, apenas dois deles por meio de doações fora da família primária.

Segundo o hematologista Evandro Fagundes, a compatibilidade é mais frequente entre pai, mãe e irmãos – caso esse em que a chance é de até 30%. “Estes números podem variar de acordo com raça e etnia, por exemplo”, alerta.

Esperança

O bebê Pedrinho, 1, que mobilizou as redes sociais nos últimos meses, foi submetido à cirurgia de transplante de intestino delgado. A operação custou R$ 2 milhões e foi realizada na noite de segunda-feira, no Jackson Memorial Hospital, em Miami, nos Estados Unidos. A mãe Aline Libração da Lavra, 35, obteve o recurso por meio de uma campanha no Facebook. Ele nasceu com uma doença rara chamada síndrome do intestino curto. Seu intestino tinha apenas 12 centímetros, enquanto que o normal seria dois metros.

---

O TEMPO reforça o compromisso com o jornalismo mineiro, profissional e de qualidade. Nossa redação produz diariamente informação responsável e que você pode confiar.

Siga O TEMPO no Facebook, no Twitter e no Instagram. Ajude a aumentar a nossa comunidade.